Li esta manhã no jornal Expresso que certos psicólogos ingleses são a favor da idade da adolescência ser ampliada até aos 25 anos.
No início achei um perfeito disparate, mas comparando a geração dos meus pais com a minha geração, ou com a geração actual.... a verdade está à vista.
O meu pai, homem do norte, filho de pessoas do campo, com apenas a 4ª classe, mas com uma enorme visão e ambição, veio para Lisboa sozinho, com apenas 18 anos, com uma mão à frente e outra atrás, à procura de trabalho.
Casado e com uma filha com cerca de um ano, o meu pai arregaçou as mangas e imigrou para os "states" na expectativa de uma vida melhor. Com muito trabalho, uma estrelinha no céu e uma esposa fantástica que o acompanhou (concordando ou não) em todas as decisões, “vingou” na vida tornando-se no empresário da construção e hotelaria que é hoje.
Ora, de mim e dos meus irmãos não se pode dizer o mesmo! Shame on me! Cresci numa vivenda de dois pisos, com jardim e parque infantil. Toda a minha vida frequentei colégios privados, tive acesso a actividades extracurriculares de inglês, francês e de música (na altura estava-me a borrifar para as aulas de órgão e solfejo, se arrependimento matasse...), comprava roupa nova todas as estações, quando tirei a carta tive direito a carro, quando casei tive direito a casa, quando acabei a faculdade tive direito a emprego.
E se grandes são as diferenças entre estas duas gerações, são absolutamente abismais relativamente à pré-adolescente que tenho lá em casa. Aquela para quem ainda ontem dei 120€ por dois bilhetes para o concerto dos One Direction, dia 13 de Julho, no PORTO (anda uma mãe a introduzir Pink Floyd, Dire Straits e até Moonspell nos gostos musicais da miúda e sai-me isto!). Os meus pais nunca foram comigo a um concerto, quanto mais fazer 300km para ir ver os meus ídolos. Ele é preço dos bilhetes, ele é portagens, combustível, dormida no Porto...
Talvez por tudo isto os tais psicólogos ingleses acreditem que o melhor é adiar a maturidade dos 18 para os 25 anos. Esta geração de miúdos não está preparada para abdicar das suas mordomias electrónicas, quanto mais!
Alguém sabe em que faculdade é que se tira a licenciatura de “Mãe” ?
Toda a comida precisa de uma pitada de sal, toda a vida precisa de um toque de limonada.
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quinta-feira, setembro 26, 2013
terça-feira, setembro 17, 2013
“O Mordomo” ou a verdadeira aula de história
Para quem não viu, pare imediatamente de ler este texto e vá ver! Ontem já era tarde!
Dizem as más línguas, que até o Obama chorou!
Para quem viu, mas não se deu ao trabalho de investigar:
Não, Cecil Gaines não é o verdadeiro nome do tal mordomo que serviu oito presidentes americanos, de Harry S. Truman a Ronald Reagan.
O verdadeiro mordomo é Eugene Allen.
Eugene esteve casado durante 65 anos com Helene, mas não teve dois filhos, teve apenas um, de seu nome Charles, o qual não era nenhum activista dos direitos civis ou membro dos Black Panther, ou sequer lutou pelo seu país na guerra do Vietname.
São várias as diferenças entre a realidade e a ficção. O filme é apenas baseado em factos verídicos. “So what”? O filme não está colado à vida de Eugene Allen e o enredo é em grande parte ficção, porque se pretende algo mais do que o simples retrato da vida de um mordomo (ainda que não um mordomo qualquer). Se querem um filme alegadamente biográfico, vejam o novo filme sobre a princesa do povo, “Diana” de Oliver Hirschbiegel.
Os efeitos dramáticos (e um dos motivos por que adoro ficção) favorecem um objectivo maior, o objectivo didáctico: o de relembrar ao mundo o longo e tortuoso caminho que os negros da América atravessaram até ao aparecimento da Lei dos Direitos Civis em 1965. O filme relembra o Bloody Sunday, o KKK, as leis Jim Crow e a segregação, relembra a luta de Martin Luther King, relembra que apesar de a América se achar a balança do mundo também teve os seus próprios campos de concentração durante mais de 200 anos.
Mais, fica no ar que, apesar das conquistas de direitos e liberdades por partes dos afro-americanos, apesar da eleição de Barack Obama, muito ainda há a fazer por esse mundo fora.
A posição de Eugene Allen dentro da Casa Branca, convivendo de perto com oito presidentes norte-americanos, assistindo de perto a alguns dos maiores eventos na história da América, é apenas o apetrecho escolhido para uma das melhores apresentações do tema Direitos Civis/Direitos Humanos alguma vez feitas no cinema.
Vi o “Mordomo” um dia depois de rever pela enésima vez o “Uma Questão de Honra” , aquele dos 80´s, protagonizado por Tom Cruise e Jack Nicholson (ainda hoje estremeço com o “you can´t handle the truth”), e confesso que continuo a ter uma certa dificuldade em lidar com esta história da subserviência. Esta coisa de servir os desejos ou ordens de outrem, “no questions asked”, sempre me fez confusão.
Até nisso Lee Daniels se sai bem, apesar do "põe um sorriso no olhar dos teus senhores". Lee Daniels faz de Cecil Gaines um herói, tímido, mas mesmo assim um herói. Pelas palavras de Martin L. King ( protagonizado no filme por Nelson Ellis) nasce a convicção de que Cecil não é um subserviente, mas um agente de subversão, alguém que, pelo gosto e orgulho naquilo que faz e porque o faz melhor do que ninguém, subverte e revoluciona mentalidades e os preconceitos de que os negros são seres inferiores.
Cecil é a prova de que o acto de servir outra pessoa pode ser um prazer. Um prazer nos rituais, nas formalidades, no rigor, no compasso. Um prazer pela perfeição de bem servir. Ou como diria Martin Luther King, himself, “not everybody can be famous, but everybody can be great, because greatness is determined by service”.
Vi “o Mordomo” na companhia de uma pré-adolescente curiosa que me encheu de perguntas o filme inteiro, porque para o seu mundo todo aquele drama, aquela injustiça, a coragem e a bravura eram novidade. Saiu da sala de cinema mais informada, mais atenta em relação ao racismo e, espero eu, menos injusta em relação a todo e qualquer ser humano. Para ela, que detesta a disciplina de história, esta foi com certeza uma das melhores aulas que já teve.
quinta-feira, setembro 05, 2013
“Querem Matar o Colégio Militar"
Credo! Matar?! Quem? Como? Porquê?
A 1ª vez que vi o anúncio
promovido pela Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, confesso que
pensei “lá está o Coelho outra vez nos cortes”. Quis crer que o corte na despesa era necessário, tal como na MAC, e
independentemente de estar de acordo ou não. Como sou teimosa que nem uma porta e detesto morrer na ignorância,
investiguei o tema mais a fundo.
Afinal, ninguém quer matar ninguém!
Ufa, que alívio. Afinal o que se pretende é fundir o Colégio Militar com o
Instituto de Odivelas, e permitir que o Colégio se torne numa instituição de
internato mista.
Visto ser um tema com o qual não
estou intimamente familiarizada (pois nunca frequentei qualquer instituição
militar) tentei conhecer as várias versões, os vários pontos de vista e quais
os argumentos pró e contra.
A posição da referida associação, pelas palavras do Sr. Presidente da associação, António Reffóios, é tão somente que não se desvirtue o modelo de ensino que dura há mais de 210 anos (whatever that means). Mais, não exclui a possibilidade de aulas mistas, mas nunca o internato dentro do mesmo campus, ou seja, o que se receia são as cowboiadas nocturnas. Salienta o sr. presidente que o facto de as Forças Armadas serem mistas, hoje em dia, não é argumento válido, pois nesse caso estamos a falar de adultos e não adolescentes (o que até dou de barato). Refere ainda que o Estado pretende constituir uma “instituição marca branca”, o que desprestigia fortemente a instituição bicentária e profundamente elitista que é hoje o Colégio Militar.
O ministro da defesa Aguiar Branco, por outro lado, defende-se alegando tratar-se de um motivo de orgulho (de si próprio) que as mulheres passem a poder a estudar no Colégio Militar, e que a reforma está a ter resultados positivos, nomeadamente pelo aumento do número de inscrições no colégio.
Muito bem! Então e as mulheres?
Será que as mulheres querem esta mistura? Devo confessar que me deslumbrei com
os comentários que li de uma ex-aluna do Instituto de Odivelas, a Sra.
Margarida Pereira-Muller. Na opinião de Margarida, as alunas querem ter acesso
a um ensino diferenciado por género. Isso mesmo, querem ensino diferenciado. Mas
não pense o leitor que as mesmas são sádicas ao ponto de gostarem de ser
discriminadas, nada disso! Querem antes poder desenvolver-se (e passo a citar)
"ao seu ritmo e não ao ritmo mais lento dos rapazes". Ora toma que já almoçaste!
Na minha singela opinião, e baseando-me na convicção de que o Estado tem
essencialmente a obrigatoriedade da defesa da igualdade e não da manutenção de
tradições/pensamentos, só porque sim, parece-me muito bem a criação de condições
para que as mulheres possam no futuro ascender a altos cargos militares,
parece-me muito bem a integração dos jovens (de ambos os sexos) na vida activa em comunidade, ao serviço da comunidade.
Rapazes e raparigas têm
ritmos diferentes, é certo! Mas num grupo de dez raparigas, por exemplo, têm todas um ritmo igual? Não! Nenhuma criança
é igual à outra, nem mesmo os irmãos, quer sejam do mesmo sexo ou não! Por isso
sempre fui contra a educação diferenciada por géneros. Caso contrário teríamos uma escola por criança!
Estou convicta de que, tal como a
polémica do aborto, do casamento homossexual, ou até mesmo o fim das touradas,
no princípio o povo estranha, mas depois deixa-se convencer de que este é o
caminho para o país civilizado, democrático e igualitário que os ideais de
Abril nos ensinaram. O ensino é desenvolvimento e liberdade, não restrição ou
afastamento.
segunda-feira, setembro 02, 2013
7 Coisas a Caminho de Casa
Por vezes preciso de voltar à
bicicleta laranja que herdei da minha irmã, ao cheiro das roupas que
iam passando de umas para as outras quando deixavam de nos servir, ao mano bébé que
anunciei aos colegas no 1º dia de aulas, ao parque infantil que nos entretinha
até à hora do jantar, ao tanque de lavar a roupa que me roubava a minha mãe,
àquela janela onde ouvia o toque para as aulas, aos 40 km/hora do beco sem
saída onde os putos se empurravam à vez nos carrinhos de esferas, aos campos de
espiga no 1º dia de Primavera, às gargalhadas por tudo e por nada.
Saudades dos vizinhos de sorrisos largos e pequenas maledicências, saudades das preocupações serem moinhos de vento.
Saudades dos vizinhos de sorrisos largos e pequenas maledicências, saudades das preocupações serem moinhos de vento.
Porque o Metal não é só sombra
Era uma noite que se entitulava
de “Sombra”, mas que sob o feitiço da lua se previa que brilhasse. Uma noite
quente, sem réstia de brisa, como há muito Lisboa não presenciava. Tendo os
jardins da Torre de Belém como palco e o Rio Tejo como pano de fundo, o
espectáculo prometia o factor surpresa tanto para os habituais fãs como para os
menos metaleiros. As versões acústicas de sons habitualmente agressivos dos Moonspell, a
mistura de estilos e de artistas (Mestre António Chaínho e Madre Deus), a entrega ao choro lusitano e ao saudosismo
lisboeta. Um espectáculo de encerramento das festas de Lisboa em jeito de
despedida e um piscar de olhos ao público de todas as idades.
Ansiava por este concerto, mais
do que pelos dois anteriores, pois já sabia o que me aguardava. Ou talvez não.
As músicas já conhecidas foram surgindo, mas com a entrada do Mestre António Chaínho, a teu lado, os meus ouvidos receberam pela primeira vez, ao vivo e a cores, o arrepio das cordas do mestre que tu humildemente acompanhavas, e nos meus olhos penetrava uma imagem que não sei se de filme se de sonho, pois já não era ali que estava.
A minha memória Polaroid levou-me àquele miúdo reservado que durante as aulas invadia a minha carteira com bilhetinhos, com quem fazia gazeta às aulas de ginástica ficando nos colchões do ginásio a partilhar aventuras e desventuras, enquanto lá fora os outros jogavam voley ou corriam à volta do campo. O mesmo miúdo que não fazia a mínima ideia do que fazer no final do 12º ano, e que não aparentava a mínima intenção de se candidatar a qualquer tipo de faculdade enquanto nós, os “certinhos”, andávamos atarefadíssimos atrás da média necessária para entrar neste ou naquele curso, demasiado preocupados com as décimas e centésimas e milésimas que nos pudessem comprometer o futuro. Num qualquer rasgo de clarividência, cliquei no “pause” de toda aquela correria, fixei-te de longe ao balcão do “Borges” e pensei “este puto ainda vai longe, mais longe do que qualquer um de nós”. Todos achávamos que sabíamos perfeitamente o que queríamos e para onde íamos, tu eras o único que parecia perdido, sem norte, sem futuro, e talvez por isso desejava o teu sucesso, mais do que a qualquer outro.
As músicas já conhecidas foram surgindo, mas com a entrada do Mestre António Chaínho, a teu lado, os meus ouvidos receberam pela primeira vez, ao vivo e a cores, o arrepio das cordas do mestre que tu humildemente acompanhavas, e nos meus olhos penetrava uma imagem que não sei se de filme se de sonho, pois já não era ali que estava.
A minha memória Polaroid levou-me àquele miúdo reservado que durante as aulas invadia a minha carteira com bilhetinhos, com quem fazia gazeta às aulas de ginástica ficando nos colchões do ginásio a partilhar aventuras e desventuras, enquanto lá fora os outros jogavam voley ou corriam à volta do campo. O mesmo miúdo que não fazia a mínima ideia do que fazer no final do 12º ano, e que não aparentava a mínima intenção de se candidatar a qualquer tipo de faculdade enquanto nós, os “certinhos”, andávamos atarefadíssimos atrás da média necessária para entrar neste ou naquele curso, demasiado preocupados com as décimas e centésimas e milésimas que nos pudessem comprometer o futuro. Num qualquer rasgo de clarividência, cliquei no “pause” de toda aquela correria, fixei-te de longe ao balcão do “Borges” e pensei “este puto ainda vai longe, mais longe do que qualquer um de nós”. Todos achávamos que sabíamos perfeitamente o que queríamos e para onde íamos, tu eras o único que parecia perdido, sem norte, sem futuro, e talvez por isso desejava o teu sucesso, mais do que a qualquer outro.
Perdi-te o rasto, nem sei bem
porquê.
Vinte anos depois vim a saber, num daqueles jantares de antigos alunos patrocinado pelos encontros das novas tecnologias, que andavas em digressão, e que recentemente tinhas pisado o palco do Rock in Rio. Vi o concerto na íntegra, em directo na televisão e não te reconheci. Como poderia eu saber? Aquela longa cabeleira não existia há 20 anos atrás e impossibilitava-me de reencontrar aquele sinal no rosto que eu tanto gostava e que te distinguia dos demais.
Vinte anos depois vim a saber, num daqueles jantares de antigos alunos patrocinado pelos encontros das novas tecnologias, que andavas em digressão, e que recentemente tinhas pisado o palco do Rock in Rio. Vi o concerto na íntegra, em directo na televisão e não te reconheci. Como poderia eu saber? Aquela longa cabeleira não existia há 20 anos atrás e impossibilitava-me de reencontrar aquele sinal no rosto que eu tanto gostava e que te distinguia dos demais.
Agora, neste cenário magnífico à
beira rio, num misto de estilos e sons, esta imagem daquele menino ao lado do
grande mestre da guitarra portuguesa, enche-me o coração de orgulho e surge-me
a epifania: “eu sabia que tu ias conseguir”.
Conheço-te o suficiente para
saber que não dás asas ao protagonismo, que és demasiado reservado para te considerares
uma estrela, mas para mim foste a estrela que brilhou mais forte, nessa noite e
não só. Quantos de nós daquela turma de secundário têm o prazer de fazer aquilo
que gostam, sendo que aquilo que fazes é o sonho de qualquer adolescente?
Quantos têm o prazer de percorrer os palcos do mundo, de encantar multidões e
sentir a euforia dos fãs num tão aguardado concerto? Quantos de nós têm o seu nome na lista dos
“21 melhores guitarristas do mundo”? Quantos sabem o que se sente quando te
pedem um autógrafo ou só mais uma fotografia? Para ti é um exagero, porque não
te reconheces nesse vedetismo, mas só o facto de haver alguém, um único
desconhecido (sim, porque amigos e familiares não contam) que te admira e
reconhece o teu trabalho a esse ponto, só isso já é um grande feito.
Sei que o caminho foi longo e
sinuoso, e que a procissão ainda vai no adro. Sei que por vezes as ausências
prolongadas e o afastamento necessário daqueles que amas te enchem de saudades
que tanto te esforças para enganar. Sei que a vida de músico/artista não é um
mar de rosas, aliás, a haver flores na tua história só podiam ser Scorpion
Flowers. Mas assim ainda tem mais valor.
Tive a felicidade, para não dizer
uma sorte do catano, de ter sido tua colega, tua amiga, tua confidente, e tenho
hoje em dia o enorme privilégio de te reencontrar carregadinho de luz! Porque o
Metal não é só Sombra.