Chama-se Despacho n.º 7247/2019 e está a causar grande polémica porque pretende que as escolas abram as suas casas de banho e balneários a rapazes e raparigas de todas as idades, no sentido de promover o “direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e o direito à proteção das características sexuais de cada pessoa”. No fundo, deixarem a criança, de qualquer idade, escolher a casa de banho e o balneário de acordo com o seu "género".
Ainda não consegui emitir uma opinião definitiva acerca deste assunto. Por um lado concordo, por outro não.
Como tenho lido muita besteira por essa internet fora, relembro que não se está aqui a falar de orientação sexual. Não estamos a falar de homossexualidade. Fala-se de género. O género físico não se escolhe. Nós já nascemos com ele, é determinado biologicamente. É o sexo com que nascemos. Todavia, por algum motivo, há quem não se identifique psicologicamente com o género com que nasceu. E é para estes que este despacho se destina. Não é para os homossexuais, ok?
Como diz a maravilhosa @Quadripolaridades em tom irónico e para descomplicar um pouco o tema, "O português xixa nas beiras das estradas, nos pés de estátuas, atrás de carros, no mato quando está aflito, de pé, de joelhos, de cócoras ou a fazer a ponte durante festivais de verão, nas piscinas públicas, na areia da praia (sim, sim, as criancinhas também contam...) e vocês estão aí em discussões metafísicas sobre placas com perninhas ou saias nas portas das casas-de-banho?".
Agora mais a sério. Não podemos negar que estas pessoas existem. Existem e sofrem por estar presas num corpo no qual não se sentem confortáveis. Não imagino o quanto isso possa ser perturbador. Nessa perspectiva entendo que se dê tempo e espaço para as crianças decidirem de que género querem ser.
Não sou psicóloga, nem tenho aspirações a sê-lo, mas creio que esse acompanhamento deve ser dado primeiramente em casa, no seio família. Não se trata de esconder a criança, mas sim de, em privado e onde se sente confortável, ela ter tempo para se conhecer, para se questionar a si e aos seus pais sobre o tema.
Suponhamos uma criança que nasce com o sexo masculino, e com a idade se apercebe que se sente mais menina do que menino nos seus comportamentos sociais. O que fazer em relação a isso? Como lidar com isso? Pretende fazer cirurgia reconstrutiva de redesignação de sexo? Não pretende? Precisa de apoio psicológico? De terapia emocional?
Saindo do seio familiar, e passando para a escola. Creio que seria mais importante questionar os próprios e as suas famílias, sobre o tipo de apoio que a escola e respectiva direcção poderão implementar, do que a simples abertura das casas de banho da escola a meninos e meninas, sem se pensar nas efectivas vantagens/desvantagens e consequências disto.
Sejamos práticos, todas as escolas (públicas ou privadas) têm os chamados idiotas, os chico-espertos, os que gostam de quebrar as regras e ainda se riem de serem mal-educados. Não tenho qualquer dúvida que estes se vão aproveitar desta tentativa bem-intencionada de implementação da igualdade para seu belo prazer. Vão usar e abusar deste despacho para irem ao balneário espreitar maminhas e rabos das meninas. Sim, porque o abuso sexual não é só quando há violação física. O assédio também é abuso sexual. Os olhares, os piropos também incomodam. Nisto, a Laurinda Alves tem razão, bolas!!! Como podemos garantir que o menino que entrou pelo balneário das raparigas dentro o fez pelas razões que o despacho definiu?
As crianças habituam-se a tudo, é verdade! Se forem habituados desde pequeninos a partilharem casas de banho como se não houvesse género (como se faz nas creches), educados dessa forma, sem nunca perderem esse hábito, até podiam ir todos à mesma. Não havia cá casas de banho das meninas e dos meninos. Iam todos à mesma. Havia uma única casa de banho para todos. Uma cena estilo "Imagine" do John Lennon.: "Imagine all the people sharing all the world, all the bathrooms..." . Se os deficientes (homens e mulheres) partilham a mesma casa de banho, nós (os ditos "normais") também o conseguimos fazer. Tem é de ser bastante limpinha e asseada.
As casas de banhos ainda são locais e de porta fechada, mas e os balneários? Despimo-nos todos à frente uns dos outros sem olhar a géneros?
Como disse no início, não consigo estar totalmente do lado dos a favor, nem completamente do lado dos que são contra. Por isso não comecem os radicais de um lado e de outro a dar facadas aí nos comentários. Tenho dúvidas do resultado prático desta medida. Levanto questões. E acho que era isso que se deveria ter feito antes de emitir este Despacho. Sou totalmente a favor da tolerância, não sou a favor da ingenuidade imatura.
Apoio psicológico e possibilidade de cirurgia de redesignação de sexo são a meu ver a prioridade. A ida à casa de banho é um mal menor em todo o sofrimento que passam, mas creio que apenas os próprios poderão dizer o que para eles é uma prioridade.
No limite, criem-se wcs e balneários ungenderous e vai lá quem quer.
Antes de mais, dever-se-iam preocupar em melhorar as casa-de-banho e os balneários. E, já agora, em contratar mais auxiliares. É muito fácil criar leis e depois, quem tem que as implementar, que se desenrasque (não há apoios... só orientações no papel, nada no terreno). Sei muito bem do que falo e da luta de muitas escolas para manterem as suas instalações minimamente condignas. E, que tal, mais psicólogos para as escolas? É que um psicólogo para um agrupamento de 7 ou 8 escolas é muito pouco, digo eu (há tantos alunos a precisarem de acompanhamento, pelos mais variados motivos). E podia continuar com a lista ... S.L
ResponderEliminarSem dúvida que a limpeza deveria ser uma prioridade nas escolas , e que na sua maioria as escolas públicas têm grandes falhas nesse sentido. Mais psicólogos nas escolas também me parece obvio, mas já há quem diga que estas crianças não precisam de psicólogos, precisam é que a sociedade as trate com dignidade. Eu continuo a achar que os psicólogos são fundamentais no crescimento destas crianças que nascem com um género e se identificam mais com o género oposto. Já vi crianças e serem acompanhadas por pedopsiquitras por questões muito menos "pesadas" digamos assim. Há muito a fazer ainda....
EliminarCara Limonada, gosto do seu post: põe questões pertinentes; a solução da casa de banho para todos parece-me boa. Venho lembrar que a nossa cultura tem para com o corpo nu uma atitude difícil de ultrapassar ao encará-lo como o sítio do pecado há milénios. Os nórdicos (ou pelo menos os suecos, que conheço bem) encaram o corpo nu como uma coisa natural (e o corpo vestido como um corpo sexual, está tapado logo é desejável) e não se ofuscam com estas coisas. As casa de banho e as saunas há-as por lá para homens, para mulheres, para todos. A mim, convém-me. Mas reconheço que não é fácil aqui com toda a trapalhada religiosa em que nascemos. Por isso, casas de banho para todos, individuais e com portas que se possam fechar. A questão dos balneários é mais complexa? Não sei. Pessoalmente, não acho. Para ser franca, prefiro que me vejam nua a que me vejam na sanita. Mas compreendo que estou em minoria. As pressas de responder ao politicamente correcto sem tempo de reflexão dão sarilhos. Por isso deixo algumas das questões que pôs sem dar a minha opinião. Quando a der é porque estarei disposta a defendê-la com unhas e dentes e a trocá-la por outra se for caso disso
ResponderEliminarAcho que nunca lhe disse que gosto imenso da forma liberal e respeitosa como me responde sempre. Admiro imenso essa sua abordagem e confesso que são opiniões dessas que me interessam. Fico a aguardar ansiosamente por essa opinião que tanto valorizo. Nem toda a gente tem essa sua abordagem. Há uns dias abordei numa página de facebook uma mãe de uma criança que nasceu menino, mas que se sente menina e que assumiu como uma Leonor. Uma mãe que aceitou a decisão da filha e que abriu o seu coração ao mundo dizendo que precisava de apoio e não de críticas a este novo despacho. Perguntei directamente a sua essa mãe que tipo de ajuda e apoio precisava não apenas ela, mas também a Leonor que nasceu biologicamente como um menino. Perguntei com toda a frontalidade e como mãe se ambas precisam de apoio psicológico, de apoio na mudança fisica de sexo, etc, no fundo perguntei a que tipo de apoio se referia essa mãe. Os comentários de terceiros, e não da mãe a quem me diriji, foram do mais ridículo que poderia haver dizendo que quem precisava de ir ao psicólogo era eu. Não se pode falar destas coisas com qualquer um, é a conclusão que chego.
EliminarAntes do mais, obrigada pelas suas palavras de apreço. Devo dizer-lhe que nem sempre sou assim respeitosa e que por vezes me saem uns coices para o ar, especificamente com pessoas como as que a enviaram para ao psicólogo. Mas em geral esses coices ficam pela fantasia, é a minha maneira de fazer face à violência. Prometo dizer-lhe o que for pensando sobre a questão, mesmo que isso demore. E é verdade que não se pode falar de certas coisas com qualquer um e em qualquer altura. Poupe-se. Defenda-se. Todos nós temos dificuldade em ouvir os argumentos dos outros quando estamos convictos da absoluta verdade dos nossos. Por isso é que prefiro adiar emitir opiniões se não estiver dentro delas com o à-vontade suficiente para abandoná-las se me demonstrarem que estou errada. É aqui que peca muita gente, dentro e fora das redes sociais, mas despudoradamente dentro delas porque estão cobertas pela virtualidade: sem argumentos para o contraditório, insultam, escarnecem os outros.
EliminarNum dos comentários no post de facebook recebi esta resposta, e parece-me muito bem:
ResponderEliminar"Passar o despacho não quer dizer que qualquer criança possa entrar pelo balneário adentro que escolhe. Quer dizer que se abrem excepções para as crianças que precisam delas, tal como as crianças com deficiências motoras precisam de certas ajudas das funcionárias e profesoras para conseguir fazer as suas coisas diárias, desta forma também a escola seria informada e a criança teria a escolha de qual casa de banho usar, com a autorização e conhecimento da escola e dos colegas."