sexta-feira, outubro 31, 2014

O senhor, com todo o respeito, é uma besta!

Ainda não estou em mim depois do artigo que li esta manhã, por isso vou ali respirar fundo e já volto.  Não vou nada, vai mesmo assim de rajada!

Senhor José António Saraiva, director do Semanário Sol, o senhor não me vai ler, mas seja como for aqui vai.

Na sua opinião, o facto de as mulheres terem começado a trabalhar perturbou o equilíbrio de toda uma sociedade matriarcal: os divórcios multiplicam-se, os jovens já não se casam, temos filhos de mães e pais diferentes e crianças infelizes, e daqui até ao consumo de drogas e ao suicídio é um pulinho.

O senhor, com todo o respeito, é uma besta! Mas não o digo de ânimo leve, explico porquê!

Passo a citar o seu artigo:
" as mulheres chegam a casa estafadas ao fim do dia de trabalho, não tendo paciência para os filhos nem para fazer nada. Muitos maridos protestam- e elas reclamam com eles por não ajudarem. Só que os homens resistem, pois nunca viram os seus pais dividir as tarefas caseiras. O mal-estar no casal instala-se".

"as mulheres preocupam-se mais com as carreiras do que com a família"

"as mulheres conversam mais tempo com alguns colegas do que com os maridos"

"A casa fica vazia o dia inteiro". Estava a pensar comprar um cão para lhe fazer companhia, mas o mais certo era ser mais uma tarefa a somar às centenas das quais me ocupo.

"as tarefas ficam por fazer". Só se for na sua casa, porque na minha não ficam.

Todas as manhãs sou a primeira a acordar, preparo pequenos-almoços e lanches para a escola, tiro a loiça do jantar da máquina e arrumo a suja do pequeno almoço, tiro do congelador o que destino para o jantar, faço a cama (os miúdos fazem as deles), arranjo-me para sair e vou trabalhar.

À tarde vou buscar a filha à escola, levo-a às actividades e volto para o trabalho (felizmente tenho um que me permite fazê-lo), e tento chegar a casa a tempo de fazer o jantar.

Normalmente é um dos miúdos a pôr a mesa, a não ser que tenham muito para estudar. Não faço intenções de criar miúdos habituados a que sejam as mães ou as empregadas a fazer-lhes tudo!

Janto com a minha família, arrumo a cozinha (aliás, arrumamos todos, cada um trata do seu prato), vejo se há roupa para lavar, estendo e/ou apanho roupa do estendal enquanto a criançada prepara a suas roupas e mochilas para o dia seguinte.

Deito os miúdos e começo a planear o dia de amanhã. Quando me deito tento ler um pouco, mas o cansaço nem sempre permite.

Sempre que posso estudo com os miúdos, sem bem que os professores pedem para que os deixemos estudar sozinhos.

As compras no supermercado são responsabilidade do pai. Tento que os meus filhos vejam os pais a dividir tarefas, para que o ciclo (a desculpa referida por si) não se repita.

Não deixo a minha família para último lugar, nem perco tempo com conversas infrutíferas. Gosto do meu trabalho e de ter uma ocupação que não seja só passar a ferro e mudar fraldas. Gosto sobretudo da minha independência financeira, de ganhar para mim, de não precisar do marido para comprar um par de cuecas.

Há tempo para tudo. Basta querer, basta que toda a familia queira! E para isso é preciso educar a família. Dá trabalho, mas vale a pena.

O problema não está no facto de as mulheres terem abandonado as tarefas domésticas, o problema reside no facto de os homens não se terem apercebido que essas mesmas tarefas são de ambos. O facto de as mulheres saírem para trabalhar, implica que os homens têm de colaborar mais em casa. E foi isso que vocês ainda não atingiram, ou preferem não atingir (por vezes gostam de se fazer de parvos. Dá um jeito danado!)

Não queremos ser homens, digníssimo senhor, nem ser tratadas como tal. Podemos e devemos contribuir para o crescimento da nossa economia, contribuir para o futuro do nosso país e do mundo, pois temos inteligência e capacidades para tal. E não é a ficar em casa que isso vai acontecer.

Há uns meses fui à China em trabalho. Os meus filhos ficaram bem entregues e orgulhosos da aventura da mãe. Não viraram delinquentes pelo facto de, por uns dias, eu não estar lá para os deitar. Pelo contrário, tiveram o exemplo de que quando nos surge uma oportunidade devemos aproveitá-la, quando nos surge um desafio há que aceitá-lo de braços abertos.

Não tenho a mais pequena dúvida de que contribuí muito mais para a educação, personalidade e carácter dos meus filhos pelo simples facto de ter ido, do que ficando em casa a verificar se fizeram os TPC.

No final, dando uma de psicologia barata, o senhor ainda nos pergunta se somos felizes. Da minha parte digo-lhe sem medos: Sou sim, obrigada! "Duplamente explorada", mas feliz e realizada.

No auge dos seus 65/6 anos, sugiro que se reforme e vá para casa. Sabe, os avós podem ter (se quiserem) um papel fundamental nestas "novas famílias", e contribuir amplamente para a harmonia que o senhor pretende. Acho que é lá que o senhor está a fazer falta. O Semanário Sol e o país tinham muito a ganhar com essa sua decisão!

(Para quem se quiser dar ao trabalho de ler Link para o artigo mencionado)






quarta-feira, outubro 29, 2014

"Então mas é só isto? Onde é que estão os piropos ofensivos e badalhocos?"


Anda por aí um vídeo que se tornou viral (tendo já mais de 5 422 672 visualizações), porque a protagonista recebeu mais de cem assédios verbais e assobios, limitando-se a passear na rua de jeans e t-shirt.
Este aqui

Eu não queria falar deste tema dos piropos novamente, mas como não gosto de exageros (a não ser quando vou aos restaurantes e as doses são bem servidas), obrigam-me a vir aqui mexer na ferida.

Os comentários escandalosos, motivadores de tanta celeuma, retratados no referido vídeo são coisas como isto:

"How you doing today?" 
"Smile!"
"What´s up beautiful? Have a good day"
"Somebody´s acknowledging you for being beautiful, you should say thank you more!"
"God bless you"
"Hey baby"
"Hey beautiful"
"How are you doing this morning?"
"Have a nice evening"
"Hey sweetie"

e para mim a melhor de todas "Hey look it there, i just saw a thousand dollars". Epá isto é do melhor! Isto é uma delícia.

Cheguei ao fim e perguntei a mim mesma "Então mas é só isto? Onde é que estão os piropos ofensivos e badalhocos?"

Ok, uma mulher deveria ter o direito a andar na rua sem ser importunada ou abordada, mas bolas, em lado algum eu ouvi uma ofensa efectivamente digna desse nome.

Estes senhores são uns gentlemen comparado com aquilo que uma mulher é obrigada a ouvir aqui neste paraíso à beira-mar plantado. Agora nem tanto, porque o sector da construção civil está parado e os senhores das obras ficam em casa ou então já emigraram, mas aqui há uns anos... Ou será que sou eu que já estou a ficar velha? Se calhar é isso!

O vídeo termina com um apelo para contribuir com donativos para a Hollaback (" a non profit dedicated to ending street harassment")!
Estou a pensar seriamente em desviar as quantias que tenho no KIVA, ou em levantar aquele depósito esquecido no Banco Mau, para me dedicar exclusivamente a esta causa!

Tenham juízo, pá!





domingo, outubro 26, 2014

Preferia mil vezes continuar chateada contigo!

Não, ouve-me! Isto não tem nada a ver connosco, nem com a nossa história.

Vamos esquecer que, apesar da diferença de idades, já fomos best friends, no tempo em que eu imitava a tua forma de vestir e experimentava as tuas roupas, que adorava o teu cabelo louro comprido, que me pegaste a febre do Elvis, que berrámos canções no teu BMW vermelho de capota aberta, que gravava telediscos para tu veres no fim-de-semana. A esse capítulo eu chamo "Quem me dera ser tu".

Vamos esquecer que a tua filha foi a minha "primeira" filha desde o momento em que a vi, e que tratar dela foi das coisas mais maravilhosas que me proporcionaste. A esse capítulo eu chamo "Tempos de Paz".

Vamos esquecer essencialmente aquilo que temos sido até hoje! Não importa as desavenças, o que já discutímos, que batemos com a porta e nada mais foi como antes. Não importa que tenhamos seguido caminhos opostos, e que eu te tivesse à distância. A esse capítulo eu chamo "Vidas Separadas".

A vida, tal como um livro, tem vários capítulos: tem princípio, meio e fim! E isto ainda vai a meio, bolas!

Dizem que por vezes as coisas más vêm ter connosco para que possamos resolver outros assuntos, que há males que vêm por bem, que é nas tragédias que as pessoas se unem. Foda-se, que se lixem os outros assuntos! Preferia mil vezes continuar chateada contigo a resolver as coisas desta forma. Era sinal que estavas bem!

Não, este momento é sobre ti e sobre o que há a fazer! A este capítulo vamos chamar "e tudo fica bem quando acaba bem" ou " depois da tempestade vem a bonança".

Melhor ainda, fazemos assim: este capítulo vais escrevê-lo tu, boa? Para isso tens de respirar fundo, ganhar fôlego e preparar-te para o que der e vier!

E vais dar o teu melhor, não vais?  Promete-me, please!

sexta-feira, outubro 24, 2014

E a LIMONADA recebeu um LIEBSTER AWARD




Comentário de ontem no BLOG da LIMONADA:
"Descobri este blog há uns tempos e tenho vindo cá regularmente pois gosto bastante da tua escrita. Como tal, nomeei-te para o Liebster Award" Assinado A cavalo num burro

E perguntam vocês, o que é o Liebster Award?
Pois, eu também não sabia, mas fiquei a saber quando a Fifi do acavalonumburro me nomeou. Blog que tenho acompanhado há algum tempo, não fazendo a mínima ideia que a referida autora também me seguia.  

O Liebster Award é uma forma de dar a conhecer blogs com menos de 200 seguidores, como a Limonada.

Sendo nomeados, temos que responder às perguntas que nos colocaram, nomear outros blogs, identificá-los e dar-lhes perguntas para responder. Uma espécie de passagem de testemunho.

E as perguntas que o acavalonumburro me colocou são:
1) Como te defines enquanto pessoa e blogger?
Meu deus, como é que se responde a isto? Eu sou a pior pessoa para falar de mim como pessoa... mas, aqui vai!
Esforço-me para ser uma filha agradecida, uma mãe atenta, uma mulher interessante e interessada, uma amiga disponível, uma profissional dedicada.
Como blogger escrevo aquilo que me apetece e me dá na real gana, até porque não sei quem está do outro lado e é impossível agradar a gregos e troianos. 


2) Porque é que tens um blog?
Escrevinhava umas coisas já desde os tempos de faculdade, mas sempre achei que não tinha nada de relevante para dizer ao mundo. 
No ano passado fiz um mini curso de escrita criativa com Pedro Sena Lino e descobri que afinal tinha umas coisas para dizer e que havia pelo menos três ou quatro pessoas no mundo que gostavam de me ler. 
Para além disso, com a maturidade veio o atrevimento e uma vontade incontornável de partilhar arrelias, sentimentos, certezas e incertezas de uma forma quase terapêutica.


3) Qual é o ponto forte do teu blog?
Sinceridade.

4) Quais são os temas que mais te interessam e inspiram?
Tento escrever, quando me dá prazer e não por obrigação, sobre aquilo que agita o meu dia-a dia e mexe com as minhas entranhas: as relações com quem me circunda, os desafios de criar um filho, as memórias de infância, a família, as coisas que gosto e não gosto, revelando inevitavelmente uma parte de mim.

5) O que mais aprecias noutros blogs?
Que sejam diferentes do meu, que me façam dizer  "como é que eu não pensei nisto", que me surpreeendam e sobretudo que me façam rir.

6) Tens algum/s blog/s de referência?
Nenhum que gostasse de salientar em particular. Gosto de vários, por motivos diferentes. Não tenho uma Bíblia dos Blogs, ou se calhar ainda não a descobri. Se descobrir, prometo que aviso!

7) O que é que achas que é preciso para um blog ter sucesso?
Ter pessoas que o leiam, que o visitem com regularidade! Para tal, há que manter alguma cadência, uma constância interessante o suficiente para "agarrar" quem nos encontra.

8) Como gostavas que estivesse o teu blog daqui a 2 anos?
Carregadinho de comentários, críticas e sugestões.

9) O que achaste do blog que te nomeou?
Já me surpreendeu e me fez rir alguma vezes. 

Blogues nomeados (com menos de 200 seguidores)

As perguntas para os nomeados são:

1) O que mais te orgulhas de ter feito na vida?

2) Porque te lançaste nesta aventura de ter um blogue?

3) Já alguma vez te arrependeste e achaste que era melhor ter ficado sossegado? 

4) Com que frequência escreves e porquê?

5) Lista 5 coisas que gostas.                                                            

6) Lista 5 coisas que não gostas.

7) O que não gostas de ver reflectido noutros blogues?

8)  De que temas te recusas a falar/comentar/postar?

9) O que dizem os teus olhos? (Brincadeira, lol) O que achas do blogue que te nomeou?



Algumas regras a seguir pelos bloguers nomeados:
Responder a todas as perguntas;
Referir o link do blog que te nomeou;
Nomear entre 5 a 10 blogs com menos de 200 seguidores;
Obrigatório informar os blogs da nomeação;
Fornecer aos blogs nomeados o link para a publicação em causa (para que lhes seja explicado o que devem fazer).





terça-feira, outubro 14, 2014

Parabéns a nós, mano!

Esta coisa de fazer anos no mesmo dia de um irmão tem muito que se lhe diga.

Para começar os meus pais têm uma pontaria desgraçada, Sim, porque fazer gémeos é uma questão de genética e hereditariedade, agora ter a habilidade de acertar na mesma data ao fim seis anos é digno do Lucky Luke.

Desde cedo aprendi a partilhar. Não só porque lá em casa éramos 4 filhos e sempre nos foi incutida a partilha de roupas e livros, mas porque tive o enorme prazer de partilhar com o meu irmão o quarto e o aniversário (o dia que normalmente as crianças têm na ideia como o seu dia). Eu adorava!

Não, nunca quis um quarto só para mim, nunca precisei desse espaço. Sempre foi muito mais divertido adormecer à conversa com ele, a ouvir o "Oceano Pacífico", a partilhar as aventuras e desventuras da escola, dos namoros, dos sonhos para o futuro, a viajar na maionese... Quando o outro já não dava resposta, é porque tinha adormecido.

Cedo descobrimos uma enorme cumplicidade, cedo fomos mais do que simples irmãos, fomos grandes amigos e partilhadores de experiências.

Era frequente entrar no quarto e ele estar a "arranhar" qualquer coisa à guitarra, e quando me via dizia-me "conheces esta?". Só descansava quando os trabalhos da escola assim o exigiam, ou quando efectivamente a música estava "sacada" na íntegra. Quando isso acontecia, chamava-me " anda cá, tu cantas enquanto eu toco, que tu sabes a letra" e estávamos horas naquilo. Tínhamos uma versão só nossa do "Sweet Child of Mine" dos Guns and Roses. Era brutal!

Recordo, com um sorriso na alma, o dia em que acordei com o enorme estrondo da porta do roupeiro, olho para o lado e a cama dele está vazia, levanto-me e, espreitando entre a cama e o roupeiro, vejo-o deitado no chão, a dormir. Foi provavelmente das maiores gargalhadas que já dei na minha vida.

Lembro-me igualmente do dia, no recreio da escola, em que me vieram dizer "epá, vai ali ao campo da bola que o teu irmão está a dar espectáculo".  Dirigi-me ao campo da bola, e lá estava ele, à guitarra, a tocar "More than words" dos Extreme, rodeado de miúdos a graúdos que aplaudiam e cantavam com ele. Devia ter uns dez anos e eu dezasseis... tive um orgulho danado! Só não chorei com vergonha dos colegas. Sempre teve um jeitão para a música, o sacana do miúdo! (Já eu tive lições de órgão e não ligava nenhuma àquilo, se arrependimento matasse...)

Ou do dia em que entro o portão do colégio e me dizem que o meu irmão está na enfermaria, pois tinha sido empurrado de um muro pelos colegas. Com o lábio superior todo rebentado, assim que me vê desata num choro, e abraça-me na procura de um conforto que normalmente procuramos no colo da nossa mãe.

Ainda hoje é frequente nos telefonarmos e o outro dizer "bolas, estava a pensar em ti". Ainda hoje, mesmo à distância, parece que sentimos que o outro não está bem. Ainda hoje partilhamos escritas e músicas, gostos e desejos.

Todos os anos à meia-noite da véspera do nosso aniversário nos telefonamos, para darmos os parabéns um ao outro. Todos os anos sinto que não é o meu dia, mas o nosso dia.

Este ano foi ainda mais especial! Ao fim de cerca de dez anos, conseguimos juntar-nos ao jantar e fazermos a festa juntos (o que nem sempre é possível dada a distância geográfica que nos separa). Talvez por isso, este ano bateu-me a nostalgia da infância e adolescência que partilhámos e umas saudades tremendas daqueles tempos.

Por isso, digo com frequência aos meus filhos e sobrinhos, apesar de terem um quarto cada um, quando vos apetecer durmam juntos, conversem muito, partilhem o que são e o que gostariam de ser! Não há tempo que passe nem memórias distantes que vos tire o prazer desses momentos!

LOVE YA BROTHA!




segunda-feira, outubro 13, 2014

Short Story - A vida é como um trapézio sem rede

(Nota: Ao contrário da maioria dos textos deste blog que relatam experiências e vivências da autora, o texto que se segue é puramente ficcional.)


O Verão ainda cheira à minha avó. Era sempre na casa de campo da avó Catarina que eu passava as férias de Verão. 

Apesar de viver numa casa isolada, a cerca de 20 km da aldeia mais próxima, a avó gostava de se arranjar como se estivesse à espera de visita: saia travada, camisa de seda, casaco de malha.

A avó já há muito que não trabalhava e, por isso entretinha-se a encher-me a barriga de mimos. Bem cedo, na cozinha cheirava a pão quente e café acabadinho de fazer. A jarra que a minha mãe lhe ofereceu por alturas de um aniversário, compunha a mesa do pequeno-almoço com malmequeres e papoilas acabadas de colher no jardim em frente ao alpendre.

Lembro-me que o cheiro a jasmim vinha essencialmente do seu carrapito enrolado com perícia, grisalho, outrora cor de terra. O rosto rugoso mas saudável, próprio dos seus estimados oitenta anos, era de sorriso fácil. A aguadilha dos olhos grandes e verdes escondia-se por detrás dos óculos minúsculos assentes na ponta de um nariz arrebitado. Dos lábios finos e bem definidos, apesar de antediluvianos, saía uma voz bondosa e humilde mas activa, de cada vez que me contava uma história ao deitar.

Os passos eram curtos mas convictos, passos de quem caminha de cabeça erguida. Sempre lhe admirei a aliança apertada nos dedos curtos e roliços. A avó enviuvou cedo, mas nunca permitiu entregar-se aos devaneios de uma nova paixão. Fez o avô feliz durante toda uma vida e isso para si era o bastante. 
- “52 anos de vida que partilhei com o teu avô. O truque está em fazê-lo acreditar que é ele quem manda”, dizia-me. 

E deixava-me sempre num mutismo hilariante quando acrescentava enigmas como “A vida não é aquilo que queremos, mas devemos vivê-la com a imaginamos”.

Hoje, no regresso do funeral da avó, precisei de voltar à sua casa, de me recolher nos seus pertences. Talvez agora, com a sua partida, conseguisse finalmente entrar no misterioso sótão de sua casa. Durante alguns segundos ponderei se deveria invadir aquele espaço. 

Na infância, sempre que nas férias de verão eu e o primo João nos juntávamos na casa da avó, tínhamos ideias assustadoras e alucinantes acerca do que ela guardaria naquele espaço sombrio e proibido. Tantas vezes tentámos que um distraísse a avó enquanto o outro procurava a chave, mas o ranger do soalho nos denunciou e por pouco não apanhámos uma valente vassourada.

A minha indecisão durou apenas segundos, pois a curiosidade era avassaladora, e eu precisava mais do que nunca de sentir o seu cheiro, de estar perto do que era seu… Entrei!

Nada tinha de sombrio. Tinha uma janela, a luz era fecunda e quente. Não era um sótão vulgar nem poeirento, como seria de julgar. Estava limpo, arrumado, e os pertences da avó encaixotados ordenadamente como se soubesse que iria morrer no dia seguinte e não quisesse dar o trabalho a ninguém de o arrumar. 

Sentia no ar o seu perfume, como se ainda ontem a avó ali tivesse estado. Nos meandros das memórias da avó uma edição de poemas de Fernando Pessoa. Folheei-o: apontamentos, notas, frases sublinhadas, textos lidos e relidos. A avó adorava Pessoa, e fazia questão de o partilhar comigo como se fossem palavras sagradas.

Numa caixa pequena, enlaçada por uma fita de veludo escarlate, um velho álbum de fotografias da avó, do avô e da minha mãe com apenas alguns meses de vida. No meio de duas páginas, um retrato solto, diferente dos demais, retalhado e amarelado pelo tempo e nele, um soldado…um desconhecido de uniforme. Nas costas da foto estava escrito: “Will be back as soon as this insane war is over. Forever yours, Henry”.

Não demorei muito a perceber que a figura daquela foto teria sido alguém importante na vida da avó. Mas quem seria?

Sabia que a avó tinha vivido uns anos em Londres, quando o seu pai aceitou um lugar na embaixada de Portugal, teria ela apenas três anos. Sabia que o meu apelido Murray era fruto do seu casamento com o avô Peter. Sabia que os conhecimentos da língua adquiridos por terras de sua majestade lhe permitiram leccionar inglês anos mais tarde quando se refugiou da guerra em Portugal. Mas quem seria este Henry? Algum tio-avô de quem nunca ouvi falar?

Para além da intrigante foto, dentro de um pequeno baú estava um mapa, rotas percorridas traçadas a vermelho e vários bilhetes de comboio obliterados. Era-me difícil imaginar que a doce e pacata avó das minhas férias de verão na casa de campo tivesse percorrido a europa de comboio.

Não sei ao certo quanto tempo passei dentro daquele sótão, mas precisava de devorar de uma só vez toda a informação disponível, a história da vida de alguém que me foi tão próximo, e acerca de quem afinal pouco sabia.

Durante anos, tive a sensação de que havia algo mais acerca da avó Catarina, mais do que uma mulher apaixonada pela sua profissão, mais do que a esposa dedicada, mais do que a mãe preocupada, mais do que a avó extremamente carinhosa. Havia algo de misterioso e interessante, algo que eu não conseguia explicar por palavras, por vezes nem a mim mesmo. Era um certo borbulhar na barriga que se manifestava sempre que partilhava comigo uma das suas sábias epifanias “A vida é como um trapézio sem rede, passamos a vida a tentar não cair dos malabarismos que fazemos dela.” Eram estas expressões que me faziam catalogá-la de super-heroína: sem fato especial, sem super poderes, sem precisar de salvar o mundo, heroína apenas porque me inspirava.

A certa altura deparei-me com um envelope cujo remetente indicava Lucy Barnes e o destinatário Kathy Pais (Kathy diminutivo de Catarina, dirigida à minha avó, deduzi). “Talvez não devesse lê-la” pensei, mas o impulso foi mais forte do que a razão. Abri a carta e comecei a ler:

 “London, October, 9th, 1940,
Dear Kathy,
I miss you terribly. London has been the closest thing to hell since you´ve departed. This war is leading us to complete misery and desperation. Hope to find you both in good health, and that Portugal has received you with open arms. Unfortunatelly, we haven´t heard from Henry again, my dear. No letters, no news, not anything. I´m sure that Peter will take good care of you and the baby. Please write as soon as possible.
Affectionately.
Lucy Barnes”.

-Henry, novamente?! Preciso de saber mais sobre este homem, mas não me parece boa ideia envolver nisto a minha mãe, pelo menos por enquanto. 

Num instante voltei a guardar tudo o que tinha encontrado naquele sótão, arrumei o baú que agora me parecia mais pesado que nunca, peguei na caixa da fita escarlate e saí.

Lá fora chovia copiosamente ou como diria a avó “it was raining dogs and cats”. Sempre adorei os anglicismos que espontaneamente lhe surgiam nas conversas.

Dei uma corrida até ao carro e dirigi-me a casa. Assim que pus a chave à porta, apressei-me para o computador da sala. Tinha um nome (Lucy Barnes) e uma morada, nada mais. Teria de ser o bastante.

Umas duas horas de pesquisa na internet e uns quantos cigarros mais tarde, finalmente surge uma ligação para a dita morada e para o apelido Barnes no My heritage.com, e mais uma vez dei graças a Tim Berners-Lee pela World Wide Web.

“A esperança é o sonho do homem acordado”, e por isso decidi enviar um e-mail. Não tinha nada a perder. Apresentei-me como neto de Catarina Mello de Pais Murray, uma jovem portuguesa residente em Londres por alturas da II Grande Guerra. Perguntei se nessa família existia ou tinha existido alguém de nome Lucy Barnes que a pudesse conhecer. A resposta veio uma eternidade depois, mas com palavras de alento. Jessica Barnes, tinha uma avó Lucy Barnes, ainda viva, e que se recordava de uma amiga e colega de escola a quem chamava Kathy Pais.

Não sabia se tinha encontrado a pessoa certa, mas todos os meus sentidos me diziam que estava “on the right track”. Expliquei que a avó tinha morrido recentemente e que para mim era muito importante encontrar-me pessoalmente com Lucy. Desta vez a resposta foi quase imediata, curta e eficente: “Granny would be delighted”.

No fim-de-semana seguinte estava num avião a caminho de Londres, nervoso e expectante. Jessica teve a amabilidade de me ir buscar a Heathrow, e pelo que percebi estava tão empolgada quanto eu. Não sabia uma palavra de português, mas já tinha ouvido falar do nosso sol, das praias, da simpatia das pessoas, e também ela estava ansiosa por saber mais sobre aquela amiga de infância de que a sua avó tanto falava. Apesar dos seus 30 anos, Jessica tinha um ar menineiro e um sorriso abundante. Simpatizei imediatamente com ela, o que me deixou bastante descontraído e à vontade.

Lucy aguardava-me num longo sofá de tecido beige, com as pernas cobertas por uma manta enxadrezada e um tabuleiro de chá na mesa de apoio. Pediu-me que me sentasse a seu lado, abraçou-me o rosto com as duas mãos, fixou-me o olhar e disse-me “ you have your grandmother´s eyes. It is so nice to meet you, dear”. O seu cabelo era branco, cheio e suavemente ondulado como um floco de neve, o seu rosto era gentil e os gestos lentos.

Ofereceu-me uma chávena de chá e disse-me “ well dear, how can I be of assistance?” Mostrei-lhe a foto do homem de uniforme e num segundo os seus olhos tremeram e um sorriso escapuliu. Percebi imediatamente que o reconhecia, por isso perguntei-lhe afoitamente “Who is he? What was the relation between this soldier and my grandmother?”.

Lucy inspirou languidamente e lançou-me numa espiral de acontecimentos. O meu tempo parou. Na verdade, foi como se o mundo inteiro tivesse parado para escutar. Naquele momento nada era mais relevante do que as palavras de Lucy.

Através das suas saudosas palavras fiquei a saber que Lucy e a minha avó Catarina, tinham sido amigas de infância, as melhores amigas, e igualmente colegas de escola de Peter Murray (meu avô). Andavam sempre os três juntos partilhando sorrisos, brincadeiras, segredos, angústias. Eram inseparáveis. 

Naquele tempo, antes da guerra, visto serem de famílias abastadas e o pai de Kathy ser embaixador de Portugal em Londres, era frequente a presença de figuras da alta sociedade britânica em casa dos meus bisavós em festas de aniversário, bailes de solidariedade e angariação de fundos, etc.

Todavia, não era nessas “absolutely boring parties” que Kathy se sentia bem. O seu espírito rebelde era mais dado a conhecer o mundo de mochila às costas. Acabar os seus dias na opulência de um qualquer palácio londrino herdado da família, não era o destino que Kathy vislumbrasse. Ela queria construir o seu próprio futuro e não herdá-lo. Tinha sido criada num mundo de intelectualidade, cultura, de princípios e bons costumes, mas era demasiado independente para viver a vida a puxar de galões que não fossem os seus.

Foi por isso que, quando entrou para a faculdade, e contra a vontade dos pais, arranjou um emprego. Trabalhou num restaurante na Blackfriars Road e foi aí que conheceu Henry, um rapaz meigo e pouco dado a devaneios que se tornou cliente assíduo do restaurante assim que os seus olhos pousaram em Kathy. Era operário fabril e voluntário da Red Cross, para onde arrastou Kathy num piscar de olhos. Ele representava a liberdade que ela tanto ansiava.

Apesar de Kathy adorar Peter “with all her heart”, apesar de ao seu eterno e inseparável amigo dever horas sem fim de sorrisos e cumplicidade, esse amor era incomparável à paixão frenética e desmesurada que nutria por Henry.

Kathy viveu meses de euforia, até ao dia em que os seus pais tomaram conhecimento desse relacionamento. Não era este o príncipe a quem os seus pais queriam entregar a filha tecida nas malhas da fina flor britânica. Henry era o oposto de tudo o que tinha sido planeado para Kathy. A tensão em casa dos pais subiu de tom, pois não havia dia algum que Henry não fosse motivo de discussão. O ambiente tornou-se infernal.

Em 39 a guerra eclodiu e em Março do ano seguinte Henry foi chamado a combater. Duas semanas depois da sua partida para as linhas da frente, Kathy descobriu que estava grávida. Os seus pais insistiam para que abortasse ou que deixasse a casa de família, tamanha era a vergonha. A minha avó recusou-se. Aquela criança era a possibilidade de dar sentido e continuidade àquele amor incompreendido e rejeitado, era tudo o que lhe restava.

Todavia, de Henry nunca mais teve notícias, nunca chegando sequer a ter a oportunidade de partilhar a alegria pela vinda daquele filho. Independentemente disso, todos os lugares recônditos do seu ser lhe diziam que Henry iria voltar e que, quando isso acontecesse, ela e o bébé estariam à sua espera.

A 15 de Setembro de 1940 Londres foi alvo do bombardeamento mais aterrador de que há memória, 57 noites consecutivas de um autêntico inferno, e Kathy tinha agora um filho no ventre que desejava que vingasse, mais do que qualquer outra coisa na vida. Na casa dos seus pais há muito que não era bem-vinda. Tinha de partir para um lugar seguro.

A dupla nacionalidade de Kathy poderia ser a sua salvação nesse momento. Portugal tinha uma posição neutra na guerra e seria com certeza um óptimo refúgio. Lucy e Peter encarregar-se-iam de dizer a Henry onde ela se encontrava e, assim que a guerra terminasse, poderiam reencontrar-se.

No dia da sua partida, Peter surpreendeu tudo e todos dizendo que não podia deixar de a acompanhar. Apesar de habituada a viajar sozinha, esta não seria uma viagem de recreio, mas um novo começo num país que lhe era estranho e com a responsabilidade acrescida de estar prestes a dar vida a uma criança. Kathy respirou de alívio, a companhia de Peter era obviamente bem-vinda.

A 4 de Janeiro de 1941 nascia a minha mãe, os meus avós casaram no mesmo dia.

- Mas como? Porque é que a minha avó não esperou por Henry?


-“I´m afraid that was my fault, dear. We´d heard some rumours that Henry was missing in action, so I sent a letter to your grandmother telling her that Henry was killed. You see, it took great courage for Peter to take care of Kathy and the baby. He gave up his family, his job, his country, his life for her. He had always loved her. He would do anything to make her happy, and indeed he did.”

Fiquei em estado de choque! Como poderia Lucy tomar as rédeas dos destinos destas três pessoas? 
- “ They were about to become a family, the baby was coming soon, and they were happy in Portugal. If indeed Henry was still alive, he would only be in their way. I just could not bring myself to destroy Kathy and Peter´s future. It wasn´t fair!”

Lucy contou-me ainda que uns anos mais tarde se reencontrou com Henry. As únicas palavras que conseguiu proferir foi que Kathy o julgava morto e que tinha refeito a sua vida. Henry nunca soube que Kathy e Peter tinham casado, nem tão pouco soube que Kathy tinha dado à luz uma menina, a sua menina, minha mãe.
  
A decisão de Lucy tinha sido certamente a decisão mais dolorosa da sua vida.

Já de regresso a Portugal, deparei-me com um dilema semelhante. Dar ou não a conhecer à minha mãe tudo aquilo que acabara de descobrir: as suas origens, quem foi o seu verdadeiro pai…

Facilitou-me a tomada de decisão acreditar que o avô tinha sido o equilíbrio no trapézio da vida da minha avó. Em jeito de agradecimento, ela tenha vivido quase exclusivamente para o fazer feliz.

Por vezes a concretização suprema de uma vida está nos segredos que guardamos, naquilo que fica por dizer. 

Por vezes há pessoas que trazem beleza mesmo às coisas que não nasceram para ser belas.



quarta-feira, outubro 08, 2014

Há desafios mais importantes que outros! Participa!

Esta manhã tomei conhecimento da perda de uma pessoa conhecida para o cancro. A Cláudia Chaves residente em Albufeira, jovem, bonita, lourinha e de olho azul, sorridente, foi uma enorme lutadora, que de tudo fez para não se render ao maldito bicho. Vários foram os jantares e eventos de solidariedade que ocorreram junto da comunidade algarvia em prol dos tratamentos da Cláudia. Infelizmente, não resistiu.
Ontem partilhei um desafio na página de facebook do blogue, mas hoje depois de ter tomado conhecimento da morte da Cláudia decidi insistir no assunto.

A Associação SOS Oncológico( ver aqui página de facebook da associação) é uma unidade comunitária de cuidados paliativos no Algarve, como o objectivo de apoiar doentes oncológicos, ou outros que necessitem de cuidados paliativos.

Esta associação fará um aninho no próximo dia 27 de Fevereiro, e pretende comemorar essa data com várias iniciativas, nomeadamente uma Exposição de Fotos sob o tema "ROSTOS SOS" tendo em vista a angariação de fundos.

Assim sendo, durante o mês de Outubro (mês em que se celebra o mês internacional da prevenção do cancro da mama),  a fundação SOS Oncológico lança o desafio de doarmos uma fotografia de rosto, que passará a ser propriedade da SOS Oncológico e que fará parte do projecto "ROSTOS SOS".

O objectivo é angariar cerca de 365 rostos que possam fazer parte da exposição, revertendo o valor da venda para a Associação.

A explicação e o regulamento estão no site da Olhares, e podem consultar aqui.

Ora, de pouco serve falar/escrever/partilhar quando o importante é agir. Por isso, a Limonada participa neste desafio com a entrega deste rosto! 





Que renda muitos euros e que ajude muita gente, é o que mais desejo!

Vá lá, Participem! 
Fotógrafos profissionais ou amadores, os de todos os dias, os de de vez em quando, os das viagens, os de vão-de-escada, não interessa. O que importa é tentar.

Bem-hajam!







sexta-feira, outubro 03, 2014

Sapato alto é para Cinderelas!

Eh pá, não!

Já não basta todos os outros aspectos em que temos de concorrer com vocês, ainda vêm molhar o bico nas nossas cenas?

Usem brincos, pulseiras e anéis, cabelos compridos com madeixas, fitinhas e ganchos e elásticos (alguns até ficam bem giros e favorecidos), vão à manicure (o meu paizinho vai e tem as mãos mais bonitas que alguma vez vi!), o que quiserem... epá mas isto não...

Requisito principal para usar um belo sapato alto é um pé de princesa. Ok, deste lado da barricada também há quem não os deva sequer experimentar, mas isso dava matéria para outro post e agora não temos tempo.

Sorry lads, atributos não vos falta, mas pés não é o vosso forte! Não foi por acaso que os Irmãos Grimm escolheram a Cinderela, e não o Príncipe, para o sapatinho de cristal.







quinta-feira, outubro 02, 2014

"As mulheres preferem ser tratadas como Rainhas ou como Patroas?"

A Visão de hoje traz um artigo muito interessante acerca de uma Startup americana, a ManServants. Ora parece que essa empresa disponibiliza, por apenas 100€ por dia, o homem perfeito, o namorado ideal, o príncipe encantado, homem para tudo o que a mulher quer, excepto sexo.

Logo por aqui cheira-me que esta empresa não vai longe. Isto mais parece uma actualização de dados do IPhone, mas que perdeu funcionalidades. Então o sexo não entra?! Então mas isso não era a parte boa da coisa?

Segundo as sugestões do próprio site da ManServants o nosso "Man" está lá para servir bebidas, fotografar eventos, receber convidados, servir shots, distribuir hors d'oeuvres, nadar, beber, andar despido pela casa, ser o nosso barbecue man, fazer de guarda-costas, segurar na nossa mala enquanto estamos a dançar com as amigas na discoteca, garantir que chegamos em segurança a casa nem que para isso nos leve às cavalitas.

Se o levarmos à bola, por exemplo, ele não só relata/comenta o jogo em directo ao vivo e a cores, como nos vai buscar a bejeca e o cachorro-quente, e espera pela nossa vez nas filas para a casa de banho.

Caso seja necessário, disponibiliza-se como lugar para sentar (para nós ou para o nosso animal de estimação), e ainda nos garante um elogio a cada 15 minutos, o que no caso de a cliente ser feiosa implica uma imaginação fértil ilimitada.

A cliente é que escolhe o programa: sporting event, girls night out, summer soiree, pool party, e ainda o at the office através do qual podemos oferecê-lo a uma amiga (amigas que me lêem, eu estou quase a fazer anos).

A cliente é que escolhe que tipo de servant pretende: o aspecto, a atitude, a roupa que veste, o sotaque...
-"olhe, era um Jim Caviezel, de jardineiras, com sotaque latino, a fazer de Sushi Man, prás 17.30h no parapeito da minha piscina"!

Temos direito inclusivamente a dar-lhe um nome, o que eu não sei se é boa ideia... ainda corremos o risco de nos afeiçoarmos a ele.

Tem ainda uma proposta que eu acho delirante. A versão "it´s on me" na qual ele se oferece para nos pagar tudo e mais alguma coisa nessa noite, não sem antes termos feito um pré-pagamento do valor que tencionamos que ele gaste connosco.... Nem me atrevo a comentar.

Rapazes com carinha laroca e que procuram emprego: a empresa abriu em Setembro e está a recrutar! É nos States, mas isso agora não interessa nada.

Na resposta à pergunta da Visão "as mulheres preferem ser tratadas como rainhas ou como patroas?". Eu não sei vocês, mas cá para mim a resposta é "com respeito". De e para. E que não seja preciso pagar.
Parece-vos pouco?  Olhem quem não... A Aretha Franklin concorda comigo.