segunda-feira, novembro 18, 2019

Para quem pensa que a recuperação pós-parto é fácil ...não é!

Partilhei ontem no Facebook e no Instagram da Limonada a medalha que recebi após concluir a Corrida Dom Dinis, mas o que vocês não sabem é o significado gigante que esta prova teve para mim. 
Decidi abordar o tema em pormenor, pois acredito que possa ajudar outras mulheres com o mesmo problema.
Eu já tinha feito algumas corridas antes de ficar grávida da Maria, e andava nessa altura com aquele bichinho de tentar fazer sempre mais e melhor. Estava a fazer 10kms em 55minutos, o que eu nunca pensei ser possível quando me iniciei neste gosto pelas corridas.
Durante a gravidez continuei a fazer o meu step até às 38 semanas, fazia uns treinos de corrida leves, mas provas não fiz. 
Depois do parto e naqueles meses em que estive com ela em casa e a amamentar não tinha forças nem para me manter acordada durante o dia, quanto mais ir correr. 
Quando as noites passaram a ser mais tranquilas e comecei a recuperar energias, voltei ao meu adorado step coreografado e aos poucos tentei voltar às corridas, mas assim que comecei a correr os primeiros quilómetros apercebi-me que algo não estava bem. 
Por mais que evitasse beber líquidos e por mais vezes que fosse ao wc antes de começar a correr, quando começava uma prova era impossível controlar. Ainda me inscrevi em duas provas, mas o descontrolo e o incómodo foram tais que me deixei disso, e pensei seriamente que nunca mais voltaria a correr na vida. 
Curiosamente no meu dia-a-dia nada disto acontecia (nem sequer no step), mas em corrida algo de incontrolável se passava. Assim como quem dá um espirro e deita umas piguinhas sem querer. Pois, só que correr 10kms não é um espirro.
A corrida em que efectivamente percebi que precisava de fazer algo mais foi a Corrida de Santo António, a minha Corrida predilecta, a Corrida do Santo da minha Maria Limão (nascida a 13 de junho), a Corrida onde bati o meu record pessoal, a Corrida da minha cidade. Começou a minha luta logo ao km 2 e ainda faltavam 8kms. Um desconforto imenso, um esforço hercúleo para não urinar. 
Não correu bem, posso dizer-vos! 

Decidi falar com a minha médica de família que me deu três possibilidades dependendo do grau de gravidade da minha Incontinência Pós-Parto:
1- não sendo ainda uma situação grave, e tratando-se de um parto recente, podíamos começar com exercícios específicos durante 10 minutos por dia. 
2- se a primeira fase não resultasse, avançávamos para a fisioterapia.
3- se essa também não fosse a solução, restava-me a Cirurgia. 



"A incontinência urinária no pós-parto caracteriza-se por perdas involuntárias de urina nas mulheres que foram mães, devido a alterações do pavimento pélvico, que suporta a bexiga e controla os esfíncteres. Essas alterações dificultam o controlo da micção e levam a perdas involuntárias de urina. As perdas urinárias acontecem com ações simples do dia a dia, como tossir, espirrar, rir ou baixar-se para apanhar um objeto." 


No meu caso era quando tossia ou espirrava (o que não é frequente nem abundante), mas principalmente quando corria, pelo que precisava mesmo de começar a trabalhar para alterar este cenário.
Os exercícios em causa têm o nome de Exercícios de Kegel e basta fazer uma pesquisa simples no Google para os encontrar, mas posso recomendar este site da CUF para uma abordagem inicial.

Mas também existem outros exercícios que se podem fazer como por exemplo, colocar uma almofada entre as pernas e apertar, contraindo também toda a zona pélvica.

Ora a minha grande conquista na corrida de ontem foi exactamente esta. Pela primeira vez, após alguns meses destes exercícios e treinos de corrida na passadeira, fiz a minha primeira prova. 
Pouco me importava o tempo que demoraria a concluir o percurso. Não fui para tempos, não fui para records. Fui para tentar concluir a prova sem um único pingo,  e consegui. Verdade seja dita que não bebi uma gota de água durante a prova, para não correr o risco, mas esse será o próximo passo. Passinhos curtos para atingir grandes conquistas.

Se eu podia simplesmente ter deixado de correr, uma vez que era a única actividade em que isto me acontecia?  Podia, mas ia ser forçada a deixar de fazer algo que gosto quando é uma coisa que até tem solução. Dá trabalho, é preciso empenho, mas é possível resolver. O meu pânico era pensar que se aos 44 já era assim, daqui por uns anos seria bem pior, porque a tendência é para piorar com a idade. 

Se ficou resolvido de vez? Estou certa que não. Este problema pode durar anos após o nascimento do bebé, pelo que os exercícios não são para fazer apenas antes e imediatamente após o parto, não são para fazer quando há sintomas, são para fazer parte do dia-a-dia. Têm de passar a ser uma rotina. 

Para quem pensa que a recuperação pós-parto é fácil, não é! Não são só os primeiros meses, não são só os pontos, não é só recuperar o peso e a queda de cabelo. Isso é o de menos. A gravidez e o parto deixam marcas para o resto da vida. Que o digam as hemorróidas com que a minha primogénita me presenteou há 18 anos. 
Só não vale é desleixarmo-nos e conformarmo-nos com as mazelas. Se houver algo a fazer para resolver o assunto é tentar tudo. Aceitar o perder qualidade de vida é que não! 

 Citações retiradas do site CUF.








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