segunda-feira, abril 29, 2019

Um dos sítios que mais me faz ir às lágrimas

A seguir à zona de chegadas de um aeroporto, a meta de uma maratona é um dos sítios que mais me faz ir às lágrimas.



Alguém disse que sempre que perdermos a fé na humanidade devemos ir à meta de uma maratona para a recuperar. Não faço ideia quem o disse, eu própria ouvi dizer, mas faz todo o sentido. A meta de uma maratona é o lugar onde explodem as lágrimas, os sorrisos, as alegrias, a amizade, o amor, a cumplicidade, a entre-ajuda, mesmo por pessoas que não conhecemos.

Nas provas mais pequenas, de 5 e 10kms, já a alegria é imensa, mas na meta de uma maratona tudo é exponencial, tudo é elevado ao extremo: tanto o desgaste físico como as emoções.  Desespero e superação estão entrelaçados como nunca.

Não interessa se corres só para terminar ou se corres com um objectivo de tempo. Não interessa se tens o objectivo de fazer uma maratona em 4 horas, ou baixo das 3horas. Todos estão no mesmo turbilhão de emoções. Indescritível.

Pais e mães a correrem os últimos metros com os filhos pela mão ou até mesmo ao colo. Maridos e mulheres (companheiros) no conforto de correrem juntos. Amigos que correm em equipa para aquela motivação extra, e os solitários que estão lá por eles e para eles, pelo desafio, pela concretização do objectivo pura e dura.

Na meta de uma maratona já vi pessoas a acabar a prova com uma energia incrível, mas também já vi os que a terminam a cambalear no limite das suas forças, a cortar a meta de joelhos ou apoiados no ombro de alguém.  Já vi chorar de alegria e chorar de sofrimento, lágrimas profundas, soluçadas e partilhadas.

Este fim de semana foi a vez da 1ª edição da Maratona da Europa na cidade de Aveiro. Já conheciámos a nossa maravilhosa Veneza (aqui com dicas e tudo!) , pelo que desta vez fomos mais pela prova do que pela visita. O Limoneiro não correu a maratona, mas sim a meia (21kms). Deu obviamente o seu melhor, e fez o percurso em 1h29m, mas não se sentia em condições para fazer a sua 13ª maratona, depois de ter feito a sua 12ª em Paris há apenas 15 dias. Assim sendo, no fim, ficou comigo junto à meta a aguardar pelos restantes amigos que estavam a fazer a prova. Ele nunca tinha estado do lado de quem espera ansiosamente pelos que lhe são queridos. Pela primeira vez teve a oportunidade de ver no rosto sofrido de quem terminava a prova naquele momento, o sofrimento e a alegria da superação que tantas vezes já sentiu. Reconheceu-se de tal forma que o apanhei duas ou três vezes de lágrima no olho, ao ponto de me dizer "isto é muito emocionante, gostava de fazer isto contigo".

Não tenho pretensões de correr uma maratona, pois acho que o sofrimento é maior do que o prazer, pelo menos para mim. Sugiram-me uma maratona de Step e eu estou lá, Já o fiz 4 ou 5 vezes de sorriso estampado no rosto do princípio ao fim, mas de corrida não tenho essa ambição. Gostava de voltar a fazer provas de 10kms, como fazia antes da Maria nascer. Gosto da sensação de terminar, gosto daquele "está feito!" que nos vem à cabeça assim que cruzamos a meta, gosto de me desafiar a reduzir o tempo. Adorei ter terminado os 10kms de Madrid finalmente abaixo de uma hora (58 minutos), e de dois meses depois o fazer em 55 minutos,  mas não me peçam para me matar a correr durante 42 kms. Não o faria por gosto.  Se por acaso mudar de ideias, não tenho dúvidas que é o Limoneiro quem eu quero a meu lado, a fazer de minha lebre, a puxar por mim. Já me estou a ver a chamar-lhe nomes e a mandá-lo "à fava" de cada vez que ele não me deixar desistir,  mas por enquanto a minha resposta à pergunta "gostavas de correr uma maratona?"  é "não, obrigada!"

Para além disso,  já tentei acabar uma prova juntos e não correu muito bem.  Na 1ª vez que ele fez a maratona do Porto, eu corri a prova dos 6kms e depois voltei ao tapete para correr aqueles últimos metros ao lado dele assim quando ele chegasse. Na minha cabeça aquele momento era cheio de corações vermelhos e nós os dois a correr, lado a lado. de mão dada. Não resultou muito bem e hoje esse episódio é motivo de risota lá em casa. As metas de ambas as provas eram lado a lado, separadas apenas por uma grade de ferro. Eu pulei para o tapete assim que o vi, e corri até à meta ao seu lado, a gritar o seu nome enquanto o filmava ao mesmo tempo. Figura triste, pois o miúdo ia num desgaste tal que nem me viu. Apenas uma grade nos separava, mas ele não me viu, não me ouviu, nada! Fica o vídeo para a posteridade para nos rirmos até cair.

Não sei se alguma vez cruzaremos a meta de uma maratona juntos, mas gosto imenso de o acompanhar, de estar lá para o apoiar. Sei que do lado de quem corre esse apoio é fundamental. Eu e a nossa maravilhosa Maria Limão, que nos acompanha nesta loucura para todo o lado. Com dez meses já viu o pai correr no Porto, em Sevilha, Amesterdão, Paris (onde pela primeira vez na vida perdemos o voo) e, este fim-de-semana em Aveiro. Para o mês que vem, se deus quiser, estaremos em Basel, na Suíça. Quando crescer a Maria até pode não se lembrar dos sítios por onde andou, mas guardará com certeza memórias das sensações, dos maravilhosos e emocionantes momentos que passou connosco. Isso ninguém lhe (nos) tira!









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