sexta-feira, agosto 30, 2013

O Perdão e a Física Quântica



As relações humanas são sem dúvida a coisa mais complexa do mundo. Pior que física quântica!

Aproximamo-nos e afastamo-nos de alguém, muitas vezes sem saber o porquê. Por vezes existe afastamento voluntário quando alguém nos magoa, doutras vezes é inconsciente e quando damos por isso já não é a mesma coisa.

Porque nós mudámos? Porque o outro mudou? Porque ambos somos os mesmos, mas interveio inesperadamente uma terceira pessoa que envenenou a relação? Porque as circunstâncias mudaram? Porque mudou o círculo de amigos? Porque já não olhamos para a pessoa com os mesmos olhos? Existem “infinitos mil” de razões.

Por vezes continuamos a amar a pessoa, à nossa maneira, mas já nada será como dantes. E não me refiro simplesmente às relações entre casais, mas a todas as relações de amor em qualquer dos formatos ou cores com que somos presenteados durante esta nossa caminhada. Somos marionetas de uma peça de teatro maior do que a nossa vida, porque penetrante na vida dos outros e impossível de se circunscrever ao nosso princípio, meio e fim. O que hoje é,  amanhã já não é. E curiosamente o maldito tempo não perdoa, mas segundo dizem, tudo cura. Dizem.....  

Quem não conhece a angústia raivosa de ter de deixar de falar a alguém que um dia entitulámos de “melhor amigo” ? 

 Há quem diga que não está nem aí, que essa pessoa faz falta como a fome. Mas será assim tão fácil?

Confesso que preciso de uma força estóica, algumas horas de solidão, uns quantos cigarros e muito anos decorridos para esquecer quem já gostei, mesmo quando esse alguém me desilude em grande. Gostaria de ter esse controlo e não permitir que quem fez parte da minha vida, deixe de fazer.

Um rewind de vez em quando para mudar o final de uma amizade mal acabada permitia com certeza que fizéssemos as coisas de outra forma. Situações que nos aparecem aos 15 anos não as resolveríamos com a mesma inocência ou leviandade se fossemos confrontados com elas apenas aos 30 ou aos 50. Haveria maturidade para aceitar uns quantos pedidos de desculpa e para fazer outros tantos. Ou talvez não!

 Naquele programa do Daniel Oliveira, na parte do “deve um pedido de desculpas a alguém?” ou “alguém lhe deve um pedido de desculpas?” estou convicta de que ninguém poderá responder sinceramente a ambas perguntas com um simples NÃO. Não me lixem, ninguém é assim tão perfeito. Até Cristo, que alegadamente nunca pecou, precisou de pedir perdão. Pode é já não haver vontade de reatar a amizade (até porque dá muito trabalho) e acabar por se preferir abdicar dessa pessoa do que engolir o orgulho e tentar resolver as coisas a bem.

E assumo desde já a minha quota-parte de culpa. Também já tive a incapacidade de voltar atrás e tentar resolver as coisas de outra forma, também já bati com a porta e excluí definitivamente da minha vida pessoas que faziam parte do meu mundo mais primitivo e intrínseco!

Mas fica-me sempre um sabor agridoce! Circunda-me o cérebro, e por vezes inunda-me o coração em forma de remorso, aquela ideia de que poderia ter havido outro desfecho que não a ruptura definitiva, abrupta e involuntária. E isso irrita-me profundamente!

Tal qual uma crise hemorroidária que aparece sem como nem porquê e nos dói que se farta, para depois desaparecer por uns tempos, deixar de se sentir e de doer, mas que vai na volta torna a aparecer e nós pensamos “mau, já cá estás outra vez? O que foi que eu fiz agora?”. Tal como a chata e dolorosa hemorróida, o remorso está sempre lá, vive sempre connosco, só deixa de doer por uns tempos, mais nada.

 Pior ainda, quando a crise está no seu apogeu, convenço-me de que um dia tudo se há-de resolver. É quando entra o meu lado mais cinéfilo e acabo a sonhar com um happy-ending ao bom estilo americano:
- “Sai um comovente pedido de desculpas e um “foram amigos para sempre” para a menina baixinha e roliça ali do canto, ó faxavor!”
Aí fico irritada ao ponto de me apetecer dar um estalo a mim mesma,  ou de olhar para o espelho e dizer para o meu alter-ego-pseudo-racional “És mesma parva! Borrifa-te nisso pá, o que não falta pr’ai é gente que te estima e merece a tua atenção”. Mas a filha da mãe da hemorróida, vai na volta e está cá outra vez! Dasse....
É ou não é pior que física quântica?

quinta-feira, agosto 29, 2013

A Limonada da Vida



Cubos de gelo até cima, pretende-se bem geladinha. Bastam dois limões e uma pitada de açúcar para desfrutar de um momento de frescura. Música ambiente, pode ser Sade no volume certo, pés para cima e olhos fechados. 

As passas não deviam ser só 12. Devíamos ter no mínimo uma de sobra para pedirmos coisas que nunca nos lembramos de pedir em véspera de ano novo, coisas que não se apalpam. Há lá coisa melhor, arrepio na espinha! Que boa que está esta limonada! 

Devia fazer disto mais vezes, devia quebrar mais vezes com a rotina, saborear mais limonadas, respirar mais músicas, trocar de emprego, pegar na mochila e dar volta de onde ia a pé para a escola, até ao fim do mundo. 

Há sempre uma repreensão social quando alguém faz o que lhe dá na real gana. Faz sentido que vivamos a vida dos outros ou a nossa?  - "Não faças isso! Olha que dás cabo da tua vida. Já pensaste no desgosto que darás aos teus pais? Olha que vais ser falada! É mesmo isso que queres fazer da tua vida?"

 Eu sei lá o que quero para a minha vida, mas tenho uma explosão de harmonia e ainda nem sequer entraram os violinos. Tenho de pensar nisso já? Tenho 37 anos, bolas! Tenho uma vontade que ultrapassa os limites da racionalidade! Ganas de viver!

Não me apetece decidir já o que quero ser pró resto da minha vida. Olha, pensando bem não quero ser nada! Quero estar, comer com os olhos, respirar com o coração, sentir com a boca, absorver o que o mundo tem para me dar. Quero ser eu e o outro, num mundo virado às avessas, a limonada da vida e um local afável, acolhedor e familiar.

Compreendem o quanto isto faz sentido? Faz pois! Toda a comida precisa de uma pitada de sal, toda a vida precisa de um toque de limonda, de refreshment, de começar tudo do nada, sem necessariamente ir onde as nuvens dançam sem que as cobras se mantenham no deserto

Bem sei, pareço louca! Caso para internamento urgente, um verdadeiro case study. O que diria Freud acerca disto? Sem me querer gabar, arriscaria dizer que certamente seria um bom exemplo para uma qualquer das teorias freudianas. Estarei sempre pronta para me levar a qualquer parte do mundo, as passas não deviam ser só 12, mais a explosão de harmonia e ainda nem sequer entraram os violinos

A vida só termina quando acabar, até lá tudo é limonada!