Desde miúda que gosto de futebol.
No liceu, em vez de jogar vólei com as colegas de turma preferia jogar futebol com os rapazes. E sempre que o professor de educação física deixava, era no campo da bola que me encontravam. Tenho memórias da euforia futebolística por parte dos clientes que frequentavam o restaurante dos meus pais, dos jogos que se viam na televisão do bar e dos relatos do ilustre Rui Tovar.
Ainda hoje gosto de um bom jogo de bola acompanhado de entremeadas e cerveja, das asneiras que se dizem quando o arbitro não apita a nossa favor e da magia de gritar golo. É muito provavelmente o maior símbolo do meu lado pé-de-chinelo. Só não vou mais vezes ao estádio, nem à roulote comer a bela bifana, porque escolhi para minha cara-metade um adepto de um clube rival.
Hoje, e apesar de os acontecimentos de ontem nada terem a ver com o meu clube, sinto-me triste. O acto de terrorismo de que foram alvo os jogadores e treinador do SCP não tem qualquer tipo de justificação, de quem se diz adepto de futebol e que ama muito o seu Sporting. Ora, isto lembra-me mais um marido que diz que ama muito a mulher, mas que um dia se lembra de a matar à pancada, porque a amava muito. Isto é acto de alguém muito doente e que só transporta ódio dentro de si.
Quem faz isto não tem amor ao futebol, não tem amor ao clube de que se dizem fãs, não tem amor aos seus jogadores, e muito menos aos seus familiares. Sim, porque os 50 idiotas que estiveram ontem em Alcochete também têm família: têm mãe e pai, têm namorada/mulher/companheira, e muito provavelmente até têm filhos (quem diria).
Ora o futebol, minha gente, não é ódio, violência e agressões.O futebol é garra, é festa, é vontade de vencer com desportivismo. Sabendo à partida que nem todos podem ficar em 1º lugar, quando a nossa equipa perde só temos é de lidar com o desgosto e a frustração dessa derrota, porque ninguém gosta de perder. Mas é só isto. Tão somente isto. Ou é só isto que seria o suposto.
Eu já não acho piada alguma aos Apitos Dourados, aos emails das Toupeiras, nem nada dessas cenas. E acho sinceramente que a coisa começa a perder a piada quando chegamos à conclusão que os resultados são viciados. Mas com os eventos de ontem, o futebol está a tornar-se numa coisa estranha que nada tem a ver com a minha paixão de miúda, e que me faz perder a vontade de continuar uma aficionada. Não me revejo nestes actos, pelo que não quero mais continuar a gostar de futebol. É como um namorado ou marido de quem gostávamos muito no início e que passados alguns anos, depois de o conhecer melhor e de uma catrefada de acontecimentos infelizes, não conseguimos sequer olhar para a cara dele, quanto mais amá-lo.
Se isto é futebol, eu não quero continuar a gostar dele.
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