Esta semana está a decorrer um torneio europeu de padel no ginásio que eu frequento.
Esta semana está complicada para estacionar junto ao clube, está complicado de uma pessoa arranjar cacifo que não tenha os bancos e o espaço à volta todo ocupado, está complicado para ir ao wc, está complicado para secar o cabelo (apenas 2 secadores), está complicado principalmente para uma pessoa se mexer dentro do balneário. Enfim, está uma seca.
Para além de serem muitas, falam alto, em línguas que uma pessoa não entende nada, e na sua maioria são altas, espadaudas, lourinhas e giras que se farta. Ora isto são coisas que chateia uma ´ssoa!
Hoje, após um treino de corrida, tudo o que eu queria era chegar ao balneário e relaxar um pouco
enquanto tomava a minha proteína, mas não tive essa oportunidade. Lá estava uma deitada a receber massagens ocupando um banco corrido inteiro, quatro ou cinco a tomar banho, umas sete na converseta, mais uma a secar o cabelo, e duas à espera para poder ir à casa de banho. Um inferno. Não tinha sequer lugar para me sentar e descalçar, quanto mais para relaxar um pouco.
E depois vêm com aqueles sacos gigantes cheios de raquetes e bolas e cenas, e quase que nos derrubam, estando uma pessoa em trajes menores. Tudo isto a somar às pessoas que já são clientes habituais do ginásio deu uma cacofonia desgraçada.
Dei por mim a bufar e a pensar "estou desejosa que este torneio acabe, irra! Vêm práqui estas gajas impedir-me de curtir o meu treino e o meu banho como faço desde há 15 anos, a invadir o meu espaço, o meu balneário, aquele ambiente tranquilo e familiar onde uma pessoa até pode dar dois dedos de conversa com as colegas de treino e ir para o duche sem se preocupar em deixar o cacifo aberto".
Só uns segundos depois reflecti no que tinha acabado de pensar e confesso que tive vergonha de mim mesma.
Ali estava eu toda comichosa e incomodada. Armada em parva, mesmo! Meus deus, isto é o que as pessoas pensam quando vêem os seus países "invadidos" por imigrantes. Sentem o seu espaço, a sua segurança e o seu conforto ameaçados por quem não é de lá. E eu sou uma dessas pessoas! Sou uma pessoa horrível.
Assim que tive esta epifania toda aquela insatisfação começou a desvanescer-se. O mal não são as pessoas serem estranhas a mim e ao local. O espaço não é meu por mais anos que o frequente e nem mesmo o facto de já lá andar há mais tempo significa seja o que for. O ginásio é de todos e ainda bem que há muito quem pratique desporto e o faça com alegria.
O mal estava em mim e na minha maneira de pensar o facto de ter perdido aquele conforto a que já estava habituada. Em último recurso, o mal está no clube não ter capacidade para receber tanta gente em tão curto espaço de tempo. Mas pronto, é uma situação temporária.
Assim como será a dos imigrantes se lhes dermos essa oportunidade. Tudo se faz, tudo se arranja desde que haja vontade. Tem de haver sempre lugar para quem precisa.