segunda-feira, novembro 23, 2015

Vou comprar-lhe uma prenda antes que ele faça uma birra!

Há coisas que eu tenho alguma dificuldade em entender, mas muito provavelmente o mal está em mim.

Não entendo aqueles pais que dizem: o meu mais velho faz anos hoje, mas tive de comprar prenda para os dois, senão o outro não se cala. 

Não entendo! Juro que não entendo.
Porquê? Por que é que quando um irmão faz anos o outro, por muito pequenino que seja, não pode ficar feliz pelo irmão e por ser ele a receber as prendas.

- Porque não entende o que é fazer anos e vai ficar triste por não receber prendas também.

Pois, não percebe, e por este andar nunca vai perceber. As crianças devem ser ensinadas, desde pequeninas, a ficarem felizes pelas alegrias dos outros, quaisquer outros, quanto mais por um irmão.

Talvez por eu partilhar o dia do meu aniversário com o meu irmão mais novo (desde os meus seis anos), talvez por sermos 4 irmãos e lá em casa nunca ter havido este tipo de frescuras, não me lembro de me fazer confusão os outros receberem prendas e eu não.

Cada um de nós tem o seu dia de aniversário, o dia em que é especial, o centro das atenções. E o "nosso dia" há-de chegar mais cedo ou mais tarde. Querendo ou não querendo todos fazemos anos. Os miúdos só têm de ser ensinados que, quando chegar o dia deles, também eles irão ser surpreendidos, brindados, parabenizados, e tudo e tudo!

Os pais (avós, tios e toda a família por arrasto) sentirem-se obrigados a comprar mais uma prenda só para calar um filho, acho completamente ridículo e contra-producente.

-Tem de ser, senão ele vai fazer uma birra

Deixá-lo! As birras também fazem parte do ser-se criança. Assim como as primeiras palavras, o ter de ir para a escola, os joelhos esmurrados, o colinho, os abracinhos, a varicela e os piolhos. Quando for crescido, e lhe contarem as birras que fazia, vai rir-se das suas infantilidades, mas ao menos recebeu educação, não foi comprado.

Ao comprar-lhe uma prenda fora do seu dia de anos só para o calar ou para não ficar triste (coitadinho), para além de o mimar de sobremaneira, está a promover a inveja e dificuldade em perceber o significado da palavra PARTILHAR. A vontade de partilha sente-se, o gostar de ver um irmão feliz sente-se, não se explica. No entanto, é um sentimento que deve ser estimulado, e não o contrário.

Gostava muito de ter alguma formação em psicologia que me permitisse fundamentar esta minha teoria, mas infelizmente resta-me o meu conhecimento empírico enquanto irmã, filha e mãe.

Talvez no vasto auditório deste blog (quantos é que vocês são? 27? 28?), haja alguma alma caridosa que me queira elucidar quanto aos verdadeiros motivos de alguns pais fazerem isto. Mas argumentos como deve de ser, ok? Que não seja o pura-e-simplesmente-não-ter-de-os-aturar. É que eu não lido muito bem com a preguiça.











14 comentários:

  1. Olá minha linda.
    Sou professora, mas também não sei onde está o fundamento desses pais. E confesso que também não tenho paciência nenhuma para este tipo de comportamento.
    Concordo em absoluto com tudo o que dizes. As crianças têm de ouvir "NÃO". Elas aprendem assim a distinguir o certo do errado, o bem do mal... assim se forma a consciência moral e os pais, como principais educadores, deveriam sentir o dever de lhes dar as bases, bem como o exemplo (claro!).
    Nunca tive este problema enquanto filha (e irmã de 2), nem o sinto enquanto mãe dos meus 2 filhos. A partilha, a felicidade pelo sucesso alheio, a generosidade, a paciência, o respeito... são tudo valores humanos em que devemos apostar e não me parece que o tipo de atitudes que referes tenham muito a este nível.
    Beijocas querida

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    1. Obrigada pela partilha, cara professora. É bom saber ler/ouvir a opinião de quem tem a educação como profissão e modo de vida.

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  2. Conhecimento empírico enquanto mãe, filha e irmã, é o mais sábio que eu conheço. E os verdadeiros motivos que levam os pais a fazerem isto, são os mesmos que os levam a não repreender os filhos quando estes batem na mãe, ou chamam nomes à avó, ou empurram outros meninos dos baloiços no parque infantil ... Dá muito trabalho educar. É horrível ouvir uma criança a berrar durante meia hora. É muito desgastante aturar uma birra, os "porquês" e os "mas eu quero", gritados com raiva e frustração, no meio de baba e ranho. Ah! E também há quem tenha muito medo que a criança se sinta menosprezada - como se ser o centro das atenções, o tempo todo, fosse muito saudável e benéfico. Aqui em casa, há dois a fazer anos com uma semana de intervalo. Ela sempre aceitou os anos do irmão com a maior das alegrias. Já ele, amuava, porque ela só recebia brinquedos de menina e não havia nada para ele. Mas o amuo dele, a cada ano que passa, dura cada vez menos. Com o tempo, aprendeu a respeitar, a fazer questão de oferecer uma prenda à irmã e a ficar feliz por ela. E não foi por lhe comprarmos brinquedos para que não fizesse birras, e sim porque não lhe demos hipótese para outra coisa, que não respeitá-la e respeitar aquele momento. Porque não se recompensam atitudes condenáveis, e só assim ele aprende a distingui-las e a evitá-las.De outra forma, sei que estaria a criar uma pessoa para ter comportamentos que eu abomino, nos outros! E é assim que temos que pensar enquanto pais: se estamos a educar os nossos filhos para serem indivíduos com quem gostaríamos de conviver, noutras circunstâncias, ou se estamos apenas a encolher os ombros e a evitar as birras que nos ferem os tímpanos, não olhando as consequências a longo prazo.

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  3. Ser mãe solteira de duas crianças nem possibilita situações dessas, os presentes têm uma intenção, são simbólicos e quem faz anos é que os recebe, obviamente. Nenhum dos meus dois filhos questiona por que razão não recebeu presente no dia do aniversário do irmão nem faria sentido questionar. Também se discutem dificuldades financeiras e aprende-se a distinguir o essencial do acessório. Aqui aprende-se a priorizar e só se economiza nos afetos!

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    1. Obrigada pela tua partilha Maria. Distinguir o essencial do acessório é fundamental!

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  4. queria dizer "não se economiza nos afetos", obviamente! :-)

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  5. Eu nunca tive esses privilégios e nunca fiz esse tipo de coisas com a minha filha. A verdade é que ela fica um bocadinho chateada, porque também queria ter um brinquedo novo, mas acaba por perceber que aquele não é o dia dela e que o seu dia irá chegar também.
    No entanto, a minha mãe já chegou a comprar prenda para a minha filha, mesmo não sendo o aniversário dela, para ela não ficar sem receber nada... Mariquices de avós! :P

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    1. É curioso que a tua filha está a receber mariquices dos avós que enquanto teus pais não te deram, pelo menos do que eu percebi. Enquanto pais educaram, enquanto avós estragam. Tão típico dos avós :-) Viva os avós!

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  6. Se crescerem habituadas assim... Mas acho os pais fazem isso muito antes sequer das crianças terem tempo para birras -.-'

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    1. Obviamente que os pais podem e devem comprar prendas sem necessariamente haver um motivo. Só porque sim. Só pq lhes apeteceu, mas não é disso que se trata. Trata-se da obrigação de comprar para os dois para um deles não ficar chateado.

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  7. Olá!
    Não tenho irmãos mas concordo plenamente contigo.
    Quando eu era criança,tinha dois primos que quando um fazia anos,o outro também queria receber prendas.Fazia birras e os pais eram mais ou menos amigos,até chegava a avisar os convidados sobre a situação mas depois com o tempo passou.

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    1. Olá isilda! Bem, estender essa pratica aos convidados chega a ser abuso. Tenho alguma curiosidade em saber como será essa criança hoje em dia...

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