terça-feira, maio 29, 2018

Eutanásia é hoje debatida na Assembleia

A Eutanásia é hoje debatida na Assembleia. Se eu acho que um dos quatros projectos de lei apresentados vai ser aprovado? Acho que não. Se eu acho que pelo menos um deles devia passar? Acho que sim.
Tal como na despenalização do aborto não se verificou um acréscimo de grávidas a abortar que nem loucas, nem a usar o aborto como método contraceptivo, também não me parece que agora tudo o que seja doente terminal deseje morrer. Não é assim que funciona. Não é por se despenalizar um acto que as pessoas passam a cometê-lo "à Lagardère".
Acredito que quem seja pela VIDA, continue a sê-lo mesmo que se encontre numa situação terminal, ou que tenha um familiar nessas condições. Quem entende que a VIDA só Deus no-la pode tirar, vai continuar a acreditar nisso por mais que a lei mude. E esses têm o direito de exigir mais e melhores cuidados paliativos ao nosso Serviço Nacional de Saúde. Abençoados os que têm a coragem de seguir esse caminho. Se algum dia chegar a passar por isso, espero ter a mesma força e a mesma coragem.
os que sentem que a VIDA é sua e que querem ter a escolha de lhe pôr um termo se assim o entenderem, também não vão mudar de ideias só por que a lei não passa. Simplesmente, vão continuar a sofrer durante meses, anos, décadas até ao dia da morte natural. Não existe um crime por Eutanásia na legislação portuguesa, mas existe o homicídio privilegiado, o homicídio a pedido da vítima e o crime de incitamento ou auxílio ao suicídio, crimes esses puníveis até cinco anos de prisão. Como se não bastasse todo o sofrimento da própria doença e a tortura diária que apenas ele conhece, ainda leva com as críticas dos que acreditam no castigo divino e com a dura pena das leis.
O que hoje na Assembleia não se deve debater é se a Eutanásia vai passa a ser um hábito comum, mas sim que quem a escolher deixa de ser penalizado e castigado por isso. Hoje deve ir a debate o direito de cada um escolher o seu fim, sem estar dependente da opinião dos outros, pois só ele sabe o que está a passar. Os pró-vida não passam a ser obrigados a escolher a morte medicamente assistida só porque a lei muda, mas também não podem obrigar quem não quer a permanecer numa vida de tortura.
Se em vida fazemos as nossas escolhas, independentemente do que os outros possam pensar, por que não o podemos fazer perante o sofrimento incomensurável e a morte anunciada? Quem são os outros para decidir se essa pessoa está na disposição de continuar a sofrer ou não? Quem são os outros para decidir se ele vai ou se fica? E se ele quiser desistir? Vamos continuar a pregá-lo na cruz e a exigir que ele sofra até o corpo ceder em definitivo? Mas que raio de humanismo e amor ao próximo é esse?
Se me disserem que ainda há muito para discutir acerca de como tudo isto se vai processar, como é que o paciente deverá afirmar que pretende morrer, em que locais o poderá fazer, que deverá haver um registo clínico e um processo a decorrer com relatórios e pareceres médicos que concluam determinantemente que o paciente não tem salvação possível, e que seja um processo pensado, ponderado e não um um mero desabafo que se manda para o ar num dia mau, eu até dou de barato. Há ainda muito por decidir sobre os trâmites de uma decisão dessas, como por exemplo, o médico que segue o paciente pode recusar-se a avançar com a assistência à morte do seu próprio paciente, alegando o juramento de Hipócrates, e na verdade ninguém o pode obrigar.
Só não me venham com os argumentos fundamentalistas e religiosos sobre o direito à vida, até porque estranhamente, muitos dos que usam esses argumentos contra a Eutanásia são a favor da Pena de Morte.






quinta-feira, maio 24, 2018

Update 38 semanas #gravidaaos42

Como o tempo passa. 
Quando soube que estava grávida interrompi os meus treinos até fazer 12 semanas, até ter a certeza de que não haveria riscos. 
Esta é a evolução desde essa altura até agora. 
A foto mais à direita é obviamente a mais recente. Foi tirada hoje depois do treino. 
Amanhã já fazemos 38 semanas. 
Vou ter saudades deste registo semanal, vou ter saudades de partilhar com a minha Maria esta alegria de treinar. 
Não vou ter saudades de me besuntar com creme três vezes por dia, mas vou sentir falta de mexer na barriga enquanto falo com ela.
Não estou cansada, nem desejosa que isto acabe, apenas imensamente curiosa e com enorme vontade de a ver. 
Está quase!
#ginasio #fitmum #limonadadavida



segunda-feira, maio 21, 2018

Na fila do supermercado

No supermercado:
Aproximo-me da caixa para pagar três ou quatro coisas com o meu barrigão de 37 semanas de gravidez.
No final da fila estão duas raparigas novas. Peço licença e deixam-me passar.
Á frente está um senhor nos seus 50 anos, vestido de fato e gravata, como que acabado de sair do escritório. Aproximo-me e digo:
- dá-me licença?
Olha para mim, mas continua a tirar as compras do carrinho para cima do tapete.
Repito:
- dá-me licença?
- o que é que quer?!
- quero passar!
- quer passar? Ouça lá, pressa também eu tenho!
- pois, mas eu tenho prioridade e o senhor não.
Ao mesmo tempo que o disse comecei a pousar as minhas compras no tapete à frente das dele.
Olhou-me de cima a baixo, com um ar chocado, com uma expressão incrédula, como se estivesse a ser ultrapassado sem motivo aparente.
Nisto a senhora da caixa começa a passar as minhas compras.
Paguei.
Antes de sair, olhei para ele e perguntei:
- acha mesmo que lhe teria passado à frente só pela arrogância de achar que tenho mais pressa do que o senhor?
Mesmo com a alteração da legislação, com os símbolos de prioridade escarrapachados em todos os locais de atendimento, não entendo como é que ainda há quem olhe para uma grávida e, em vez de oferecer a sua vez, fique chocado por exercermos os nossos direitos, como se de uma afronta se tratasse.
Numa situação destas, estando ainda no início da gravidez e sem grandes dificuldades, provavelmente não teria feito prevalecer os meus direitos. E acredito que haja muita grávida que não esteja para se chatear e acabe por esperar. Já dei por mim a não dizer nada, só para não chatear as pessoas, para não ter de dar o ar de vítima necessitada só porque estou grávida. Já dei por mim constrangida, sem saber como pedir a prioridade a que tenho direito e mereço, pois as pessoas até estão na fila agarradas ao telefone e completamente a leste de quem possa estar na fila. Demasiado ocupados com as suas vidas nas redes sociais para repararem que está uma grávida na fila. Mas já são 37 semanas de gravidez, estava calor, ando mais inchada que nunca, e a maneira como ele olha para mim e me pergunta "o que quer?!", como que diz "tas a chatear-me para quê?" deixou-me virada do avesso.
Grávidas, com muitas ou poucas semanas, façam prevalecer os vossos direitos e não tenham vergonha de pedir licença para passar à frente, mesmo que haja quem não goste de ser ultrapassado e tenha a atitude ridícula de ficar chocado.
E quem diz grávidas, diz os restantes com direito à devida prioridade.
Quanto aos outros, estejam mais atentos quando estiverem num fila, e mais do que estarem à espera que seja a coitadinha da grávida a ter de pedir que a deixem passar (o que por vezes é constrangedor), sejam pessoas decentes e ofereçam o vosso lugar. Essa atitude faz toda a diferença.
#limonadadavida #gravidez #prioridade

quarta-feira, maio 16, 2018

Se isto é futebol:

Desde miúda que gosto de futebol.
No liceu, em vez de jogar vólei com as colegas de turma preferia jogar futebol com os rapazes. E sempre que o professor de educação física deixava, era no campo da bola que me encontravam. Tenho memórias da euforia futebolística por parte dos clientes que frequentavam o restaurante dos meus pais, dos jogos que se viam na televisão do bar e dos relatos do ilustre Rui Tovar.
Ainda hoje gosto de um bom jogo de bola acompanhado de entremeadas e cerveja, das asneiras que se dizem quando o arbitro não apita a nossa favor e da magia de gritar golo. É muito provavelmente o maior símbolo do meu lado pé-de-chinelo. Só não vou mais vezes ao estádio, nem à roulote comer a bela bifana, porque escolhi para minha cara-metade um adepto de um clube rival.
Hoje, e apesar de os acontecimentos de ontem nada terem a ver com o meu clube, sinto-me triste. O acto de terrorismo de que foram alvo os jogadores e treinador do SCP não tem qualquer tipo de justificação, de quem se diz adepto de futebol e que ama muito o seu Sporting. Ora, isto lembra-me mais um marido que diz que ama muito a mulher, mas que um dia se lembra de a matar à pancada, porque a amava muito. Isto é acto de alguém muito doente e que só transporta ódio dentro de si.
Quem faz isto não tem amor ao futebol, não tem amor ao clube de que se dizem fãs, não tem amor aos seus jogadores, e muito menos aos seus familiares. Sim, porque os 50 idiotas que estiveram ontem em Alcochete também têm família: têm mãe e pai, têm namorada/mulher/companheira, e muito provavelmente até têm filhos (quem diria).
Ora o futebol, minha gente, não é ódio, violência e agressões.O futebol é garra, é festa, é vontade de vencer com desportivismo. Sabendo à partida que nem todos podem ficar em 1º lugar, quando a nossa equipa perde só temos é de lidar com o desgosto e a frustração dessa derrota, porque ninguém gosta de perder. Mas é só isto. Tão somente isto. Ou é só isto que seria o suposto.
Eu já não acho piada alguma aos Apitos Dourados, aos emails das Toupeiras, nem nada dessas cenas. E acho sinceramente que a coisa começa a perder a piada quando chegamos à conclusão que os resultados são viciados. Mas com os eventos de ontem, o futebol está a tornar-se numa coisa estranha que nada tem a ver com a minha paixão de miúda, e que me faz perder a vontade de continuar uma aficionada. Não me revejo nestes actos, pelo que não quero mais continuar a gostar de futebol. É como um namorado ou marido de quem gostávamos muito no início e que passados alguns anos, depois de o conhecer melhor e de uma catrefada de acontecimentos infelizes, não conseguimos sequer olhar para a cara dele, quanto mais amá-lo.
Se isto é futebol, eu não quero continuar a gostar dele.
#futebol #limonadadavida #alcochete #SCP #terrorismo