Sem dúvida, o acto é condenável e um crime horrendo. Sim, também eu estou solidária com o Charlie Hebdo. Por isso, espanta-me que haja tanto apelo à tolerância no que diz respeito à liberdade de expressão quando na internet, nomeadamente no facebook, existe tanto ódio, tanta crítica, tanta falta de respeito, tanta incompreensão com certas brincadeiras que ocorrem em blogs carregadinhos de ironia (e da boa), ou até páginas de comediantes conhecidos da nossa praça.
É frequente encontrar comentários violentos e ofensivos, totalmente intolerantes com esta ou aquela simples brincadeira. "A ironia foi longe demais", defendem alguns! "Com esses temas não se brinca", dizem outros! "vai pro cara....", dizem outros ainda! "Devias morrer, seu palhaço".
Qual o limite? Qual a fronteira entre a brincadeira e a ofensa? Entre a liberdade de expressão e a violência? A quem compete delinear essa fronteira?
O limite, a meu ver, está dentro de cada um de nós no momento em que enfiamos a carapuça, no momento em que permitimos que a "brincadeira" do outro nos atinja.
Felizmente que ainda não se mata ninguém via facebook, caso contrário já estaria meio-mundo morto.
Num piscar de olhos são todos Charlie, quando há apenas alguns segundos atrás alguns eram "terroristas" na página de alguém que simplesmente exercia o seu direito à liberdade de expressão.
"Fanático" é um adjectivo que infelizmente extravasa os meandros da religião, e que não a define apenas a ela.