sábado, fevereiro 27, 2016

Cá em casa somos 4!



"Um lar não tem que ser uma casa e uma família não tem de ser de sangue."

Recentemente li um desabafo de um casal amigo que vai a caminho do 4º filho. Sim, o quarto. Os 4 filhos são filhos dela e apenas 2 são dele. Os dois primeiros são fruto de uma relação anterior.

Feliz da vida, o meu amigo anuncia, via facebook a familiares e amigos, que o 4º filho vem a caminho. Apesar da onda de carinho e desejos de muitas felicidades da maioria dos amigos, houve quem questionasse o porquê de ele anunciar o 4º filho, quando ainda só era pai de um, e do bébé que vinha a caminho.

Houve quem não entendesse como se fala em quatro filhos quando só se é pai de dois. Há quem ache que os outros dois não são filhos, há quem sinta inclusivamente como uma traição aos nossos filhos verdadeiros, quando dizemos que os outros também são nossos filhos.

Também eu já fui criticada por falar nos meus filhos no plural, quando só dei à luz uma vez na vida.

Sim, tenho um "filho emprestado". Sou Madrasta, como já AQUI foi referido neste blogue, e nem sempre tudo foi um mar de rosas. Não é amor de mãe à primeira vista, confesso.  Não basta eles serem filhos da pessoa que amamos para haver de imediato aquele click, como que por magia.

É antes um amor que vai crescendo com o dia-a-dia, entre birras, amuos e ralhetes, sorrisos e gargalhadas, desilusões e conquistas.

Não é fácil gerir uma relação com uma criança que ainda imagina os seus pais juntos, não é fácil fazer crescer amor onde não há laços de sangue. Quer queiramos quer não, é uma relação forçada e que só existe porque eu e o pai estamos juntos.

Dá trabalho, é um desenvolver de afinidades, é um constante conhecimento daquilo que a criança gosta e não gosta, é um estabelecer de limites dessa relação e um libertar de emoções com o convívio diário.

Os anos passam, o amor aumenta e tu dás por ti a desejar àquela criança tudo de bom como desejas para os teus filhos biológicos. E ele começa a ser um bocadinho teu a cada dia que passa.

Nem todas as madrastas são bruxas-más, assim como nem todas as mães o sabem ser.

Há mães que se esquecem que têm filhos, há mães que se divorciam dos filhos no exacto segundo em que divorciaram dos pais, há mães que apesar de casadas não perdem 5 minutos do seu tempo a brincar no chão com eles, há mães que não sabem ser mães e que acham que o são só porque deram à luz,  há mães que não sabem nada acerca dos seus filhos (quem é o seu melhor amigo, qual a sua cor ou comida preferida, de que artista é que ele é fã, nem sequer o estado de humor com que acorda às sete da manhã),  há mães que nunca estudaram para um teste com um filho apesar da dislexia de que padece. Mas há madrastas que o fazem!

Quando dás por ti, já passarem 8 anos e é contigo que ele desabafa, é a ti que ele pede "não contes ao pai".

Quando dás por ti, pensas no que farias da tua vida se acontecesse alguma coisa ao pai e te visses sozinha com essa criança. Irias devolvê-lo à mãe só porque é ela a mãe? Dás por ti a achar que, apesar da mãe existir, gostarias que ele continuasse a viver contigo, se também fosse esse o desejo dele.

Cá em casa somos 4!
Quem me conhece, quem me ama e me respeita sabe disso.


2 comentários:

  1. Adorei este texto e acredito que, se estivesse numa situação assim, agiria como tu. Por mais que fosse difícil no início, tentaria que os filhos do meu companheiro fossem mais do que "os filhos dele", tentaria ter a relação mais próxima possível com eles porque só assim faria sentido. Conheci vários filhos de pais separados que pareciam hóspedes nas casas dos seus pais, já com outros filhos e outras famílias. Existia ali civismo, educação e talvez alguma simpatia mas uma ausência total de amor e empatia para com os "filhos dos outros".
    E sim, tens muita razão quando dizes que há muitas mães biológicas que não sabem ser mães.
    Tenho a certeza que és uma ótima madrasta. :)

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    1. Obrigada! Tem sido uma aventura e pêras, de facto. Tenho aprendido muito, tenho aprendido a ser mais tolerante, a julgar menos e a ver as coisas de outra forma, ou como dizem os ingleses "put yourself in someones else´s shoes". Nestas coisas, temos muitas vezes de nos colocar no papel dos miúdos. Eles não pediram para estar ali, eles não pediram aquela família, e não havendo laços de sangue tem de haver algo que nos una, e isso só pode ser o amor. Bjs e obrigada

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