Tenho almoços em atraso para marcar com amigas, daqueles para descontrair e que me fazem melhor do que duas sessões de terapia por mês.
No outro dia, encontrei o marido de uma amiga e pedi-lhe para lhe dizer que tinha saudades dela e que precisávamos de marcar um almocinho. E diz-me ele em tom de gozo: - Almoço? Para falarem mal de nós, maridos, não é?
No outro dia, encontrei o marido de uma amiga e pedi-lhe para lhe dizer que tinha saudades dela e que precisávamos de marcar um almocinho. E diz-me ele em tom de gozo: - Almoço? Para falarem mal de nós, maridos, não é?
Não. Mas é que não mesmo.
Primeiro, quando nos juntamos temos muito mais para partilhar umas com as outras do que histórias sobre os nossos maridos. Tudo bem que por uma questão de educação e amizade se pergunta pela família e como estão todos lá em casa. Mas, há um rol de cenas e opiniões para falar: do livro que se leu, do filme que se viu, da nova série da Netflix que estamos a acompanhar e que é um must, da viagem que gostariámos de fazer no próximo ano, dos saldos da Zara, do corte de cabelo para depois do verão, dos quilos que engordámos durante o período de férias porque deixámos de treinar, do Santini que agora tem um programa de fidelização que acumula pontos que podemos trocar por gelados, que ontem à noite vimos as notícias e confirma-se que o Trump é um idiota, do Processo de Tancos que julgávamos esquecido mas afinal vai sobre rodas e já conta com 25 arguidos, do concerto dos @TheGift em Cascais que gostaríamos muito de assistir, da Noite Branca em Loulé no final de Agosto, do novo filme do Tarantino que relembra o assassinato de Sharon Tate e os crimes de Charles Manson, de uma nova experiência de voluntariado. And so on and so forth. Podíamos estar um dia inteiro na tagarelice sem mencionar o vosso nome.
Segundo, para passar a vida a dizer mal do meu marido às amigas, por que raios estaria eu com ele?Nunca percebi muito bem a razão de se estar com alguém se é para estarmos sempre a lamentarmo-nos da má sorte que nos calhou. Quem não está bem muda-se, de preferência para melhor. Se o melhor não vier, vale mais só que mal acompanhada, minha gente. Passar a vida a dizer mal de quem nós escolhemos para partilhar os nossos momentos, a nossa intimidade e o tempo que nos resta neste mundo, é que não me parece lá muito inteligente.
Mas isto sou eu que tenho mau feitio e falo pelos cotovelos.