Esta manhã vinha a ouvir na TSF os resultados eleitorais da Alemanha, não tanto pela reeleição de Merkel que já se previa, mas pelos 94 (repito 94) deputados que o partido de extrema-direita (AFD) conseguiu para o parlamento alemão, o Bundestag. Foi a 3ª força política com cerca de 13% dos votos.
Apesar da derrota da extrema-dirieta na Holanda, na França (por exemplo), esta vitória na Alemanha vem provar que a vaga nacionalista está longe de ter desvanescido.
A isto juntam-se as manifestações pelo referendo na Catalunha, o Brexit, e eu penso: Bolas, não foi este o discurso que ouvi toda a minha vida. Não é esta a minha Europa!
Desde miúda que ouço falar em união, comunidade, comunidade europeia. Sou do tempo dos discursos europeístas, de abolição de fronteiras, da moeda única, de partilha dos mares. Quando era miúda achava fantástico o conceito de que a Europa não era um conjunto de país isolados e de costas viradas, mas sim um grupo.
No Colégio Moderno onde fiz escola até à Faculdade, incentivava-se bastante o trabalho em equipa, os esforços em conjunto. Foi aí que aprendi que, por muito importante que seja sermos únicos e criativos e inovadores, somos muitos melhores em equipa. Chegamos mais longe quando não estamos sós, quando unimos esforços. A propósito disso chegámos a fazer uma visita de estudo ao Parlamento Europeu, e confesso que me fez muito sentido todos aqueles países a trabalhar em conjunto por um futuro melhor para todos nós. É essa a ideia que tenho dessa visita de estudo, reforçada pela visita uns dias depois ao antigo Campo de Concentração de Struthof(exactamente o oposto daquilo que se possa desejar entre povos). Foi uma visita que me marcou para o resto da minha vida.
Pouco importa aqui se o Colégio tinha ligações a Mário Soares e ao partido socialista, para mim pelo menos nada daquilo era relevante, até porque nunca gostei de política (muito menos naquela idade) e os meus pais nem sequer votavam PS.
O que para mim fazia sentido era o discurso de que a Europa ser uma comunidade gigante era possível, e eu gosto de comunidades. Gosto da ideia de cada um contribuir com aquilo que tem de melhor, e isso fazer um todo mais coeso. Comum não no sentido de todos pensarem de forma igual, mas de sermos mais fortes justamente porque respeitamos e valorizamos as diferenças individuais.
Era um conceito tão Lennonista (John Lennon), que parecia tão utópico e no entanto, eu estava a assistir a toda aquela transformação. Ao vivo e a cores. Que privilégio poder ter assistido a tudo isto se tornar realidade, à queda do muro de Berlim, ao fim da guerra fria.
Então e agora acaba tudo assim?
Com a onda de terrorismo com que a Europa tem vindo a ser assolada, esta era a hora de nos unirmos mais do que nunca, de enfrentarmos isto de mãos dadas, todos com o mesmo objectivo.
Então, mas nas horas difíceis é que saltamos com o rabo fora? Agora que tanto precisamos uns dos outros é que nos lembrámos de ser nacionalistas? De fechar fronteiras aos refugiados? Vamos lutar por este casamento ou vamos pular fora à primeira dificuldade? Agora é cada um por si e o salve-se quem puder?
Chega a roçar a cobardia, pá!
É assustador...e o meu medo é que se espalhe. Portugal, nisto, parece estar em contra-ciclo, e ainda bem. Mas é impossível fechar os olhos ao populismo, ao ódio gratuito, que parece surgir sempre em tempos de dificuldade só porque alguns idiotas se aproveitam da ignorância e do medo para subir ao poder. Informação e consciência precisam-se, urgentemente...
ResponderEliminarJiji