Entra de repente, que nem um cão raivoso, a atacar as tuas certezas e a abalar todo o teu mundo, mas pela calada. Não escolhe idade, não precisa de convite. Não tens tempo para perceber o que se passa, como chegou, nem porquê.
Julgavas que estava tudo bem, e por isso não entendes o porquê dos medos, das ansiedades, dos ataques de pânico. Mas eles estão lá! E tu pensas, mas porquê? Medo de quê?
E o coração palpita que nem um cavalo, o dia inteiro, e tu tentas respirar e não consegues, tentas sorrir mas é forçado, tentas cumprir as tarefas do dia-a-dia e tudo é um sacrifíco, porque não tens forças, estás cansada todo o santo dia, e só te apetece chorar. Chorar e dormir! Dormir o dia inteiro, para não pensar, não sentir, não sofrer.
Não consegues olhar-te no espelho, porque já não pertences àquele rosto. Não consegues comer, porque é a alma que precisa de alimento. Não consegues sorrir porque o vazio é um enorme oceano.
E pensas, mas o que te angustia tanto? De que te queixas? Dormes na rua? Falta-te comida na mesa? Não tens saúde? Morreu-te alguém? "Naaaaaaaaaão! Não é nada disso!"
E vês as notícias na TV e pensas: "Isto sim, são motivos para andar triste e ansiosa!" E nesse mesmo instante deprimes mais um pouco. Pela falta de motivo, porque não encontras uma explicação.
Com dificuldade adormeces, desejando que, quando acordares, tudo não tenha passado de um pesadelo. Mas quando acordas o coração galopa novamente, regressa a desorientação, a ansiedade e angústia de não te entenderes a ti mesma. E o dia parece infindável, porque ainda agora acordaste e já querias que fossem horas de dormir outra vez. Não que tenhas sono, mas simplesmente porque a dormir não sentes e o tempo passa. E quanto mais depressa o tempo passar, mais depressa chega o fim desta tortura. Pensas tu! E daí, talvez não.
Talvez o truque não seja os dias passarem depressa, que passem semanas, meses. Não! Talvez a solução seja o aqui e o agora. O recusares-te a passar mais um dia assim, num pânico que tu própria não entendes quanto mais explicá-lo aos outros.
E é aí que decides pedir ajuda, porque não consegues lidar contigo própria sozinha. E a ajuda vem em formato de conversa, de desabafo, de soluços e lágrimas, percorrendo os lugares mais recônditos do teu ser que julgavas há muito esquecidos.
E vasculhas toda a tua alma, todo o teu passado, todo o teu presente e reconheces que afinal nem tudo está bem. Percebes que afinal até aguentaste mais do que pensavas, que tentaste ser forte demasiado tempo, que as pessoas que te amam, muitas vezes, são as que mais te "abusam", mesmo que inconscientemente. Mas mais importante que tudo, chegas finalmente à conclusão que o pânico tinha uma explicação: são apenas os sintomas da tua alma a dizer basta! "Chega, não quero mais!"
Queres dizer mais vezes "sim" a ti mesma, e menos aos outros. Queres saber dizer "não" às coisas que não queres fazer, porque é contigo que tens de viver, e é a ti que tens de agradar. Queres reencontrar-te, a ti e ao sorriso perdido. Queres olhar o teu rosto no espelho e reconhecer-te nessa imagem. Queres ter planos, projectos, futuro. Tu, que te julgavas estagnada, encurralada, impotente, queres ouvir a tua voz e seguir o que ela diz. Pouco importa se os outros a ouvem ou não. Isso já não interessa.
Queres ser aquela pessoa que saiu vitoriosa dos meandros de uma depressão. Porque dói, aquela escuridão, porque te corrói como se fosses a matéria mais frágil ao cimo da terra. E tu não és frágil!
Bem-vinda de volta ao mundo, bem-vinda de volta a ti, miúda!
(Isto também é Limonada da Vida!)