quinta-feira, dezembro 17, 2015

Os portugueses são mesmo assim

Esta manhã tive um acidente.
Quando senti a pancada na traseira do carro, olhei pelo retrovisor e não vi ninguém atrás de mim. Quando olho pelo espelho lateral vejo uma pessoa caída no chão. Saí do carro a correr enquanto ouço gritos "ajudem-me, ajudem, não me consigo mexer."
Quando me aproximei, vi que era uma miúda. Tão novinha, pensei. Estava consciente, disse-me que tinha caído da mota, que tinha muitas dores nas pernas, e pediu-me para ligar para o 112, pois não se conseguia levantar.
Nisto, aproxima-se um casal que já está a ligar para o 112, e passam-me o telefone. Enquanto estou a explicar ao 112 onde estamos, vou perguntando à miúda, o seu nome (Carolina), quantos anos tem (18), o que lhe dói (as pernas e os joelhos), tudo a pedido da voz do 112. Aproxima-se outro carro. Sai a correr, e a oferecer ajuda, uma Susana que diz ter feito o curso de socorrista.
Conforme instruções da socorrista Susana, não mexemos na Carolina, e muito menos retirar-lhe o capacete. Conseguimos tirar-lhe a mochila que tinha às costas, apenas para que se possa deitar direita no chão.
A Carolina pede para ligar à mãe. Não atende. Pede para ligar ao pai. Informo, com angústia, que a filha acabou de ter um acidente, mas que está consciente e a falar.
Meto conversa com a Carolina enquanto me aperta a mão. Pára uma carrinha dos Bombeiros que por ali passava. Ainda não era o INEM. Apesar de não serem eles os "chamados a socorrer", param para dar assistência. A Carolina chora dos nervos e chora quando os bombeiros lhe mexem nas pernas. Os bombeiros tiram-lhe o capacete, tem os lábios inchados e negros.
Chega mais um motociclista, pára, pergunta se é preciso ajuda. Agradecemos, mas neste momento não há muito mais a fazer. Estamos à espera do INEM. Digo para a Carolina "estás a ver a quantidade de pessoas que se oferecem para te ajudar? Vais ficar bem. Tens aqui tanta gente contigo. Não estás sozinha". E diz um dos bombeiros: "Os portugueses são mesmo assim!"
De repente, a Carolina solta uma gargalhada, e ao mesmo tempo que as lágrimas lhe caem pela cara abaixo, diz-nos: "Era suposto ir fazer exame de Finanças agora. Se soubesse, não tinha estudado tanto ontem à noite". Rimos todos!
Chega a polícia. Ainda no chão, mas já mais calma, a Carolina diz que não sabe como, mas que caiu sozinha. Chega o INEM e o pai.
Ficámos com a Carolina até ao momento em que ela entrou na ambulância. A socorrista Susana ficou com o contacto do pai da Carolina para saber mais tarde como ela ficou, e despediu-se de mim. Agradeci-lhe a ajuda.
Depois de toda a troca de papelada, da verificação de documentos, das apólices de seguro, do teste de alcolémia, do relatório da polícia, etc, respirei fundo e pensei na quantidade de pessoas, estranhos, que pararam para ajudar a Carolina. 
Como dizia o bombeiro, experiente nestes momentos de aflição, os portugueses são mesmo assim! Tão bom, digo eu!



7 comentários:

  1. Comecei o texto a pensar que vinha aí coisa má e acabei com os olhos a brilhar! Espero que a miúda fique bem e que tire boa nota quando puder fazer o exame! :D

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    1. :-) assim espero! Logo à noite já confirmo se não foi nada de grave.

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  2. É tão bom saber que as pessoas se preocupam e tentam ajudar.
    Nem consigo imaginar que haja pessoas a precisar de ajuda e outras a verem e a continuarem a andar como se nada fosse.

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