Não desconheço por completo a obra de Manoel de Oliveira, mas pouco falta.
Estávamos no ano de 1993, eu era jovem, tinha ambições de me licenciar em Línguas e Literaturas Modernas, e achava que me devia "cultivar" indo ver o "Vale Abraão". Sendo o filme inspirado no romance de Agustina Bessa-Luís, ia fazer-me bem por certo...
Devia ter adivinhado, olhando para a audiência, que a coisa não ia correr bem. A sala de cinema estava a menos de meio, e o público presente trazia consigo algumas características inconfundíveis: algumas senhoras de idade num serão de domingo à tarde, alguns tipos com bigodes farfalhudos e pinta de intelectualóides de esquerda, um casal de namorados lá prá última fila, e mais uns quantos rapazolas que não devem ter chegado a tempo de comprar bilhetes para o Jurassic Park (na sala ao lado e com lotação esgotada)...Ou seria a Lista de Schindler?
Ao fim de menos de uma hora, os primeiros desertores: os tais que não conseguiram bilhete para o Jurassic Park ...
Ao fim de hora e meia, os segundos desertores: o casalinho lá de trás.
Ao fim de duas horas já se ouvia ressonar...
Fiquei com os restantes, fiz-me de valente e mentalizei-me que havia de chegar ao fim, desse por onde desse.
Não me lembro muito bem da história, tenho a ideia que a protagonista (Leonor Silveira) casava com um amigo do pai, muito mais velho do que ela (Luís Miguel Cintra). Recordo-me da particularidade de o casal dormir em quartos separados e que, sendo infeliz no casamento, ela arranja um amante. A história até teria tudo para ser um sucesso e agarrar-nos até ao fim.
No entanto, a parte do filme de que mais guardo memória é uma cena em que a câmara se fixa numa árvore ao longo de largos minutos (não sei quantos, mas para mim foram largos) enquanto o narrador debita matéria...
Foi remédio-santo, arrumei Manoel de Oliveira a um canto e nunca mais vi qualquer outro filme seu.
Muito provavelmente o mal está em mim. O mal só pode estar em mim. Ao fim de 106 anos de vida, mais de 30 filmes (entre longas e curtas-metragens), depois de tantos prémios e festivais internacionais, o mal só pode estar em mim. Mas eu esforcei-me.
Que culpa tenho eu de achar que o supra-sumo do cinema português é o "Pátio das Cantigas"? Que culpa tenho eu de gostar de bife com ovo a cavalo, enquanto outros se deliciam com foie gras?
Pode ter-se dado o caso de eu ter escolhido exactamente o único filme "maçador" do nosso grande mestre e de haver algum outro que me encha as medidas.
Ora sugiram lá aí outro, faz favor. Sugiram que eu esforço-me novamente.
Então já somos duas, eu também não conheço muito.
ResponderEliminarIsabel Sá
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