terça-feira, janeiro 15, 2019

O que eu não gostava que as minhas filhas fossem

A semana passada foi uma semana complicada.

Eu e a Smartieteen com gastroentrite e a Maria Limão com faringite,  o que me obrigou a passar a semana toda em casa, de molho e a tratar das minhas babes.

Ora com uma bebé pequena, há que inventar maneiras de passar o tempo. Uma delas é ver televisão.
Sim, a Maria Limão já vê TV. Não me crucifiquem já! É apenas uma maneira fantástica de conseguir fazer alguma coisa em casa. É pô-la a ver a Baby TV ou o Disney Junior durante uns minutos e lá consigo ter tempo para puxar as orelhas à cama, ou arrumar a loiça do pequeno-almoço, ou pôr uma roupita a lavar.  Na verdade ela não vê desenhos animados, ela ouve as músicas do início de cada programa e as músicas dos anúncios. É isso que a entretem, e eu até gosto porque há músicas que ela aos seis meses já reconhecia.

Ultimamente no Disney Junior apareceu uma nova série chamada Fancy Nancy Clancy.  A Nancy Clancy é uma menina de seis anos (seis anos, repito) que adora tudo o que é chique. A onda dela é o glamour, o luxo, a etiqueta e tudo o que seja dito em Francês.  A voz da boneca é super irritante, mas pior do que a voz são os seus tiques e todo aquele mundo que me parece absolutamente irreal numa criança de seis anos. Com tanto para brincar, com tanto para ser e fazer neste mundo, e a Nancy Clancy brinca às festas chiques e aos convites para as suas festas.

Atente-se à letra da música do genérico para perceberem do que falo.



"Chique faz-me vibrar
Brilho não tem fim
Chique é algo para todos, 
mas em especial para MIM"

Repararam nas parecenças com  "O Sol quando nasce é para todos, mas mais para mim do que para os outros"?

A Nancy Clancy representa tudo aquilo que eu não gostava que as minhas filhas fossem, pelo que já pensei mudar de canal de cada vez que a série começa. Também já pensei em criar uma petição pelo fim da série no Disney Junior, mas na verdade vivemos num país democrático e eu sou totalmente contra o lápis azul.

Assim sendo, prefiro que a Nancy Clancy sirva de exemplo às minhas filhas daquilo que elas não devem ser. Não pelo simples facto de a menina de seis anos gostar do que é chique. Na verdade todas nós gostamos de nos arranjar e de nos vermos bonitas. Mas por aquilo que ela representa. Quando penso no futuro da Nancy Clancy, apenas consigo imaginar uma gaja que não faz nada na vida e que casou com um gajo rico para conseguir manter o estilo de vida com que sempre sonhou. E para mim uma mulher pode e deve ser muito mais, e ter muito mais com que se preocupar na vida do que em ser uma fútil Barbie, ou neste caso uma Nancy Clancy.

Gostava que as minhas filhas fossem muito mais do que isso. Gostava que as minhas filhas sonhassem e ambicionassem fazer algo por si, pelos outros, e que se apercebessem que há tanto para fazer por esse mundo fora, pelo que preocupar-nos em ser chiques é simplesmente ridículo.

A Smartieteen já está encaminhada. Aliás, é a primeira a dizer que a boneca a irrita. Já a pequenina ainda está no início. Compete-me ensinar-lhe que a vida tem de ser muito mais do que isto.

E perguntam vocês, mas são apenas desenhos animados, não estás a exagerar Limonada?
Não, meus queridos, não são apenas uns desenhos animados, são aquilo que ajuda na formação e educação das nossas crianças. As histórias que contamos aos nossos filhos à noite para dormir não são apenas histórias de embalar. É suposto ajudá-los a distinguir o bem do mal. São histórias com uma moral, com uma lição de vida. Isso é formação.

As histórias que lhes contamos e os exemplos que lhes damos em pequenos limitam as suas ambições e os sonhos daquilo que podem ser quando forem crescidos. Principalmente as meninas às quais toda a vida foi dito nas histórias da Carochinha que só podem ser princesas quando casam com o príncipe encantado, ou se forem filhas do rei.

E se em vez de casar com o príncipe a menina decidisse ser astronauta ou engenheira? E se em vez de ela ser alguma coisa na vida porque o pai dela era o rei, ela fosse uma mulher extraordinária por algo que ela própia criou?

Nem todas nascemos para grandes invenções ou para mudar o mundo, mas podemos ser muito mais do que meras meninas chiques!

Aliás, se cada uma de nós (mães) conseguir mudar as mentalidades dos nossos filhos e filhas, no sentido de lhes abrir os horizontes para o tanto que podem ser e fazer, aos poucos a mudança há-de ser notória, clara e evidente.  E não é a ver Fancy Nancy Clancy que isso vaí acontecer!








12 comentários:

  1. Na verdade vi um episódio e não achei nada de mal... Ela sonhava com uma casa de brincar chique e na inauguração saiu tudo menos isso... depois dela e a melhor amiga resolvem reciclar mil coisas e decorar a casa!! Achei que a mensagem seria, dar a volta por cima, o chique é o que tu gostas, e na verdade numa época em que até o Noddy usa tablet, achei refrescante vir uma boneca que serve chá, com as bonecas que ensina a brincar novamente!!

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    1. Gosto dessa visão de "dar a volta por cima" e não digo que tudo o que está na série é mau ou que transmita maus valores, apenas considero limitativo para os sonhos de uma criança o ser tão obcecada por ser chique. Vê outros episódios e vais reparar nisso, depois diz-me de tua justiça. ;-)

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    2. Vi um que ela na festa de chá, partiu o Bule e contou à mãe, que gosta de brincar com a irmã mais nova,adora animais e dá asas à imaginação! E esqueci-me de dizer que os pais também estão maravilhosos!!!Mas vou ver mais e volto cá!

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    3. A irmã mais nova é muito mais interessante, na minha opinião! :-)

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    4. Minha filha adora-a mas claro cd uma con sua opiniao. Ela mostra o chique do sentido à moda frances... a casinha que ela fez con ajuda do pai. Ela cuidar da mae doente. E ela para ter sapatilhas teve de juntar dinheiro e trocos eu vi muitas series e nelas estao bem apresentadas... só ela vez o mundo de muitas cores

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  2. Percebo tudo e compreendo-a mas nem sempre a vida toma o rumo que desejamos. por mais que façamos por isso há caminhos que são elas que irão fazer, não nós. Acho que hoje em dia pensamos demais e damos demasiada importância à maternidade. A vida dos nossos filhos não depende só do que lhes damos a ver ou a conhecer, .. Percebo-a mas acho que devemos ser mais flexíveis connosco próprias. Bus

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    1. Concordo inteiramente. Nós pomos lá as sementes, o resto é com elas (e com eles). As decisões, as escolhas têm sempre de ser dos filhos. Maggie, tive o cuidado de usar a expressão "gostava que as minhas filhas" e não "quero que as minhas filhas" exactamente por isso. Não está nas minhas mãos.

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    2. claro, eu já deixei de me questionar muito. Claro que tenho as minhas ideias do que faço pelo bem delas, falamos imenso as 3 cá em casa mas não me vou martirizar com isso. Acho que estar a viver fora e ver a forma despreocupada como os pais deixam os filhos ir para a universidade longuíssimo de casa e depois disso vão á vida deles sem passar já pela casa dos pais, está a ajudar-me a ver a maternidade de uma outra forma. ou isto, ou é a minha idade mesmo hahaha Beijinhos

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    3. Aqui em Portugal ainda os mantemos debaixo das nossas asas até muito tarde. ;-)

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  3. Concordo, nem percebo muito bem o que a série pretende transmitir, não me parece nada pedagógico, a boneca é completamente fútil, não me revejo nas mensagens que passa, ou que eventualmente poderá transmitir aos mais novos, cá em casa os meus filhos já sabem que não gosto da boneca e porquê, vou tentar perceber melhor o porquê de transmitirem algo que me parece completamente despropositado, anti pedagógico, para perceber realmemte se o defeito será meu...

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  4. Affff muito mimi. As mensagens que a Nancy passa nos episódios são ótimas. Eh uma menina que sempre pensa em fazer o que é correto. Eu acho que hj em dia as pessoas estão muito críticas com tudo.

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