terça-feira, novembro 26, 2019

É que isto passa num piscar de olhos

Esta foto não é de hoje. 
Hoje, desde que o pai a foi buscar à escola e deu um pulinho com ela no supermercado antes de vir para casa, não houve tempo para brincadeiras e muito menos para fotografias ou filmagens. Estava chatinha, birrenta, chorosa, podre de sono. Foi dar-lhe o jantar, o banho e metê-la na cama. Despediu-se de todos, excepto do mano Timteen que ainda nem tinha chegado a casa da faculdade quando a deitámos. 
Estava tão cansada que assim que foi para a cama, virou-se de barriga para baixo, rabinho para o ar e nem mais um pio. 
É nestas alturas que penso no tempo que estive no escritório e que não a aproveitei. É nestes dias que penso que hoje foi um dia perdido, pois cada dia que passa em que não brincamos é um dia perdido. Só por causa disso amanhã vou tentar chegar a casa mais cedo, vou-lhe comprar umas galochas e chapinhar com ela nas poças de água. Da maneira que gosta de correr e andar ao ar livre, não tenho dúvidas que vai adorar. 
É que isto passa num piscar de olhos.


Dont Become The Person On The Left

Ontem depois do jantar, estava eu com os mais velhos a arrumar a cozinha.
A Smartieteen a pôr a loiça na máquina e a queixar-se que estava a fazer tudo sozinha, como se tivesse medo de "trabalhar" mais que os outros.
Disse-lhe:
- Estou aqui e o Tim também, não estás a fazer nada sozinha. Mas se estivesses também não era nada que eu já não tivesse feito por vocês.
O Timteen a preparar a sua marmita com as sobras do jantar para o almoço do dia seguinte.
Disse-lhe:
- o que sobrar daquilo que retirares para ti, guarda noutro tupperware para o almoço do pai.
- Ah não, cada um que trate do seu almoço.
- Ok, então amanhã quando eu fizer o jantar vou fazer só para mim, e cada um que trate do seu. Parece-te bem?
Filho, as poucas sobras que deixaste são o almoço do teu pai. Já que estás a preparar o teu, custa-te assim tanto tratar do tupperware do teu pai e guardá-lo no frigorífico juntamente com o teu?
Com muita má-vontade, lá fez o que lhe pedi.
Bem me esforço para lhes ensinar, a ambos, que não custa nada fazer uns pelos outros. É que não custa nada mesmo! Mas estão naquela idade de só arrumar o seu copo, só lavar o seu prato, só limpar o que os obrigam. Não fazem nada por alguém, mesmo que esse alguém seja eu ou o pai, ou até mesmo pela irmã, Maria Limão.
Ambos adultos em idade, mas ambos ainda com taaaaaaaanto para amadurecer.


segunda-feira, novembro 18, 2019

Para quem pensa que a recuperação pós-parto é fácil ...não é!

Partilhei ontem no Facebook e no Instagram da Limonada a medalha que recebi após concluir a Corrida Dom Dinis, mas o que vocês não sabem é o significado gigante que esta prova teve para mim. 
Decidi abordar o tema em pormenor, pois acredito que possa ajudar outras mulheres com o mesmo problema.
Eu já tinha feito algumas corridas antes de ficar grávida da Maria, e andava nessa altura com aquele bichinho de tentar fazer sempre mais e melhor. Estava a fazer 10kms em 55minutos, o que eu nunca pensei ser possível quando me iniciei neste gosto pelas corridas.
Durante a gravidez continuei a fazer o meu step até às 38 semanas, fazia uns treinos de corrida leves, mas provas não fiz. 
Depois do parto e naqueles meses em que estive com ela em casa e a amamentar não tinha forças nem para me manter acordada durante o dia, quanto mais ir correr. 
Quando as noites passaram a ser mais tranquilas e comecei a recuperar energias, voltei ao meu adorado step coreografado e aos poucos tentei voltar às corridas, mas assim que comecei a correr os primeiros quilómetros apercebi-me que algo não estava bem. 
Por mais que evitasse beber líquidos e por mais vezes que fosse ao wc antes de começar a correr, quando começava uma prova era impossível controlar. Ainda me inscrevi em duas provas, mas o descontrolo e o incómodo foram tais que me deixei disso, e pensei seriamente que nunca mais voltaria a correr na vida. 
Curiosamente no meu dia-a-dia nada disto acontecia (nem sequer no step), mas em corrida algo de incontrolável se passava. Assim como quem dá um espirro e deita umas piguinhas sem querer. Pois, só que correr 10kms não é um espirro.
A corrida em que efectivamente percebi que precisava de fazer algo mais foi a Corrida de Santo António, a minha Corrida predilecta, a Corrida do Santo da minha Maria Limão (nascida a 13 de junho), a Corrida onde bati o meu record pessoal, a Corrida da minha cidade. Começou a minha luta logo ao km 2 e ainda faltavam 8kms. Um desconforto imenso, um esforço hercúleo para não urinar. 
Não correu bem, posso dizer-vos! 

Decidi falar com a minha médica de família que me deu três possibilidades dependendo do grau de gravidade da minha Incontinência Pós-Parto:
1- não sendo ainda uma situação grave, e tratando-se de um parto recente, podíamos começar com exercícios específicos durante 10 minutos por dia. 
2- se a primeira fase não resultasse, avançávamos para a fisioterapia.
3- se essa também não fosse a solução, restava-me a Cirurgia. 



"A incontinência urinária no pós-parto caracteriza-se por perdas involuntárias de urina nas mulheres que foram mães, devido a alterações do pavimento pélvico, que suporta a bexiga e controla os esfíncteres. Essas alterações dificultam o controlo da micção e levam a perdas involuntárias de urina. As perdas urinárias acontecem com ações simples do dia a dia, como tossir, espirrar, rir ou baixar-se para apanhar um objeto." 


No meu caso era quando tossia ou espirrava (o que não é frequente nem abundante), mas principalmente quando corria, pelo que precisava mesmo de começar a trabalhar para alterar este cenário.
Os exercícios em causa têm o nome de Exercícios de Kegel e basta fazer uma pesquisa simples no Google para os encontrar, mas posso recomendar este site da CUF para uma abordagem inicial.

Mas também existem outros exercícios que se podem fazer como por exemplo, colocar uma almofada entre as pernas e apertar, contraindo também toda a zona pélvica.

Ora a minha grande conquista na corrida de ontem foi exactamente esta. Pela primeira vez, após alguns meses destes exercícios e treinos de corrida na passadeira, fiz a minha primeira prova. 
Pouco me importava o tempo que demoraria a concluir o percurso. Não fui para tempos, não fui para records. Fui para tentar concluir a prova sem um único pingo,  e consegui. Verdade seja dita que não bebi uma gota de água durante a prova, para não correr o risco, mas esse será o próximo passo. Passinhos curtos para atingir grandes conquistas.

Se eu podia simplesmente ter deixado de correr, uma vez que era a única actividade em que isto me acontecia?  Podia, mas ia ser forçada a deixar de fazer algo que gosto quando é uma coisa que até tem solução. Dá trabalho, é preciso empenho, mas é possível resolver. O meu pânico era pensar que se aos 44 já era assim, daqui por uns anos seria bem pior, porque a tendência é para piorar com a idade. 

Se ficou resolvido de vez? Estou certa que não. Este problema pode durar anos após o nascimento do bebé, pelo que os exercícios não são para fazer apenas antes e imediatamente após o parto, não são para fazer quando há sintomas, são para fazer parte do dia-a-dia. Têm de passar a ser uma rotina. 

Para quem pensa que a recuperação pós-parto é fácil, não é! Não são só os primeiros meses, não são só os pontos, não é só recuperar o peso e a queda de cabelo. Isso é o de menos. A gravidez e o parto deixam marcas para o resto da vida. Que o digam as hemorróidas com que a minha primogénita me presenteou há 18 anos. 
Só não vale é desleixarmo-nos e conformarmo-nos com as mazelas. Se houver algo a fazer para resolver o assunto é tentar tudo. Aceitar o perder qualidade de vida é que não! 

 Citações retiradas do site CUF.








terça-feira, novembro 05, 2019

Tem de haver sempre lugar para quem precisa

Esta semana está a decorrer um torneio europeu de padel no ginásio que eu frequento.

Esta semana está complicada para estacionar junto ao clube, está complicado de uma pessoa arranjar cacifo que não tenha os bancos e o espaço à volta todo ocupado, está complicado para ir ao wc, está complicado para secar o cabelo (apenas 2 secadores), está complicado principalmente para uma pessoa se mexer dentro do balneário. Enfim, está uma seca.

Para além de serem muitas, falam alto, em línguas que uma pessoa não entende nada, e na sua maioria são altas, espadaudas, lourinhas e giras que se farta. Ora isto são coisas que chateia uma ´ssoa!

Hoje, após um treino de corrida, tudo o que eu queria era chegar ao balneário e relaxar um pouco
enquanto tomava a minha proteína, mas não tive essa oportunidade. Lá estava uma deitada a receber massagens ocupando um banco corrido inteiro, quatro ou cinco a tomar banho, umas sete na converseta, mais uma a secar o cabelo, e duas à espera para poder ir à casa de banho. Um inferno. Não tinha sequer lugar para me sentar e descalçar, quanto mais para relaxar um pouco.

E depois vêm com aqueles sacos gigantes cheios de raquetes e bolas e cenas, e quase que nos derrubam, estando uma pessoa em trajes menores. Tudo isto a somar às pessoas que já são clientes habituais do ginásio deu uma cacofonia desgraçada.

Dei por mim a bufar e a pensar "estou desejosa que este torneio acabe, irra! Vêm práqui estas gajas impedir-me de curtir o meu treino e o meu banho como faço desde há 15 anos, a invadir o meu espaço, o meu balneário, aquele ambiente tranquilo e familiar onde uma pessoa até pode dar dois dedos de conversa com as colegas de treino e ir para o duche sem se preocupar em deixar o cacifo aberto".

Só uns segundos depois reflecti no que tinha acabado de pensar e confesso que tive vergonha de mim mesma.

Ali estava eu toda comichosa e incomodada. Armada em parva, mesmo! Meus deus, isto é o que as pessoas pensam quando vêem os seus países "invadidos" por imigrantes. Sentem o seu espaço, a sua segurança e o seu conforto ameaçados por quem não é de lá. E eu sou uma dessas pessoas! Sou uma pessoa horrível.

Assim que tive esta epifania toda aquela insatisfação começou a desvanescer-se. O mal não são as pessoas serem estranhas a mim e ao local. O espaço não é meu por mais anos que o frequente e nem mesmo o facto de já lá andar há mais tempo significa seja o que for. O ginásio é de todos e ainda bem que há muito quem pratique desporto e o faça com alegria.

O mal estava em mim e na minha maneira de pensar o facto de ter perdido aquele conforto a que já estava habituada. Em último recurso, o mal está no clube não ter capacidade para receber tanta gente em tão curto espaço de tempo.   Mas pronto, é uma situação temporária.

Assim como será a dos imigrantes se lhes dermos essa oportunidade. Tudo se faz, tudo se arranja desde que haja vontade. Tem de haver sempre lugar para quem precisa.


terça-feira, outubro 29, 2019

Um dia triste para esta Europa

Vamos continuar a comentar o homem que foi de saia para o Parlamento, mais o outro que precisava de uma entrada especial na Assembleia, e a ignorar que esta semana em Estrasburgo se discutiu a criação de mecanismos europeus de protecção de vidas no Mediterrâneo e a proposta de salvar vidas foi chumbada por dois votos, 290 contra 288.

"Chumbada" e "salvar vidas" não deviam fazer parte da mesma frase sequer.

Nesta Europa existe a moda de se falar na necessidade de ajudar os refugiados e os imigrantes que são obrigados a sê-lo, mas quando é hora de agir é deixá-los afogar-se.


Um dia triste para esta Europa.

(Ilustração Vasco Gargalo)


terça-feira, outubro 22, 2019

Momentos que nos marcam para sempre

Longe vão as noites em que ambas estávamos acordadas de duas em duas horas, enquanto o pai e os manos dormiam profundamente. Nessas noites o meu instinto de lhe dar de mamar era automático, pois tudo o que eu queria era que ela voltasse a dormir. E chegámos a adormecer as duas naquela posição de amamentar.
Agora, tirando quando está doente, as noites têm sido relativamente tranquilas. Dou-lhe o biberon antes de me deitar e depois levanto-me uma /duas vezes a meio da noite quando ela tem o sono mais agitado para a cobrir com o edredon, porque o rebuliço é tal que se não fossem as minhas longas e dolorosas deslocações entre o meu quarto e o dela, ela passava a noite destapada.
Quando não acorda ou não se mexe como habitualmente, sou eu que lá vou espreitar se está tudo bem (silly me).
Talvez por ser sempre esta figura que está presente todas as noites desde que lhe dei vida, é o meu nome que ela repete o dia inteiro. Dia ou noite. E seja a que hora for eu estou lá.
É mãe que ela diz repetidamente assim que acorda pela manhã e que só se cala quando eu entro no quarto.
É mãe que ela chama para pedir colo quando se magoa.
É mãe que ela repete para pedir "titinho" quando lhe dá a fome de madrugada.
É a mãe que ela procura pela casa toda, quando eu ando nas minhas lides e de repente lhe bate a saudade, no intervalo dos desenhos animados.
Anda sempre à minha volta, e por isso não é difícil apanhá-la a "arrumar" a despensa, a tirar a roupa do cesto e a colocar na máquina de lavar com muito jeitinho, ou até entretida a brincar com a esfregona.
Ultimamente, quando se deita não é nenhum dos peluches que tem ao fundo da cama que ela quer para aquele aconchego de adormecer. É a mão da mãe.
- queres a coelha bailarina?
- mãe
- queres o piglet?
- mãe
- queres a ovelha?
- mãe.
- ok, queres a mãe. Então deita-te que eu dou-te a mão e fico aqui até adormeceres.
Quando começo a ficar com o braço dormente tento esgueirar-me, mas ela aperta ainda mais a minha mão e não me deixa ir. E repete, a mãaaaae!
Quando finalmente adormece e me liberto, dou-lhe um beijo de boa noite e penso que, apesar de há muito eu não ter uma noite de dormir 8 horas seguidas, esta ligação é fundamental. Para ela e para mim. Estes momentos ninguém nos tira, e são estes momentos que nos marcam para sempre.
Penso que tê-la foi uma das melhores decisões da minha vida. Penso na alegria que ela trouxe a todos nesta casa. Penso no milagre da natureza e na sorte de ela ter vindo assim saudável e perfeita. Penso na magia que ela trouxe à minha vida e que nem nos meus melhores sonhos eu imaginava voltar a ter um amor assim.
Amor de Mãe.




segunda-feira, outubro 21, 2019

Elogiar vs criticar

Numa simples troca de mensagens com uma amiga, a propósito da sua ida ao cabeleireiro, disse-lhe o quanto estava gira, aliás o quanto ela é bonita e tudo lhe fica bem. Mais pura das verdades.
Respondeu-me envergonhada:
- obrigada, assim não sei lidar com tanto elogio.
Como diz a Vivian Ward no Pretty Woman :
- "the bad stuff is easier to believe".
Estamos mais habituados à crítica do que ao elogio, e isso é triste.

Refresca o dia de alguém dizendo-lhe algo de bom:
- estás tão gira/o hoje
- fica-te bem essa cor
- gosto desse corte de cabelo
- estiveste muito bem na apresentação que fizeste
- gostei da maneira como lidaste com a situação
- és uma optima mãe/ pai
- este prato está fantástico, dás-me a receita?
- esta empresa precisava mesmo de alguém como tu. Parabéns pelo desempenho
Mas não o faças só porque sim. Sê sincero/a no que dizes.
Se tiveres dificuldade em elogiar quem te rodeia das duas uma: ou estás rodeado das pessoas erradas, ou o defeito está em ti.
Qual delas é?

segunda-feira, outubro 14, 2019

Missão que nunca se dá por terminada

Sexta-feira foi novamente dia de volta pelas pessoas sem-abrigo de Lisboa com a comunidade vida e paz.
Foi uma noite longa, dura. Acabou tarde. Já estava de rastos quando dei a missão por terminada. Se é que se pode dizer que esta missão alguma vez está terminada.
Mas mais do que isso foi uma volta que doeu na alma e me marcou. Reencontrámos um sem-abrigo que andava desaparecido há uns meses. Encontrámo-lo intoxicado, desesperado, mal educado, agressivo. Estive uns 15 minutos à conversa com ele, a levar ralhetes sobre o staff da Santa Casa e sobre as condições miseráveis em que colocam estas pessoas. Segundo ele condições que nem a um cão se oferecem. Tentei explicar que não estou ali a mando da santa casa. Sou uma mera voluntária que dispensa algum do seu tempo. Que estou ali para lhes levar algum conforto, carinho, e comida.
- Comida, chamas a isto comida? Aquele quarto para onde a santa casa me levou que nem casa de banho tinha, chamas àquilo uma casa?
Estava tão revoltado que já só dei por ele a agarrar-me a mão com força, só parou quando eu lhe disse “estás a magoar-me” e ele viu os meus colegas a saírem da carrinha. Confesso que o olhar raivoso e lunático me assustou, mas é entrar na carrinha e seguir caminho.
Mais á frente, encontramos outro SA que nos pede para não nos voltarmos a aproximar da sua tenda, pois tem um cão de combate consigo que nos pode atacar a qualquer momento. Mexe a mão entre a barriga e as calças e diz-nos ser portador de uma 9mm.
É entrar na carrinha e seguir caminho.
Já passava da uma da manhã quando encontrámos o André. 33 anos, 22 de droga, 10 de cadeia. Meigo no trato, olhar triste e cansado. Está cansado da vida de rua e da metadona, a droga substituta que o “estado lhe deu”. Tudo o que quer é uma oportunidade, um emprego, sair da rua. Falamos-lhe do apoio que a Comunidade Vida e Paz lhe pode dar. Tem saudades da mãe e do irmão mais novo, mas reconhece que eles são mais felizes se ele não estiver por perto. Tem pena de já não ser motivo de orgulho para nenhum dos dois e não sabe se alguma vez na vida vai voltar a sê-lo. Quer uma vida, uma família, mulher e filhos. Despede-se de nós com um olhar de esperança, prometendo que na próxima segunda feira, logo pela manhã, vai ao nosso Espaço Aberto ao Diálogo pedir ajuda.
Foi o André quem me fez sentir que valeu a pena ter saído de casa para fazer esta volta. São situações como a do André que me fazem acreditar que ainda há pessoas que vale a pena ajudar. Sim, porque nem todos querem deixar a rua. Mas, basta que um queira. Basta que um consiga, para que tudo isto valha a pena.


sexta-feira, outubro 11, 2019

A idade traz destas coisas

O meu aniversário já foi há dois dias, mas preciso de deixar aqui este registo em jeito de balanço.

Dizem que nativos de Balança ♎️ são românticos, elegantes, delicados, diplomáticos, que procuram incessantemente o equilíbrio.
Não sei se sou tudo isso, mas gosto sem dúvida de equilíbrio. Preciso de equilíbrio e de estabilidade, apesar de ter noção que foi graças aos momentos de desequilíbrio que me desconstroí e me recriei.
Foi nos momentos de mudança que me elevei.
Foi nos momentos de ruptura que me descobri e reinventei.
Tempos houve em que o novo me fazia tremer e a ansiedade tomava conta de mim como água numa fissura.
Mas se há coisa que a idade tem de bom é o aprendermos que o novo pode ser maravilhoso. O diferente oferece-nos experiências, dá-nos escolhas, acrescenta-nos currículo e obriga-nos a viver. E o viver apresenta-nos a serenidade.
O novo traz emoções que o conformismo desconhece.
Hoje, ao fazer 44 anos, o novo já não me mete medo. Continuo a precisar de equilíbrio e estabilidade, mas já num outro patamar. Equilíbrio sem conformismo, equilíbrio com uma pitada de adrenalina, com vontade de abraçar o tanto que a vida tem. Equilíbrio que não signifique estagnar, mas sim descobrir, viajar, aprender, conhecer, amar, abraçar e sorrir.
Equilíbrio não é ser amigo de todos, mas sim de quem dança o mesmo tango, de quem nos dá colo, de quem nos respeita, de quem preza a nossa companhia, de quem mesmo não sendo de sangue nos acolhe.
Equilíbrio não é aceitar tudo o que nos impingem, mas saber escolher e agarrar o que nos faz bem.
Equilíbrio é arriscar ser feliz. Arriscar-sentir-amar-sorrir como se fossem todos um verbo só.
É aproveitar cada dia porque o amanhã é magia.



terça-feira, setembro 17, 2019

Isto de criar filhos é uma aventura

Tenho uma filha na creche e os outros dois na faculdade.
Idades tão diferentes, com necessidades tão díspares que por vezes preciso de fazer um switch on e switch off e transitar a minha mente do modo "mãe-galinha" para o modo "deixa voar".
Com a Maria tenho a preocupação da quantidade de vezes que fez cocó, os períodos de sesta, a introdução dos alimentos sólidos, a alimentação saudável e as alergias, as vacinas e as doenças na creche, o percentil de peso e altura, e as teorias Montessori, apesar de todos os dias ela me deslumbrar com uma aprendizagem nova.
Com os crescidos, já adultos (ahahah, adultos! Meu deus, se eles soubessem o que é ser adulto), o chip muda para as saídas à noite, as amizades, os namoros, o percurso académico, a gestão da mesada, a vontade exagerada de liberdade e independência, as respostas mais tortas e arrogantemente cheias de certezas. A gestão de os empurrar para se fazerem à vida pelo próprio pé e não querer ainda que deixem de precisar de mim tão depressa.
Se para a Maria sou o centro do mundo, para os outros sou a periferia (dói, mas tem de ser).
Com a Maria estou a reviver toda a ansiedade do "ser mãe" com outra maturidade, com outra experiência de vida, mas sempre com o mesmo coração apertado. Não há volta a dar.
Com a Maria tenho a certeza de quem nem sempre vai ser assim e que isto passa num piscar de olhos. Coisa que quando os outros eram pequenos eu sabia porque já me tinham avisado, mas eu ainda não tinha sentido na pele.
Vou aproveitar enquanto esta me puxa as saias e pede colo, enquanto me pede para eu me sentar no chão a brincar com as molas da roupa, enquanto chora e se agarra ao meu pescoço ao entalar o dedo na gaveta, que insiste em mexer apesar de eu já ter dito mil vezes "Não Mexe Aí, Mariiiiiiiiiia".
Isto de criar filhos é uma aventura.



quinta-feira, setembro 05, 2019

Movimento #Deixa jogar

Sempre associei o futebol a asneiredo, é verdade. Eu própria o faço, quando estou a ver futebol e há uma bola à trave ou um lance que poderia dar golo e não dá. De vez em quando lá sai uma caralh&%$#. São desabafos.
Não obstante, não concebo o futebol como uma possibilidade de agredir ninguém, seja verbal ou fisicamente. O futebol não é isso. Muito menos em jogos dos nossos filhos, em que os putos só se querem divertir, correr e jogar à bola.
Uns dias ganha-se, noutros perde-se. Não se pode ganhar sempre, mas parece que só os pais é que ainda não entenderam isso. Neste cenário os pais são muitas vezes um péssimo exemplo do que significa competição. São o exemplo da ofensa desmesurada, do racismo, do sexismo, da violência física nas bancadas com outros pais e da opressão aos próprios filhos. Sem paninhos quentes: o pais a serem completos idiotas, vá.
No meu tempo jogava-se à bola na escola, no recreio ou nas aulas de educação física, e os pais não estavam lá para ver. Felizmente. Tinhamos tempo de chegar a casa e explicar o joelho esmurrado por causa do quase-golo que marcámos. Éramos felizes.



Antes da ida para a creche

Hoje, antes da ida para a creche, ainda houve tempo para cuspo em frente ao espelho. 
Houve beijinho na Maria, beijinho na mamã.
Houve brincadeiras com o carrinho (espero que os vizinhos já tenham as miúdas na escola).
Houve gargalhadas, palhaçadas e abracinhos.
Ela ri desmesuradamente até os olhos sorrirem com ela, e eu também.
Ela fica melhor na escola, e eu venho trabalhar de coração cheio.





sexta-feira, agosto 30, 2019

Um ano separa estas duas fotos



Um ano separa estas fotos. 

A Maria tinha 2 meses na foto da esquerda, tem 14 meses na da direita. 
Tanta aprendizagem, dela e nossa. Tanta coisa mudou na adaptação dos nossos ritmos à chegada da Maria, e ela a nós.
Para se ir habituando, começou a viajar cedo. Com apenas 4 meses a Maria Limão estreou-se no avião ✈️ até Amesterdão. Repararam na rima? Esta rima deu origem a uma canção que eu inventei e lhe cantava constantemente. Nesta altura a Maria ainda tinha medo de tomar banho de chuveiro, e como a casa de banho do hotel não tinha banheira, tivémos de nos desenrascar a dar-lhe banho no lava-loiça da Kitchenette.  Alojarmo-nos em quartos com kitchenette sempre que viajávamos passou a ser uma prioridade. Andou de avião, metro, autocarro, sempre no seu Conjunto de rua Duo Adventure ZY Safe, no qual passeva e dormia onde e quando calhava. 
Trouxemos as tradicionais socas de madeira no tamanho do pé da MAria, o tamanho 17, imaginem o quão
minúsculas são.



Como na 1ª experiência de viagem a Maria se revelou tão boa companhia, aos 8 meses fomos a Sevilha onde comprámos a máscara de carnaval que a Maria usou no carnaval passado.




Celebrámos os seus 10 meses em Paris, e ainda fomos a tempo de visitar a Notre Dame antes do incéndio que ocorreu uns dias depois.  Estão a ver o metro de Paris? Escada acima, escada abaixo, desce, sobe e torna a descer, com o carrinho ao colo, pois não há elevadores no metro de Paris. às tantas largámos o carrinho no hotel e passámos a andar com ela no marsúpio. Tivémos alturas de parecer pais pela primeira vez, pois tendo o Timteen e a Smartieteen 18 anos, há coisas das quais já não nos lembrávamos, Nesse sentido cometemos alguns erros, como termos perdido o voo em Paris, lembram-se? Burrice nossa, teimosia do pai.




As corridas do pai levaram-nos ainda a Basel em Maio (11 meses), onde aproveitámos para conhecer Estrasburgo e algumas das maravilhosas aldeias da Alsácia. 



Por cá tivemos passeios por Fátima, Porto, Aveiro, Peniche, e as férias de verão em Albufeira e na Zambujeira do Mar (descritas no post de ontem).



Anda connosco para todo o lado. Aventuras atrás de aventuras. Experiências, aprendizagens, adaptações para viajarmos a 3 e muitas vezes a 5 (quando o Timteen e a Smartieteen se juntam a nós).  Mais uma mala com fraldas e toalhitas, a mochila das sopas, iogurtes e frutas em boião, o carrinho de rua, tudo encaixa e tudo se faz se assim tiver de ser. E em breve tudo isso deixará de ser preciso se lhe dermos tempo para crescer. Já não conseguimos é viajar sem ela.

Em todas as viagens uma constante: a música que usamos para adormecer a Maria onde quer que ela esteja. A música que o tio compôs ainda ela estava na minha barriga. A música que ela reconhece, que a acalma e a prepara para o sono da noite, independemente da parte do mundo onde está. Depois de tanta novidade e descoberta, ao fim do dia sabe bem ter algo que nos relembra a nossa casa, algo que nos é familiar. No caso da Maria esse aconchego é a sua música. (cliquem no link para ouvir).

As histórias são como as cerejas e levam-nos a outras histórias. É que o pai bateu o seu recorde na maratona de Amesterdão com o tempo 3h09m55s, atingindo os mínimos para se candidatar à maratona de Boston. Se for apurado, Boston here we go. E muitas mais histórias teremos para contar. 

Possivelmente ela não se vai lembrar de tudo isto, mas fica o tempo de qualidade que passa connosco, fica o pai fazer cada maratona, seja em que país for, sabendo que estamos na meta para o apoiar e fica aqui o registo do primeiro ano da Maria, para ela ver quando for crescida e para vocês irem acompanhando. Continuam a seguir-nos? 




quinta-feira, agosto 29, 2019

Estas férias de Verão

Estas férias foram um pouco atípicas.
Na 1a semana a Maria esteve doente e ficámos por casa.
Na 2ª semana fomos ao Zmar e viemos, fomos ao Algarve e viemos. Foram férias aos bochechos e sem um verão quente a sério. Valeu principalmente por ver a Maria a percorrer tudo, e perceber o quanto ela cresceu nestas férias. Andamos deliciados com o quanto ela desenvolveu neste curto espaço de tempo.
A Maria Limão começou a andar pouco depois de ter feito um ano, e agora ninguém a pára.
Não gosta de estar fechada em casa, pelo que assim que lhe dizemos "Maria, vamos à rua" ela larga o que está a fazer e dirige-se para a porta de casa.
Se connosco ela já é imensamente estimulada pelos irmãos Timteen e Smartieteen, agora imaginem passando férias com uns avós no Alentejo e com os outros avós e primos no Algarve. Bastou sairmos da rotina, creio eu, porque com a mudança aprende-se sempre muito.
Foi nestas férias que teve a sua primeira queda e esfolou a perna esquerda toda, que partiu um copo espetando um vidro no pé, e que aprendeu a beber água do bebedouro do parque. Foi nestas férias que demos conta que percebe grande parte do que lhe dizemos, como por exemplo, se lhe pedirmos para ir pôr a fralda no lixo, lá vai ela toda catita.
Na piscina dos avós dá gargalhas, bate com as mãos na água numa excitação enorme e aventura-se tentando largar-se do colo onde está. Quer andar à solta.
Já reconhece o avô, a avó, e tenta falar deles dizendo e quando os revê nas fotografias.  Sabe onde ficam os quartos dos irmãos, faz birras e pede (colo). Quando está birrenta só quer o colo da mãe. Diz adeus enquanto diz Ádi e manda beijinhos.
Está mais alta e magrinha e já tem 8 dentes.
Adora arroz de toda a maneira e feito, mas ainda tem dificuldade em comer alimentos maiores ou mais sólidos, come toda a espécie de fruta desde que passada.
Continua a preferir a sua chucha mesmo que com 14 meses de uso e não pega em mais nenhuma, é fã dos livros que a avó paterna lhe ofereceu e preferindo-os aos peluches e bonecas. Gosta de legos, mas rapidamente se cansa deles.
Só quer andar, andar, andar para um lado e para o outro. Assim que chega à praia entra pela água dentro, sem medos e sem frios, só quer é ondas, baldes e bolachas. Come bolachas misturadas com areia, desfaz os castelos que lhe fazemos e entorna para cima dela a água que recolhemos com o balde.
Gosta de ser o centro das atenções e se estou ocupada ou distraída ela grita para que eu saiba que está ali. Quando finalmente lhe dou atenção, estende-me um dos seus livrinhos como que a pedir-me para lhe contar a história. Quando lhe devolvo o livro, se o fizer de pernas para o ar, ela vira-o e pega-lhe na posição certa. Não sei como, nem que indícios ela recebe daqueles livros para que perceba que estão ao contrário, mas percebe.
Já teve momentos de chegar ao pé de nós e dizer cócó, e quando vamos verificar tem mesmo a fralda suja. Já tenta repetir algumas palavras, tagarela o dia todo, e aprendeu a pedir bábua (água).
Adora escorregas e já os sobe no sítio por onde é suposto descer, tal qual uma spider-baby, mas não é fã de baloiços. Dá gargalhadas contagiantes quando lhe fazemos cócegas ou jogamos ao "A Maria Não Está Cá".
Vai para a casa de banho quando lhe dizemos que é hora do banho e diferencia os brinquedos da banheira com os quais se entretinha durante horas, se a deixássemos.
Sabe onde ficam os pés, as mãos, a cabeça, o pipi e o nariz. Descobriu o nariz recentemente, e escarafuncha-o com o dedo indicador como se não houvesse amanhã.
Dança quando lhe pomos música do rádio e fica especada a olhar para a televisão com um sorriso de orelha a orelha quando reconhece os seus desenhos animados preferidos. Vibra com tudo o que seja músicas, genéricos e publicidade do Disney Junior e Baby TV.
Quando lhe digo que NÃO ela testa-me uma e outra vez com aquele ar de safada, até o NÂO ser dito aos berros e de olhos arregalados.  Sim, este fedelho de 14 meses sabe o que quer e o que não quer. Nesta fase a sua decisão mais difícil é responder se quer água ou bolacha, mas já diz na na na na quando não quer, e acena que sim com a cabeça em sinal de aprovação.
Ao fim do dia está de rastos e podre de sono, mas mesmo assim liga e desliga a luz de presença da cama de grades até se render ao cansaço.
É irrequieta, teimosa, palhaçona, insatisfeita, espertalhona, faladora, expressiva, doce, refilona e não gosta de ser contrariada.
Tenho sempre a tendência para a comparar com a irmã, que era muito mais tranquila e calminha, chegando a pensar que desta vez o desafio da maternidade vai ser muito maior. Diferente pelo menos está a ser.
Dá trabalho, muito trabalho, e com esta personalidade forte parece-me que me vai dar muita luta, mas não há nada melhor do que estar com ela o dia inteiro, vê-la crescer a este ritmo, desfrutar dela todos os dias e sentir-lhe o cheiro, mesmo que seja a chulé quando lhe descalço as sandálias ao fim do dia. Até isso é maravilhoso nela.
Nunca lhe perguntei, porque não me vai saber responder, mas tenho cá para mim que é uma miúda feliz. Nestas férias pelo menos foi muito feliz. E nós também.






segunda-feira, agosto 26, 2019

Pessoas que não sabem estar

Há uns dias abordei numa página de facebook uma mãe de uma criança que nasceu menino, mas que se sente menina e que se assumiu como uma Leonor.
Uma mãe que aceitou orgulhosamente a decisão da filha e que abriu o seu coração ao mundo dizendo que precisava era de apoio e não de críticas a este novo despacho, e que estava a dar um enorme puxão de orelhas na Laurinda Alves pelo artigo que escreveu sobre este assunto.
Perguntei directamente a essa mãe que tipo de ajuda e apoio precisava não apenas ela, mas também a Leonor que nasceu biologicamente como um menino.
Deixei nos comentários como mãe, se ambas precisam de apoio psicológico, de apoio na mudança fisica de sexo, etc, no fundo perguntei a que tipo de apoio se referia essa mãe naquele seu desabafo.
A mãe a quem me dirigi nunca me respondeu, mas os comentários de terceiros foram do mais ridículo e agressivo  que poderia haver,  dizendo que quem precisava de ir ao psicólogo era eu. Houve quem inclusivamente me dissesse que quem precisava de cirurgia ao cérebro era eu. Como se a Cirurgia de Redesignação Sexual não fosse um dos maiores desejo de um transsexual.
Conclusão: Eliminei o meu comentário.
Cada vez gosto menos de partilhar a minha opinião nas redes sociais. As pessoas não sabem estar, não sabem falar. Fiz uma pergunta directa àquela mãe, não estava a falar para terceiros. Fiz uma pergunta sincera, colocando-me nos pés daquela mãe e tentando perceber como mãe de que tipo de apoio precisaria eu e a minha filha se um dia ela decidisse ser não uma Maria, mas sim um Manuel. Aquele menino que agora era menina deveria com toda a certeza ter motivos para precisar de apoio psicológico, muito mais do que algumas crianças que andam a ser seguidas assiduamente por motivos aparentemente bem mais simples de resolver.
Que a internet está cheia de idiotas rancorosos e desejosos de ter em quem depositar a raiva com que acordam diariamente eu já sabia. Só nunca me tinha calhado a mim directamente.
Continuo com a minha dúvida e com a mesma questão. As pessoas a quem este despacho se destina, as crianças que estão a passar por este processo e suas famílias, de que tipo de apoio precisam em primeira mão? Será mesmo a questão das casas de banho uma prioridade? Gostava de os ouvir, de perceber as suas angústias e frustrações e de que forma podemos todos trazer-lhe um pouco de alívio. Mas neste momento acho que prefiro ficar na ignorância.
Daquela mãe não obtive qualquer resposta (ou não viu a pergunta ou preferiu deixar qie terceiros respondessem por ela)  e eu sinceramente também não tenho vontade de perguntar a mais nenhuma. 

quinta-feira, agosto 22, 2019

Tolerância sim, ingenuidade não

Chama-se Despacho n.º 7247/2019 e está a causar grande polémica porque pretende que as escolas abram as suas casas de banho e balneários a rapazes e raparigas de todas as idades, no sentido de promover o “direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e o direito à proteção das características sexuais de cada pessoa”. No fundo, deixarem a criança, de qualquer idade, escolher a casa de banho e o balneário de acordo com o seu "género".

Ainda não consegui emitir uma opinião definitiva acerca deste assunto. Por um lado concordo, por outro não.

Como tenho lido muita besteira por essa internet fora, relembro que não se está aqui a falar de orientação sexual. Não estamos a falar de homossexualidade. Fala-se de género. O género físico não se escolhe. Nós já nascemos com ele, é determinado biologicamente. É o sexo com que nascemos. Todavia, por algum motivo, há quem não se identifique psicologicamente com o género com que nasceu.  E é para estes que este despacho se destina. Não é para os homossexuais, ok?

Como diz a maravilhosa @Quadripolaridades em tom irónico e para descomplicar um pouco o tema,  "O português xixa nas beiras das estradas, nos pés de estátuas, atrás de carros, no mato quando está aflito, de pé, de joelhos, de cócoras ou a fazer a ponte durante festivais de verão, nas piscinas públicas, na areia da praia (sim, sim, as criancinhas também contam...) e vocês estão aí em discussões metafísicas sobre placas com perninhas ou saias nas portas das casas-de-banho?".

Agora mais a sério. Não podemos negar que estas pessoas existem. Existem e sofrem por estar presas num corpo no qual não se sentem confortáveis. Não imagino o quanto isso possa ser perturbador. Nessa perspectiva entendo que se dê tempo e espaço para as crianças decidirem de que género querem ser.

Não sou psicóloga, nem tenho aspirações a sê-lo, mas creio que esse acompanhamento deve ser dado primeiramente em casa, no seio família. Não se trata de esconder a criança, mas sim de, em privado e onde se sente confortável, ela ter tempo para se conhecer, para se questionar a si e aos seus pais sobre o tema.

Suponhamos uma criança que nasce com o sexo masculino, e com a idade se apercebe que se sente mais menina do que menino nos seus comportamentos sociais. O que fazer em relação a isso? Como lidar com isso? Pretende fazer cirurgia reconstrutiva de redesignação de sexo? Não pretende? Precisa de apoio psicológico? De terapia emocional?

Saindo do seio familiar, e passando para a escola. Creio que seria mais importante questionar os próprios e as suas famílias, sobre o tipo de apoio que a escola e respectiva direcção poderão implementar, do que a simples abertura das casas de banho da escola a meninos e meninas, sem se pensar nas efectivas vantagens/desvantagens e consequências disto.

Sejamos práticos, todas as escolas (públicas ou privadas) têm os chamados idiotas, os chico-espertos, os que gostam de quebrar as regras e ainda se riem de serem mal-educados. Não tenho qualquer dúvida que estes se vão aproveitar desta tentativa bem-intencionada de implementação da igualdade para seu belo prazer. Vão usar e abusar deste despacho para irem ao balneário espreitar maminhas e rabos das meninas. Sim, porque o abuso sexual não é só quando há violação física. O assédio também é abuso sexual. Os olhares, os piropos também incomodam. Nisto, a Laurinda Alves tem razão, bolas!!! Como podemos garantir que o menino que entrou pelo balneário das raparigas dentro o fez pelas razões que o despacho definiu?

As crianças habituam-se a tudo, é verdade! Se forem habituados desde pequeninos a partilharem casas de banho como se não houvesse género (como se faz nas creches), educados dessa forma, sem nunca perderem esse hábito, até podiam ir todos à mesma. Não havia cá casas de banho das meninas e dos meninos. Iam todos à mesma. Havia uma única casa de banho para todos. Uma cena estilo "Imagine" do John Lennon​.: "Imagine all the people sharing all the world, all the bathrooms..." .  Se os deficientes (homens e mulheres) partilham a mesma casa de banho, nós (os ditos "normais") também o conseguimos fazer. Tem é de ser bastante limpinha e asseada.

As casas de banhos ainda são locais e de porta fechada, mas e os balneários? Despimo-nos todos à frente uns dos outros sem olhar a géneros?

Como disse no início, não consigo estar totalmente do lado dos a favor, nem completamente do lado dos que são contra. Por isso não comecem os radicais de um lado e de outro a dar facadas aí nos comentários. Tenho dúvidas do resultado prático desta medida. Levanto questões. E acho que era isso que se deveria ter feito antes de emitir este Despacho. Sou totalmente a favor da tolerância, não sou a favor da ingenuidade imatura.

Apoio psicológico e possibilidade de cirurgia de redesignação de sexo são a meu ver a prioridade. A ida à casa de banho é um mal menor em todo o sofrimento que passam, mas creio que apenas os próprios poderão dizer o que para eles é uma prioridade.

No limite, criem-se wcs e balneários ungenderous e vai lá quem quer.

terça-feira, agosto 20, 2019

Factos na história e curiosidades que me encantam de sobremaneira

Há factos na história e curiosidades que me encantam de sobremaneira, como por exemplo:
- descobrir que a famosíssima e caríssima mala da Hermés conhecida como Birkin Bag foi criada pela marca para a actriz e cantora Jane Birkin. Aquela mesma Jane Birkin que, a par com Serge Gainsbourg, canta aquela música francesa muito sexy e erótica (e que inclusivamente foi proibida pelo Vaticano) chamada "Je táime... moi non plus". Vocês conhecem de certeza.
- A conhecidíssima marca de automóveis eléctricos Tesla, que recentemente colocou um carro no espaço, fez do seu nome uma homenagem ao inventor e engenheiro electricista Nikola Tesla, o qual (entre outras coisas) descobriu uma maneira de transmitir eletricidade sem fios. Para além da marca de automóveis, também a banda de rock norte-americana Tesla lhe deve o seu nome. Tesla é nome de uma cratera na lua, e existe um aeroporto em Belgrado chamado Nikola Tesla. Nas Cataratas de Niagára está uma estátua construida em sua homenagem. Conheciam Tesla antes do aparecimento dos veículos de Elon Musk?
- Michael Jackson escreveu a letra de “Bad” com a intenção de a cantar num dueto com Prince, mas devido à frase inicial “Your butt is mine" Prince recusou-se. Alegadamente Prince terá perguntado ao Michael: “Quem é que vai cantar essa parte para quem? É que de certeza que tu não a vais cantar para mim.”
- "Futilidade" é um livro escrito por Morgan Robertson cuja narrativa apresenta o transatlântico Titan, que se afunda no Atlântico Norte, após bater num iceberg. Qual parte incrível desta história? O livro foi escrito 14 anos antes do célebre naufrágio de Titanic. Masabuni Hosono, o único passageiro japonês a bordo e que sobreviveu ao acidente, foi considerado um cobarde pelos seus compatriotas por ter preferido salvar-se a morrer juntamente com os restantes passageiros. Curioso o nome do livro ser Futilidade.
- Graças à investigação da jornalista Veronica Guerin sobre a máfia e os barões de droga irlandeses, que levou ao seu assassinato em 1996, a população da Irlanda se revoltou e protestou nas ruas, Os barões de droga tiveram seus bens confiscados e foram presos. Um ano depois, os crimes caíram em mais de 50% na Irlanda. Veronica Guerin é considerada uma heroína na Irlanda. Cate Blanchett protagoniza a jornalista num filme de Joel Schumacher (o realizador dos filmes Batman, o Cliente e ) de 2003, chamado Veronica Guerin. Schumacher é o realizador de dois filmes que adoro: o Cliente e Tempo para Matar. 
- River Phoenix, o actor conhecido pelo filme Stand by me, que morreu aos 23 anos de overdose, é irmão do actor Joaquin Phoenix. Como é que eu não sabia isto?
Adoro estas histórias. Partilhem mais destas pérolas nos comentários, e façam de mim uma Limonada muito mais informada.

segunda-feira, agosto 19, 2019

Dos almoços com as amigas a dizer mal dos maridos

Tenho almoços em atraso para marcar com amigas, daqueles para descontrair e que me fazem melhor do que duas sessões de terapia por mês.
No outro dia, encontrei o marido de uma amiga e pedi-lhe para lhe dizer que tinha saudades dela e que precisávamos de marcar um almocinho. E diz-me ele em tom de gozo: - Almoço? Para falarem mal de nós, maridos, não é?
Não. Mas é que não mesmo.
Primeiro, quando nos juntamos temos muito mais para partilhar umas com as outras do que histórias sobre os nossos maridos. Tudo bem que por uma questão de educação e amizade se pergunta pela família e como estão todos lá em casa. Mas, há um rol de cenas e opiniões para falar: do livro que se leu, do filme que se viu, da nova série da Netflix que estamos a acompanhar e que é um must, da viagem que gostariámos de fazer no próximo ano, dos saldos da Zara, do corte de cabelo para depois do verão, dos quilos que engordámos durante o período de férias porque deixámos de treinar, do Santini que agora tem um programa de fidelização que acumula pontos que podemos trocar por gelados, que ontem à noite vimos as notícias e confirma-se que o Trump é um idiota, do Processo de Tancos que julgávamos esquecido mas afinal vai sobre rodas e já conta com 25 arguidos, do concerto dos @TheGift em Cascais que gostaríamos muito de assistir, da Noite Branca em Loulé no final de Agosto, do novo filme do Tarantino que relembra o assassinato de Sharon Tate e os crimes de Charles Manson, de uma nova experiência de voluntariado. And so on and so forth. Podíamos estar um dia inteiro na tagarelice sem mencionar o vosso nome.
Segundo, para passar a vida a dizer mal do meu marido às amigas, por que raios estaria eu com ele?Nunca percebi muito bem a razão de se estar com alguém se é para estarmos sempre a lamentarmo-nos da má sorte que nos calhou. Quem não está bem muda-se, de preferência para melhor. Se o melhor não vier, vale mais só que mal acompanhada, minha gente. Passar a vida a dizer mal de quem nós escolhemos para partilhar os nossos momentos, a nossa intimidade e o tempo que nos resta neste mundo, é que não me parece lá muito inteligente.
Mas isto sou eu que tenho mau feitio e falo pelos cotovelos.