Quando somos novos achamos que somos donos do mundo e do nosso destino, estamos cheios de energia para mudar a ordem natural das coisas, para fazer diferente, para sair "fora da caixa".
Quando somos putos, os adultos são velhos a partir dos 30, a maior parte das vezes não têm razão e inexplicavelmente estão sempre mal-dispostos, apesar de terem a sorte de só fazer o que lhes dá na real gana. E é exactamente por isso que estamos desejosos de sermos crescidos! Para fazer o que nos apetece! Liberdade!
Hoje são os meus filhos que me veem com esses olhos. E eu não sei quando nem como é que tudo isto mudou...porque eu também já fui assim.
Quando era miúda, estava sempre desejosa de uma festa ou de uma oportunidade para usar sapatos de salto alto, agora estou sempre desejosa de chegar a casa para os descalçar.
Quando era chavalita, armada ao pingarelho, maquilhava-me para parecer mais velha e disfarçar as borbulhas, agora uso maquilhagem para esconder as olheiras, as rugas e outras tantas imperfeições que aparecem com a idade.
Uma ida à discoteca implicava, no mínimo, uma hora de produção entre banho, escolha de roupa, veste, despe e torna a vestir, maquilhagem, para depois dançar até cair. Agora conseguir deitar-me no sofá a ver um filme que me surpreenda ou o Benfica a ganhar 0-2 ao Porto, já é uma "noite em grande".
Quando era adolescente o frio era psicológico e não condicionava aquilo que me apetecia vestir, agora não me deito sem saber o tempo que vai fazer amanhã, e à noite, nem de verão saio de casa sem um casaco.
Irritava-me que me chamassem "miúda", agora estranho quando me chamam "
senhora".
Quando tinha 16 anos sabia exactamente a mãe que eu não queria ser: chata, ralhadora, demasiado preocupada com a casa e com as arrumações do quarto, e se os sapatos estão fora do lugar...agora tenho momentos em que não consigo deixar de ser essa mãe.
Quando andava na escola achava que os adultos eram uns sortudos, pois não tinham de se levantar cedo e estudar para os testes, agora pagava para voltar a ter essas "responsabilidadezinhas".
O Natal era sinónimo de receber prendas. Hoje sou eu que compro as prendas, mas os filhos é que as recebem, porque é assim que a família e os amigos nos presenteiam a partir do momento em que eles nascem.
Quando era uma jovem inconsciente não via a hora de ser livre para fazer o que queria sem dar satisfações aos pais, agora tenho de dar satisfações ao patrão, ao marido, aos filhos, ao ministério das finanças...
Não tenham pressa, miúdos, que isto de ser crescido não é assim tão bom!