Toda a comida precisa de uma pitada de sal, toda a vida precisa de um toque de limonada.
A Limonada da Vida
terça-feira, agosto 26, 2014
Tu também podes passar do "Gosto" à acção!
Desde que regressei de férias que me deparei com um novo "vizinho" aqui na rua. Trabalho num escritório de uma das principais avenidas de Lisboa há 17 anos (quem diria) e nunca vi um pedinte ou sem-abrigo por estas paragens.
Talvez por isso tenha chamado tanto a minha atenção, talvez por isso me perturbe que ele esteja sentado todo o dia nos degraus, roçando a indiferença de quem sobe e desce a avenida. A ausência dos "cartões de deitar" faz-me pensar que não é por ali que dorme. Tudo o que traz consigo de manhã transporta ao fim do dia, o que não é muito, apenas sacos de plástico.
Ao fim de dois dias fui para casa a pensar nele, ali sentado no chão, com roupas demasiado compridas e quentes para a estação em que nos encontramos, mas que provavelmente são tudo o que tem para vestir. Se no dia seguinte ainda lá estivesse, e iria abordá-lo de alguma forma. Há momentos em que temos de passar à acção.
No dia seguinte, quando cheguei, ele não estava nos seus degraus... senti-me triste por ter perdido a oportunidade de o ajudar, mas feliz por pensar que talvez já não precisasse. Mas isso foi só por uns segundos, depois caí na real e apercebi-me que não é de um dia para o outro que um ser humano nestas condições deixa de precisar de ajuda, apenas muda de poiso, apenas mudam os degraus e os rostos de quem se cruza com ele. Fiquei danada comigo mesma por ter pensado tanto, em vez de agir.
Pela hora do almoço saí para uma pausa de café, e aí sim, lá estava ele. Acompanhada de uma colega, entreguei-lhe mimos em forma de comida. Para meu espanto respondeu-nos com um ar agradecido: "e vocês, não precisam de nada?" Ganhei o dia!
E assim tem sido. Aquele ser farrusco de rugas queimadas pelo sol, de barba grisalha e gorro tem elegância no trato, tem meiguice na voz, tem olhar sofrido e cansado mas grato e um gesto altruísta. Acredito que tenha um passado bem diferente daquilo que faz história hoje.
E sim filhota, a Miley esteve muito bem antes de ontem na entrega dos VMA´s, apelando à causa dos jovens sem-abrigo de Los Angeles. Não estou cá só para dizer mal. E tu também podes passar do "Gosto" à acção, quando assim o entenderes, quando te sentires preparada. Não precisas ser famosa, não precisas de ter milhões, basta abrires o teu coração! Fá-lo por ti e pelo outro, mas nunca porque é o que os outros fazem.
quarta-feira, agosto 20, 2014
O dia em que fui à China, ou quando fiquei a saber que rã sabe a frango!
Limoneiros da minha vida, I´m back!
Já fui ali à China apresentar umas coisas, já fui de férias, e já estou de volta ao batente!
Devo dizer que começo a ter algum receio de sair de casa... vou à Tailândia os Espírito Santo andam à nora, vou à China o BES cai, venho do Algarve andam atrás do Montepio.
Enfim, adiante!
Ora então perguntam vocês, como foi Guangzhou?! Foi bom, mas para passeio não se recomenda! 30 milhões de habitantes, quase fotocópia, e não me refiro só às feições.
Guangzhou (Cantão) é uma cidade portuária no sul da China, recentemente transformada num dos maiores centros financeiros do país. Em 2008 foi considerada uma cidade global beta, ou seja, de grande influência económica no mundo. Foi lá que fui à procura de investidores chineses, interessados em Portugal no âmbito do Golden Visa.
Foi lá que me desiludi com a ausência de "cultura chinesa". Aquela da doutrina taoísta, do Yin e do Yang, do Feng Shui, da Cerimónia do Chá, dos Mestres de Shaolin (lembram-se?!), da Dança do Dragão, da Arte do papel, dos Provérbios sábios, dos profundos conceitos filosóficos, e todas essas cenas com que o meu imaginário fantasiava.
As cidades cresceram (e ainda bem), mas sem qualquer respeito ou preocupação pela história, pela preservação do património, pelo passado. Provavelmente porque do passado há muito que nem convém recordar, mas não me parece que seja esse o motivo principal.
Cantão está repleta de hotéis, shoppings e edifícios de escritórios, cada um mais alto e imponente que o outro. A construção dos edifícios é rápida e sem fiscalização (chegam a concluir um piso inteiro por dia). O que importa são as aparências, a última moda, o produto mais caro, o mais excêntrico. Comunismo onde andas tu?
Não há You Tube ou Facebook na China, mas há uma catrefada de outras redes sociais e o volume de compras online é absolutamente inimitável. Há programas para os jovens aprenderem a investir (não é poupar, é investir!), há um canal televisivo exclusivo para o imobilário com QR Code para cada imóvel (MEO e NOS, shame on you por ainda não se terem lembrado disto!).
A profissão de social media concierge é já uma coisa banal (alguém que é pago para gerir não a página da nossa empresa/negócio, mas para gerir a nossa vida nas redes sociais e exibir aquilo que somos e, quiçá, que não somos).
No metro consulta-se a cotação da bolsa no iphone ou no Samsung topo de gama. Tudo é tecnologia, mas tudo é efémero e em vias de extinção. Um restaurante com mais de três anos já está fora de moda. Ou se reinventa ou morre! Há uma necessidade de consumismo e exibicionismo como eu nunca vi em lado algum.
Apesar de a minha deslocação ter sido curta e por motivos profissionais, queria muito ir para além das salas de reuniões. Ninguém faz dezoito horas de voo até à China para se restringir a isso, bolas!
Perguntei se havia museus, templos, monumentos, que pudesse visitar no último dia. Após algumas tentativas falhadas, lá me disseram que havia um museu que talvez valesse a pena visitar: Guangdong Folk Arts Museum. E lá me aventurei pelas linhas de metro, na companhia de dois colegas de viagem (obrigada Diogo e Alejandro por alinharem na minha loucura), à procura de uma réstia de cultura chinesa que merecesse ser vista e fotografada. Valeu a pena!
Na minha deslocação à China, fiquei a saber que:
- o que tem-quatro-patas-e-ande e o que tem-asas-e-voe, é tudo comestível;
- rã sabe a frango;
- guardanapos à mesa, são um luxo e por isso são pagos à parte;
- quem não casa e tem filhos antes dos trinta é tratado com desprezo;
- quem não demonstra ter sucesso profissional é tratado com desprezo;
- o metro em hora de ponta é qualquer coisa de proibitivo!;
- as senhoras urinam de pé/cócoras;
- a poluição cobre todo e qualquer vestígio de céu azul, por isso grande parte deles anda mascarado de enfermeiro;
- tudo é negócio: se nos sugerirem um restaurante estão à espera de receber comissão;
- as chinesas primam em ser brancas como cal e por isso o guarda-chuva/sol é acessório fundamental. (Agora percebo porque nunca encontro chineses na praia);
- Não se curte a vida, mas também não se vive para o trabalho. Vive-se para o dinheiro.
Esta cidade é apenas uma migalha num país tão vasto, e quero acreditar que para além da China dos negócios existe ainda algures a China do meu imaginário, por ambos espero um dia lá voltar!
Rã, anyone?
A China dos negócios:
E depois há estas lufadas de ar fresco:
Já fui ali à China apresentar umas coisas, já fui de férias, e já estou de volta ao batente!
Devo dizer que começo a ter algum receio de sair de casa... vou à Tailândia os Espírito Santo andam à nora, vou à China o BES cai, venho do Algarve andam atrás do Montepio.
Enfim, adiante!
Ora então perguntam vocês, como foi Guangzhou?! Foi bom, mas para passeio não se recomenda! 30 milhões de habitantes, quase fotocópia, e não me refiro só às feições.
Guangzhou (Cantão) é uma cidade portuária no sul da China, recentemente transformada num dos maiores centros financeiros do país. Em 2008 foi considerada uma cidade global beta, ou seja, de grande influência económica no mundo. Foi lá que fui à procura de investidores chineses, interessados em Portugal no âmbito do Golden Visa.
Foi lá que me desiludi com a ausência de "cultura chinesa". Aquela da doutrina taoísta, do Yin e do Yang, do Feng Shui, da Cerimónia do Chá, dos Mestres de Shaolin (lembram-se?!), da Dança do Dragão, da Arte do papel, dos Provérbios sábios, dos profundos conceitos filosóficos, e todas essas cenas com que o meu imaginário fantasiava.
As cidades cresceram (e ainda bem), mas sem qualquer respeito ou preocupação pela história, pela preservação do património, pelo passado. Provavelmente porque do passado há muito que nem convém recordar, mas não me parece que seja esse o motivo principal.
Cantão está repleta de hotéis, shoppings e edifícios de escritórios, cada um mais alto e imponente que o outro. A construção dos edifícios é rápida e sem fiscalização (chegam a concluir um piso inteiro por dia). O que importa são as aparências, a última moda, o produto mais caro, o mais excêntrico. Comunismo onde andas tu?
Não há You Tube ou Facebook na China, mas há uma catrefada de outras redes sociais e o volume de compras online é absolutamente inimitável. Há programas para os jovens aprenderem a investir (não é poupar, é investir!), há um canal televisivo exclusivo para o imobilário com QR Code para cada imóvel (MEO e NOS, shame on you por ainda não se terem lembrado disto!).
A profissão de social media concierge é já uma coisa banal (alguém que é pago para gerir não a página da nossa empresa/negócio, mas para gerir a nossa vida nas redes sociais e exibir aquilo que somos e, quiçá, que não somos).
No metro consulta-se a cotação da bolsa no iphone ou no Samsung topo de gama. Tudo é tecnologia, mas tudo é efémero e em vias de extinção. Um restaurante com mais de três anos já está fora de moda. Ou se reinventa ou morre! Há uma necessidade de consumismo e exibicionismo como eu nunca vi em lado algum.
Apesar de a minha deslocação ter sido curta e por motivos profissionais, queria muito ir para além das salas de reuniões. Ninguém faz dezoito horas de voo até à China para se restringir a isso, bolas!
Perguntei se havia museus, templos, monumentos, que pudesse visitar no último dia. Após algumas tentativas falhadas, lá me disseram que havia um museu que talvez valesse a pena visitar: Guangdong Folk Arts Museum. E lá me aventurei pelas linhas de metro, na companhia de dois colegas de viagem (obrigada Diogo e Alejandro por alinharem na minha loucura), à procura de uma réstia de cultura chinesa que merecesse ser vista e fotografada. Valeu a pena!
Na minha deslocação à China, fiquei a saber que:
- o que tem-quatro-patas-e-ande e o que tem-asas-e-voe, é tudo comestível;
- rã sabe a frango;
- guardanapos à mesa, são um luxo e por isso são pagos à parte;
- quem não casa e tem filhos antes dos trinta é tratado com desprezo;
- quem não demonstra ter sucesso profissional é tratado com desprezo;
- o metro em hora de ponta é qualquer coisa de proibitivo!;
- as senhoras urinam de pé/cócoras;
- a poluição cobre todo e qualquer vestígio de céu azul, por isso grande parte deles anda mascarado de enfermeiro;
- tudo é negócio: se nos sugerirem um restaurante estão à espera de receber comissão;
- as chinesas primam em ser brancas como cal e por isso o guarda-chuva/sol é acessório fundamental. (Agora percebo porque nunca encontro chineses na praia);
- Não se curte a vida, mas também não se vive para o trabalho. Vive-se para o dinheiro.
Esta cidade é apenas uma migalha num país tão vasto, e quero acreditar que para além da China dos negócios existe ainda algures a China do meu imaginário, por ambos espero um dia lá voltar!
Rã, anyone?
A China dos negócios:
E depois há estas lufadas de ar fresco:
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