"Há dúzias de formas de chorar" - António Lobo Antunes in "Caminho como uma casa em chamas".
Eu diria mais, se somos 7 mil milhões de outros, haverão 7 mil milhões de choros multiplicados pelas vezes em que cada um de nós chora por motivos diferentes, e elevados ao expoente do infinito de cada vez que um motivo de choro se repete.
Sim, por vezes o motivo de choro repete-se de modo infinitesimal. No início, chora-se porque fomos confrontados com o problema, mais adiante choramos porque o problema se repete e mais à frente ainda porque, apesar de alguma esperança na sua resolução, ele insiste em não ter fim.
Vejamos o caso de uma mãe que se confronta com a doença crónica de um filho. No início, chora pelo diagnóstico, pelo choque.
- Porquê eu, porquê o meu filho?
Depois o choro vai mudando para algo com mais esperança.
-E se eu fizer isto, e aquilo, e se formos ao estrangeiro, dizem que nos estados unidos há novos tratamentos.
E a mãe lê tudo e mais alguma coisa à procura de algo que contribua para a cura do seu filho, apesar de saber que as boas perspectivas são escassas.
E, visto que a medicina não convencional não está a encontrar soluções:
- experimentemos o Reikki, a medicina chinesa ou a indiana, façamos promessas a Nossa Senhora de Fátima. Ainda ontem enderecei uma carta a sua eminência o Papa Francisco. Dizem que ele responde. E ir à bruxa? Eu cá não acredito, mas não custa tentar.
E aí o choro dessa mãe já roça o desespero. Experimentou tudo, nada parece funcionar. Mais conformado, o choro persiste, mas cada vez com menos esperança,
- Talvez com o crescimento isto lhe passe. com a mudança da idade. Os médicos já não sabem o que lhe fazer, e eu também não. Daria a volta ao mundo, iria até Marte e voltava, entregaria todo o meu dinheiro e todos os meus bens, daria a minha vida por ele... Não aguento mais... quero desaparecer! Não, não quero nada, só quero dormir. Só isso!
É a fase em que uma mãe reconhece que pouco mais pode fazer a não ser proporcionar-lhe o máximo de qualidade de vida possível. E pensa desistir, e deita-se cansada, exausta, não consegue pensar mais, está de rastos.
-Só preciso de descansar um pouco, só um bocadinho. Amanhã será um novo dia!
E adormece enquanto lhe secam as lágrimas de cansaço. Viver um dia de cada vez e renovar a esperança a cada despertar. Desistir, nunca!
A dor de um filho doente, em sofrimento, é horrível e que corajosas são as mães nessas duras batalhas.
ResponderEliminarÉ preciso muita coragem mesmo!
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