Nós éramos apenas um Paraíso à beira mar plantado, mas que ninguém queria saber de nós para nada. Nós não contávamos para o Totoloto. Em nada. Ninguém sabia onde ficava Portgal no mapa, éramos para muitos um pedaço de Espanha. E isso sempre me indignou, pois aprendi que no tempo dos Descobrimentos fomos nós quem descobriu África, a Ásia, a América (ok a América foi a mando dos espanhóis, mas vá, tínhamos quota parte na descoberta). Nós fomos donos de metade do mundo, como era possível ninguém saber sequer onde ficava o nosso país?
Lembro-me que quando os meus pais iam viajar, a maior parte das coisas que eles me traziam, a mim ou ao meus irmãos, não haviam cá. Lembro-me de uns ténis azuis Le Coq Sportif que exibi na escola, pois ninguém tinha uns iguais. Lembro-me de um computador que trouxeram dos Estados Unidos que ensinava a ler e escrever inglês, falando connosco. Completamente inédito na altura. Neste portugalito com apenas dois canais de tv, com pouquíssimas lojas de marca, ainda demasiado marcado pela liberdade tardia e rodeado de analfabetismo.
Sinto que o meu país cresceu muito nestes últimos 30 anos. Tanto é verdade que para os meus filhos a box com 357 canais à escolha, a catrefada de shoppings com marcas de toda a forma e feito, são já um dado adquirido. Hoje em dia qualquer produto chega a Portugal num piscar de olhos, e se não existir encomenda-se pela net e já está. Já não estamos anos à espera de um filme ou de uma série.
Apesar de gostar de futebol desde que me lembro, nunca tive nem por sombras o orgulho de ver jogar a minha selecção como os meus filhos tiveram neste campeonato. Tirando a euforia de 2004 e da quase-vitória, não me lembro de em pequena ter sequer a esperança de ganhar fosse o que fosse. Ver o Carlos Lopes ganhar a medalha de ouro nos jogos Olímpicos Los Angeles, ou a Rosa Mota a ganhar a maratona em Seul, foram as vitória mais nobres que me lembro de ter assistido em nome de Portugal.
Hoje, e não é só pelo facto nos termos consagrado campeões da europa no passado dia 10, sente-se que apesar de sermos apenas 11 milhõezitos, somos gente de fibra, gente que acredita na superação, humildes e com os pés assentes na terra mas nem por isso com falta de ambição. Hoje sabemos que podemos ser tão bons ou melhores que os strangers em tudo. Damos cartas não só no desporto, como na ciência, no âmbito das empresas start-up, na informática. Até já temos portugueses no cinema americano. Quem será o primeiro português (a) a ganhar um óscar em Hollywood? Aceitam-se apostas!
Não é por acaso que a Nacional anda há séculos a dizer que o que é Nacional é bom!