terça-feira, setembro 17, 2019

Isto de criar filhos é uma aventura

Tenho uma filha na creche e os outros dois na faculdade.
Idades tão diferentes, com necessidades tão díspares que por vezes preciso de fazer um switch on e switch off e transitar a minha mente do modo "mãe-galinha" para o modo "deixa voar".
Com a Maria tenho a preocupação da quantidade de vezes que fez cocó, os períodos de sesta, a introdução dos alimentos sólidos, a alimentação saudável e as alergias, as vacinas e as doenças na creche, o percentil de peso e altura, e as teorias Montessori, apesar de todos os dias ela me deslumbrar com uma aprendizagem nova.
Com os crescidos, já adultos (ahahah, adultos! Meu deus, se eles soubessem o que é ser adulto), o chip muda para as saídas à noite, as amizades, os namoros, o percurso académico, a gestão da mesada, a vontade exagerada de liberdade e independência, as respostas mais tortas e arrogantemente cheias de certezas. A gestão de os empurrar para se fazerem à vida pelo próprio pé e não querer ainda que deixem de precisar de mim tão depressa.
Se para a Maria sou o centro do mundo, para os outros sou a periferia (dói, mas tem de ser).
Com a Maria estou a reviver toda a ansiedade do "ser mãe" com outra maturidade, com outra experiência de vida, mas sempre com o mesmo coração apertado. Não há volta a dar.
Com a Maria tenho a certeza de quem nem sempre vai ser assim e que isto passa num piscar de olhos. Coisa que quando os outros eram pequenos eu sabia porque já me tinham avisado, mas eu ainda não tinha sentido na pele.
Vou aproveitar enquanto esta me puxa as saias e pede colo, enquanto me pede para eu me sentar no chão a brincar com as molas da roupa, enquanto chora e se agarra ao meu pescoço ao entalar o dedo na gaveta, que insiste em mexer apesar de eu já ter dito mil vezes "Não Mexe Aí, Mariiiiiiiiiia".
Isto de criar filhos é uma aventura.



quinta-feira, setembro 05, 2019

Movimento #Deixa jogar

Sempre associei o futebol a asneiredo, é verdade. Eu própria o faço, quando estou a ver futebol e há uma bola à trave ou um lance que poderia dar golo e não dá. De vez em quando lá sai uma caralh&%$#. São desabafos.
Não obstante, não concebo o futebol como uma possibilidade de agredir ninguém, seja verbal ou fisicamente. O futebol não é isso. Muito menos em jogos dos nossos filhos, em que os putos só se querem divertir, correr e jogar à bola.
Uns dias ganha-se, noutros perde-se. Não se pode ganhar sempre, mas parece que só os pais é que ainda não entenderam isso. Neste cenário os pais são muitas vezes um péssimo exemplo do que significa competição. São o exemplo da ofensa desmesurada, do racismo, do sexismo, da violência física nas bancadas com outros pais e da opressão aos próprios filhos. Sem paninhos quentes: o pais a serem completos idiotas, vá.
No meu tempo jogava-se à bola na escola, no recreio ou nas aulas de educação física, e os pais não estavam lá para ver. Felizmente. Tinhamos tempo de chegar a casa e explicar o joelho esmurrado por causa do quase-golo que marcámos. Éramos felizes.



Antes da ida para a creche

Hoje, antes da ida para a creche, ainda houve tempo para cuspo em frente ao espelho. 
Houve beijinho na Maria, beijinho na mamã.
Houve brincadeiras com o carrinho (espero que os vizinhos já tenham as miúdas na escola).
Houve gargalhadas, palhaçadas e abracinhos.
Ela ri desmesuradamente até os olhos sorrirem com ela, e eu também.
Ela fica melhor na escola, e eu venho trabalhar de coração cheio.